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Escapei naquela tarde logo após a aula, depois de um convite irrecusável do meu amigo professor. Ao lado dele eu me sentia segura e confiante para sair. Nós fomos no carro de até o centro de São Francisco, em uma avenida bem movimentada e arborizada, cheia de quiosques, casais, e crianças com seus patins. Quando paramos em uma das confeitarias mais chamativas, ele me sugeriu um café, e como não seria mal, aceitei. Bebemos e continuamos o nosso passeio pela calçada, simplesmente admirando as lojas para deixar o tempo passar. Foi revigorante fazer aquele programa e tonificar o meu espirito, lembrando-me de como era bom respirar um ar além dos muros da mansão.

Theo foi fisgado pela imagem de filhotes fofos, exibidos por trás do vidro transparente. Ele me mostrava os gatinhos na vitrine, sorridente, manifestando a sua paixão por felinos com informações curiosas sobre eles. Eu preferia cães, mas não dispensava os gatos, pelo menos quando eu tinha a sorte de me deparar com algum que fosse dócil.

- Veja este Dulce, ele está olhando para você!

Atenta, busquei o animal que ele apontava e vi que era um gatinho preto, de olhos castanhos. O filhote estava apoiado no vidro, quase de pé, tentando me tocar ao mesmo tempo em que brincava com seu próprio reflexo. Dando um sorriso bem aberto, agarrei no braço de Theo e dei alguns saltos, entusiasmada.

- É verdade! Ele é tão fofo, Theo... - Murmurei, maravilhada com a pureza daquele bichinho - Preciso leva-lo para casa!

- Sua maluca, como vai cuidar dele?

- Ora, não deve ser tão difícil assim.

- Deve pedir para o Wayne antes.

- Argh! Que irritante! porque está pondo tanta dificuldade?

- Dulce, não é dificuldade, você apenas não pode levar um animal para a casa dele sem avisa-lo com antecedência.

Ele tinha razão, Wayne gostava de ser informado sobre tudo, e estar a par de todos os meus movimentos. Mas eu já estava agindo contra a sua vontade desde que aceitei sair com Theo da mansão, então, um ato a mais não faria tanta diferença.

- E se ele não estiver aqui quando eu voltar?

- Seria muito bom se houvessem tantas pessoas dispostas a adotar animais - explicou um pouco decepcionado - Acho que ele vai estar sim.

- Vou confiar em você professorzinho.

Ele riu do codinome. Theo, todo moleque, me apanhou debaixo dos seus braços e começou a fazer um cafuné, bagunçando os meus cabelos, enquanto soltava gargalhadas. Como ele era maior do que eu - não que isso fosse tão incomum - foi simples me azucrinar com aquele tipo de brincadeira.

Eu gritei em gozação pedindo que me soltasse, rindo junto, e ele continuou me ignorando, seguindo com a sua brincadeira. Ambos riamos muito, sem dar tanta importância para os admiradores em nossa volta.

Até que, de um modo repentino, o corpo dele foi violentamente afastado de mim. Assim que ergui a vista, espantada pela abordagem, compreendi que Christopher foi quem havia empurrado Theo pelo tórax, jogando-o para a rua. Ele olhou de volta para Wayne, sem compreender o porquê do comportamento agressivo.

Em volta, o som dos passos acelerados das pessoas, que antes trafegavam tranquilas, foi interrompido assim que se deram conta do alvoroço que ocorria. O aglomerado que se formou me sufocou. Dois dos seguranças de Wayne se posicionaram ligeiramente ordenando que os curiosos se apartassem.

Achando tudo aquilo inaceitável, desci da calçada e fui para cima de Wayne, lhe dando um tapa nas costas.

- O que pensa que está fazendo?!

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