As horas ainda eram tediosas naquela casa, e já fazia aproximadamente sete dias que não via o senhor Wayne perambular pelos cantos, mesmo que de forma rápida como de costume. Ele decidiu e decretou que faria suas refeições isolado, pelo menos foi o que subi pelas cozinheiras.
Eu também não queria correr o risco de vê-lo, optando também em comer reservada, apenas no meu quarto.Algumas vezes a única coisa que me distraía era fugir até o jardim, ou apenas ler.
Naquele momento em meu quarto, recostada na cabeceira com os pés cruzados, eu lia um livro de poesias, quando a maçaneta da porta foi forçada e os gritos do mordomo soaram meu nome.
Levantei rapidamente, assustada, e abri a porta. O homem entrou depressa, voltando a fechá-la por trás de si.
— O que aconteceu?
— Me desculpe, mas eu precisava lhe chamar a sós — disse olhando para os lados como se procurasse alguém.
— Não há ninguém além de mim aqui.
— Eu sei disso. Só que é bom checar — e num tom baixo, sussurrando, ele completou: — As paredes desta casa sempre tiveram ouvidos.
Alfredo jamais agiria daquela forma tão deselegante e eufórica por acaso.
— Se não falar de uma vez eu vou surtar Alfredo.
— Ah, Claro, perdão senhorita. O motivo pelo qual vim... — revirando os olhos andei para perto da minha cama e ele me seguiu — É sobre o patrão.
— E onde me encaixo nisso?
— Ele está doente, acho que com febre. Na verdade muita febre.
Mesmo com um aperto desconhecido no peito, virei de costas e cruzei os braços, nem que fosse apenas para segurar o nó estranho que se montou na minha garganta.
— Devia chamar um médico. Eu não tenho nada a ver com isso — respondi dando de ombros.
— Já fiz isso senhorita, mas ... — depois de uma curta pausa ele continuou — Ele chamou seu nome algumas vezes, delirando, desesperado.
Meus braços se apertavam mais forte, conforme ele falava, tanto que senti minha pele roxear.
— Deve ter ouvido mal. Eu sou a última pessoa que ele chamaria...
— Não ouvi mal — interrompeu.
— O que quer que eu faça?
— Não precisa fingir nada, apenas vá vê-lo, e depois decida se vai ficar ou ir. Pelo menos até o médico chegar.
Com uma dureza fingida, descruzei os braços e me dei por vencida.
Os seguranças nos olharam repreensivos quando saímos, mas Alfredo esclareceu que Christopher mandou me chamar. Convencidos, eles abriram caminho e nós dois andamos em direção ao quarto dele.Eu não entendia o porquê de toda a descrição do mordomo, já que uma hora, querendo ou não, o médico ia chegar e todos o veriam notando que algo estava errado. Mesmo assim não perguntei nada.
Quando chegamos frente ao quarto eu paralisei. As ordens de Christopher ainda me intimidavam. Da última vez que fui ali ele praticamente me pôs para fora e a sensação de que aquilo era proibido me impediam de seguir. Aquele lugar tinha energias das quais eu não sabia lidar.
Alfredo percebeu a minha recusa, e para facilitar o acesso, ele mesmo abriu a porta e me mandou seguir.
Dei alguns passos para dentro, ainda temendo que ele me notasse, quando de repente a porta se fechou, e pelo susto, dei um pequeno salto olhando para trás. Alfredo não entrou comigo. Na verdade eu não queria que ele entrasse mesmo. Gostava da ideia de ficar sozinha com ele, mesmo que fosse de uma forma inconsciente.
De preferência assim.
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Sold
Fanfiction*Fanfic Vondy A fatalidade une o destino de Dulce Escobar, uma garota de apenas dezessete anos, ao de Christopher Wayne, um homem bem mais velho e misterioso que divide opiniões. Para Dulce a vida não é feita de coincidências, e ela tem mais certeza...