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— Olha só você! — Gritante, meus olhos andaram até a porta de entrada da cozinha dando de encontro com Samantha.

Voltei a morder o meu sanduíche de peru, tirando o olhar. Sério que eu ia receber a visita dela justo hoje?

A morena sentou-se ao meu lado no balcão, e fez uma cara ruim ao visualizar de perto o que eu comia.

— Isso engorda Dulce. Porque não come algo mais saudável?

— Peru é saudável.

— Não! Muito sódio, e além disso, ainda tem o pão!

— Veja como isso é bom Samantha... — Caçoei mordendo devagar e mastigando como se o dia nunca fosse acabar.

Ela revirou os olhos e pediu uma salada de alface com morango para uma das cozinheiras.

— Não sabia que gostava de comer aqui... na cozinha — Repudiou.

— É um bom lugar. As comidas, a água, tudo sempre em mãos. Ao meu alcance.

— Por esse lado você está certa, mas esse cheiro de gordura gruda tanto nos cabelos que, por Deus, é um crime até mesmo para... — Ela se silenciou por um segundo, me fitando e arqueando a sobrancelha com um riso provocante — Não acredito, Ninfeta! Vocês dois...

Eu tapei a boca dela com uma das mãos, e em reposta ela riu sem parar. Uma das cozinheiras fofoqueiras já estava com o olhar entrelaçado a nós duas, mas quando eu a encarei ela voltou a cortar a alface, fingindo estar fazendo apenas isso o tempo todo.

— O que pensa? Olha onde estamos?! — Sussurrei discreta liberando-a da minha represália — Aqui não é lugar para as suas brincadeiras.

— Até parece que esses urubus não sabem de tudo o que acontece nessa casa.

Ela respeitou meu tom de voz baixo, fazendo o mesmo para responder.

— Seu rosto, ele está diferente. Me lembra a minha primeira vez.

— Não sei do que está falando.

— Ah! Dulce, não humilhe a minha inteligência europeia. Agora eu sei porque ele está feito um garoto pedido naquele escritório.

Depois dos carinhos na banheira, Wayne precisou se trancar no escritório para resolver alguns problemas do trabalho.
Parece que mesmo que o chefe tenha se dado folga, os funcionários não lhe cediam isso.
Ele passou tanto tempo trancado, que eu acreditei que tinha ido fisicamente para a empresa.

— Você é sempre um amor — Soei irônica.

— Hmm, gosto de ver a sua maturidade brotando. Isso me orgulha.

Quando finalmente a mulher deixou o prato recheado de folhas para ela comer, Samantha fez uma curta prova, aprovando o preparo com mais uma garfada.

— Nos deixe sozinhas seu urubu.

Eu a olhei abismada com a falta de gentileza dela, mas a morena nem sequer me deu atenção. A empregada saiu rápido, sem olhar os lados.

— Eu fico feliz de ver o quanto amadureceu durante esse tempo aqui. Precisa mesmo ser forte, decidida. Ser realmente essa mulher que tenta aparentar.

— Não aparento, eu sou.

— Não, você não é.

— Quem você acha que é para ter tanta certeza do que eu sinto? — Rebati — Uma bruxa? Ou melhor, algum tipo de espirita?

— Sou uma mulher que simplesmente sabe das coisas, principalmente sobre seu passado amaldiçoado.

Minha boca secou quando ouvi Samantha falar sem nem um desconforto. Ela continuou sua alimentação, fatiando os morangos, até notar que meu semblante ainda estava extasiado desde a sua última afirmativa. Ela conteve o garfo próximo da boca, e revirou os olhos mais uma vez, engolindo e soltando o objeto de prata sobre um dos guardanapos brancos a mesa.

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