Toda a atmosfera estava escura. Eu caminhava por uma rua deserta, tentando encontrar alguém que me guiasse até algum lugar. Mas ninguém surgiu ali. Continuei com passos cuidadosos, olhando ao meu redor qualquer sinal que fosse. Arrisquei chamar:
" Mãe? - Berrei - Pai? " Mas era impossível eles aparecerem. Pelo menos até a luz de um poste público se acender no meio do nada e me levar a segui-la.
Quanto mais me aproximava, mais a luz encandecia e mostrava o carro de cabeça para baixo. Havia sangue, muito sangue no chão, escorrendo de dentro do veículo amassado. Me ajoelhei perante ele assim o que reconheci.
Era como se fosse naquele exato momento. Lembrei instantaneamente da alegria no rosto do meu pai quando estacionou na frente de casa, buzinando para chamar nossa atenção. Eu e minha mãe saímos de dentro da cozinha, eufóricas e assustadas, até vermos ele baixar o vidro, sorridente.
Aquele carro foi uma espécie de desejo realizado. Não aguentávamos mais andar naquele Cadillac eldorado, e embora ele fosse bem estiloso, estava velho demais.
Ainda de joelhos, me observei desacordada no banco detrás, sozinha. Busquei por meus pais, percebendo que eles estavam do outro lado. Mas especificamente do lado de fora. Levantei e fui até os dois. Andei mais um pouco e quando fiquei perante a imagem deles coberta de sangue, machucados, dilacerados, meu coração saltou. Chorei trêmula, tentando tocá-los de alguma forma, porém seus corpos começaram a queimar, aumentando as chamas e me obrigando a dar passos para trás. Eu gritei muito, várias vezes, pedindo que aquilo parasse, suplicando por ajuda.
De modo repentino a escuridão retornou e os meus olhos se abriram...
~~~
Sobressaltei, banhada de suor.
Tive consciência de que os meus gritos não foram apenas no pesadelo, mas sim, suficientemente audíveis. Meu choro insistente perdurou fora da ilusão, e se tornou real. Solucei desesperada, sem cessar. Eu tinha medo, e só piorou quando olhei em volta e não reconheci nada ali. Era um lugar espaçoso, e eu estava deitada sobre uma cama longe das minhas expectativas. Não havia ninguém além de mim, até a maçaneta da porta girar, se abrir e alguém surgir lá.
Ele era estranho e parecia assustado. E o pior, me conhecia...
- Dulce, está se sentindo bem? Eu a ouvi gritar.
O analisei mesmo estando em choque. Tentei me recordar de qualquer coisa, mas tudo parecia confuso. Eu compreendia que aquele rosto era familiar, mas não tinha certeza de que forma. O Homem continuou insistindo em saber do meu estado físico e emocional, e eu continuei em silêncio. Com medo do que aquilo tudo representava. Agarrei a cabeça com as duas mãos, reclamando do quando a dor nela era intensa. Ele se moveu até mim, e como defesa recuei. Não o queria perto. Era um desconhecido.
Visivelmente ele se atordoou, e me encarou profundamente, buscando alguma reposta.
Encolhi os ombros e sequei as lágrimas, olhando apenas para os meus pés.
- Onde eu estou? - Perguntei por fim, com a fala insegura. Trepidante.
- Como assim onde? - A surpresa não foi diferente do que deduzi. Desde que entrou ele parecia me conhecer - Estamos em casa.
- Essa não é a minha casa - Debati - Eu não moro aqui!
- Dulce, porque está falando assim?
Ergui a vista, chorosa, mais confusa do que antes. Tentei forçar a lembrança, mas nada me fez recordar daquele rosto.
- Quem é você?! Como sabe meu nome? O que está acontecendo?!
Interroguei inquieta, segurando outra vez a minha cabeça que não parava de latejar.
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Sold
Fanfiction*Fanfic Vondy A fatalidade une o destino de Dulce Escobar, uma garota de apenas dezessete anos, ao de Christopher Wayne, um homem bem mais velho e misterioso que divide opiniões. Para Dulce a vida não é feita de coincidências, e ela tem mais certeza...