7 anos antes...TRANSTORNO DE PERSONALIDADE limítrofe ou borderline, como quisesse chamar.
Foi isso o que o médico disse a minha mãe. Não entendi muito bem aquelas palavras, mas mamãe parecia chocada. Colocou a mão na boca e me olhou com os olhos arregalados.
Como se eu fosse um monstro. Como se... Bem, eu não sabia mais interpretar aquele olhar.
Eu fiz algo errado, mamãe? Fiquei com vontade de perguntar a ela, mas não o fiz. Não na frente do médico. O que será que fiz de tão grave desta vez? Não tinha certeza, eu não conseguia entender como a mente dos adultos trabalhava.
Somente lembrava de levar uma faca para o colégio e esfaquear o garoto que me chamara de covarde e bateu em meu irmão mais novo. Foi uma vontade incontrolável — não consegui parar até enterrar a faca em sua barriga. Então, já era tarde demais.
Não podia voltar atrás. Verdade seja dita, acho que nem queria mesmo.
Lá no fundo, sentia uma dor no peito. Não sabia dizer o que era, talvez fosse pelas expressões dos meus pais. Eles não sabiam o que fazer comigo, tardiamente, notei que estavam com medo de mim.
Nós saímos dali em um silêncio pesado.
Quando entramos no carro, papai, Gabriel e Sirius — meu irmão mais novo e o mais velho, respectivamente — já estavam nos esperando.
— E então? — Papai arqueou as sobrancelhas para ela. — O que foi? O que ele tem?
O que. Ele tem. Como se eu não estivesse sentado atrás dele. Sirius engoliu em seco, e olhou através da janela para a rua. Ele não conseguia nem me encarar. Deveria estar com nojo também.
— Em casa conversamos — ela respondeu.
Foi só isso. Meu pai aceitou a breve recusa em explicar o que eu tinha na frente dos meus irmãos.
Me mantive quieto, contorcendo as mãos em cima das pernas e mordendo o lábio inferior com força.
Decidi que faria uma busca na internet para ver o que aquelas palavras significavam. O carro acelerou pelas ruas de Jacksonville e quando já estávamos na estrada, me permite fechar os olhos e encostar a cabeça no banco.
Talvez eles fossem me mandar para longe. Essa suposição passou por minha cabeça, tão rápido quanto um raio. Será que eu teria que fazer um tratamento longo em acompanhamento com os homens de "jaleco branco"? Será que abririam e estudariam o meu cérebro?
Assistir filmes de terror à noite estava dando muita margem de imaginação.
Acho que Sirius estava pronto para falar algo, como sempre fazia para levantar minha autoestima. Ele deveria ter se recuperado do susto. Não queria ouvi-lo. Não queria escutar as palavras Vai ficar tudo bem, maninho novamente.
Porque não iria.
Abri os olhos, virei o rosto para o lado e escutei o começo de sua frase.
— En...
A palavra ficou grudada em sua garganta.
Senti um solavanco, minha cabeça foi projetada para frente quando finalmente entendi o que tinha acontecido. Ou estava acontecendo, naquele momento. O carro capotou e vidro cortava minhas mãos, o sangue inundava minha vista.
Vermelho.
Pungente. Acre.
O pânico fez minha visão embaçar, ou foi a minha cabeça batendo no banco com força? O carro parou de rodar. O som do metal em contato com asfalto arrepiou todos os meus sentidos.
Tossi sangue, sentindo a língua arder.
— Mamãe? Papai? — Esperei por uma resposta. Nada veio. — Gabriel? Sirius?
O que? Meus pensamentos estavam confusos. O sangue pinicava meus ouvidos e era difícil escutar algo além de meus batimentos frenéticos e assustados.
Somente quem respondeu minha pergunta medrosa foi Gabriel.
— L-Lorenzo? V-você está b-bem? O q-que houve?
Nós vamos morrer. Isso é o que houve. Mas é claro que não poderia responder isso a ele. Eu não era um monstro, como pensavam. Não para a minha família.
— Sim, vai ficar tudo bem, irmão — falei, quase desmaiando. — Tudo bem.
Mas não ia. Porque quando os passeantes resolveram começar a nos ajudar e ligar para a emergência, eu já tinha dado conta do que havia acontecido. Só podia ser Deus me castigando.
Meus pais e Sirius, eles... morreram.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Fire | Vol. I
RomanceLivro 1. Série Dark Souls. Kananda Wright sempre foi atraída pelos bad boys, aqueles que fumavam e possuíam tatuagens espalhadas pelo corpo. Ou talvez, que só se vestissem de preto. Não importava, ela adorava observar os homens. Mesmo que a sua vida...