QUARENTA E TRÊS | *DEATH*

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OH, NÃO

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OH, NÃO. NÃO, não e não... O que Aaron tinha na cabeça? O que aquele desgraçado tinha feito? A confusão aumentou depois do corpo de Gabriel cair na lona. Sem se mexer, o sangue jorrando de seu peito magro. Kananda estava berrando.

Ah, droga.

Eu ainda mataria aquele verme.

O plano inicial de Sadrack era que me aproximasse de Gabriel naquela noite e ficasse com ele, para desestabilizar Lorenzo. Porque Kananda estava fora de questão. Eu não tive nenhuma objeção, afinal, Gabriel era... estava morto, meu subconsciente avisou.

Tirei a arma da cintura e observei a multidão brigando com facas e canivetes, agora que a confusão entre nossos clubes oficializou. Um revólver dentro daquele cardume faria muito mais estrago do que o corpo estirado dentro do ringue.

Vi um vulto de cabelos acobreados passar por mim depressa. Kananda. Eu tinha que protegê-la, afinal, Lorenzo já tinha ido em direção ao irmão e ele era o único que poderia oferecer amparo dentro daquela matança em seu clube.

Mas antes que desse sequer um passo, mãos agarraram meus braços com violência. Estava pronto para dar um tiro na cara do desgraçado, quando me dei conta de que era meu pai.

Eu poderia matá-lo. Ninguém notaria, naquela confusão. Era a minha chance.

Mas não estava pensando direito. Não com Kananda em perigo.

— Você precisa ir atrás de Aaron... ele sumiu — Sadrack gritou para ser ouvido.

Sério?

— Para quê? — Rangi os dentes quando minhas costas foram atingidas por um cotovelo aleatório. — Para meter uma bala na testa dele? Porque é o que vou fazer, Sadrack.

Ele estreitou os olhos.

Cheguei mais perto dele, com a cabeça fervendo de ódio e com a respiração alterada. Que Sadrack me matasse ali, então, porque não serviria mais aos seus propósitos podres. Estava cansado de ser sempre associado ao seu cachorrinho.

Chega. E o último ato de Aaron ultrapassou meus limites.

Agora, nossos clubes seriam rivais até os fins dos dias. Sairíamos sempre com os olhos grudados nas costas, para o caso de alguém estar nos perseguindo.

E que minha irmã me perdoasse, mas a minha última ação seria salvar Kananda.

— Foi Aaron quem começou essa bagunça — olhei dentro de seus olhos verdes, manchados de loucura. — Vá atrás dele você mesmo e o leve para o inferno, Sadrack. Onde é o lugar de vocês dois.

Ele se irritou, cerrou os punhos, mas o soco que estava esperando não chegou. Sadrack simplesmente fechou os olhos e comprimiu os lábios. O cheiro de sangue, os gritos, os tapas e chutes enchiam o ar abafado além dos corpos mortos.

O que Aaron tinha feito? Imbecil.

De todos os filhos de Sadrack, aquele era o que tinha a mente mais fraca.

— Ele vai atrás dela, Scott. — Murmurou tão baixo que tive de me aproximar para escutá-lo. — Ele vai matá-la.

Essa frase foi o suficiente para eu começar a empurrar as pessoas da minha frente, com raiva. A música tinha parado há muito tempo, enquanto as imagens de Kananda, Gabriel e Aaron no ringue, minutos antes, se infiltravam dentro de mim.

Quase caí em cima de um cadáver. Chutei outro sem querer. E escapei por pouco de uma facada aleatória até chegar a um lugar seguro.

Queria que Lorenzo tivesse agido, não Gabriel. Ele morto, seria melhor do que o mais novo. Queria mesmo... é que Kananda nem estivesse aqui, para começo de conversa. Pelo menos, agora estaria ocupado metendo balas aleatórias nas cabeças de meus familiares.

Mas, não.

Eu estava caçando Aaron para salvar Kananda.

Cheguei a uma área parcialmente livre de palavrões e mãos pesadas. Meu corpo já estava dolorido, mas estreitei a testa, procurando por ela. Se Aaron chegasse antes de mim... Jurei que me vingaria.

O mais lentamente possível.

Coloquei o revólver ao lado da coxa e andei lentamente pelo corredor vazio. Maldita hora em que não investiguei a planta desse clube. Agora não sabia nada, nem onde ir, nem onde procurar. Cocei os olhos com força, me sentindo estranho.

Minha cabeça latejava. As luzes das salas estavam apagadas, subi algumas escadas. Sim, o escritório. Lembrei para onde Lorenzo tinha levado Sadrack e Aaron aquele dia.

No mesmo dia em que me reconciliei com Kananda.

Ela não estava em lugar nenhum. Será que, talvez, no banheiro? Mas... ele era lá atrás. Muito perto da multidão. Ou existia outro? Eu sabia que ela estaria mal e em estado de choque, mas esperava fielmente que seu subconsciente a levasse para um lugar seguro.

Bem mais seguro do que um banheiro.

Abri todas as três portas naquele andar de cima. O escritório, uma sala vazia e outro banheiro. Entrei e procurei por ela ali. Nada também. Droga. Onde aquela garota tinha ido parar? Virou fumaça e desapareceu? Fechei a última porta e me virei para voltar.

Parei no ato.

Aaron estava apontando aquele revólver para o meu coração.

— Oi — falei.

Ele sorriu.

— Não está com medo, irmãozinho?

Não. Eu não estava.

Fui criado por Sadrack para não temer nada e nem ninguém, apenas ele. O medo das situações que não o envolviam, não fazia parte da minha vida, nunca fez. Seus chicotes e quartos do silêncio eram mais assustadores que um idiota apontando uma arma para mim.

— Não vai responder?

— A bebida se infiltrou em seu cérebro de barata, Aaron? — Provoquei. — Vamos, atire. Me mate e conte a Sadrack. Ele ficará orgulhoso de sua atitude.

Ele sorriu. Sua mão tremia tanto, que era mais fácil acertar a parede atrás de mim. Mas não fiz nenhum movimento com a arma, simplesmente fiquei encarando-o.

Desculpe, Cris. Desculpe, Kananda.

Desculpe, Gabriel.

Aaron balançou a cabeça.

— Ele quer que você lidere o Ruthless, dá para acreditar? Logo você! Um estúpido.

Não, não dá.

Quase ri de sua insinuação. Sadrack me dando o posto de líder? E Aaron? Eu era um bastardo, um nada naquele clube, estava agora com a vida nas mãos do meu meio-irmão. Mas que interessante fim.

Mas não morreria sem lutar.

Ah, não.

Levantei a arma e atirei, Aaron fez o mesmo. Ele não acertou a parede. Inconvenientemente, Aaron me acertou.

Ambos caímos para trás, a dor queimando meu abdômen como lava escorrendo por minha pele. Não acredito que vou sofrer antes de morrer. Ninguém merece. Fechei os olhos, esperando a acolhedora escuridão me tragar para os seus braços frios.

Mamãe? Eu estou indo.

Fire | Vol. IOnde histórias criam vida. Descubra agora