OITO | *DISGUST*

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PERMANECI ESTÁTICO POR alguns segundos depois do ataque, então, pisquei rapidamente

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PERMANECI ESTÁTICO POR alguns segundos depois do ataque, então, pisquei rapidamente.

— Luna.

— Sim — seu rosto estava vermelho. Repentinamente, ela parecia um dragão. — Emma me disse que você pediu serviço de quarto para a sua irmã! E com certeza essa preocupação não foi comigo! E você nem tem uma irmã!

Minha nossa.

— Quem... você pensa que é para entrar em meu apartamento desse jeito, exigindo respostas, Luna?

Ela obviamente não ouviu o tom de advertência em minha voz.

— Eu sou sua namorada, Lorenzo. E exijo respeito enquanto estamos juntos!

Namorada? Esperei que seu acesso de raiva terminasse, cruzando os braços e olhando para o chão. E enquanto fazia isso, improvisei alguns cálculos rápidos.

— An, espere — falei e franzi o cenho. Ela respirou fundo e arqueou uma sobrancelha. — Lembro bem do nosso acordo e vou refrescar sua memória. Eu não disse que não queria ser cobrado e que ficaríamos somente uma semana?

Foi como estourar a sua bolha de realidade. Luna se deu conta do que estava fazendo, mas tarde demais. Os olhos transbordaram de lágrimas, e seu rosto se converteu em uma careta de súplica surpreendentemente realista.

— Enzo, não. Eu posso explicar.

— Não há nada para ser explicado. Eu avisei.

Ela balançou a cabeça, se aproximando de mim com as mãos erguidas em súplica.

— Não pode fazer isso comigo!

Essa era a pior parte de ser um cafajeste. Lidar com a rejeição nunca era fácil. Dei de ombros.

— A semana terminou e você me cobrou sobre algo, Luna. Acabou tudo. Tchau.

Abri a porta. E fiquei esperando que Luna se desse conta de que não precisava se humilhar. Nós tínhamos um acordo. Sem lágrimas quando tudo finalizasse. Sem reclamações.

Por que todas tinham o sonho de me mudar? De fazer de mim um capacho? Será que não conseguiam enxergar que eu era do mundo e nada e nem ninguém poderia me tirar dele?

— Lorenzo, por favor! — Choramingou.

Fiz que não.

— Erga a cabeça e vá encontrar outro que te dê mais atenção e carinho, Luna. Você merece.

Ela era uma megera. Ela não merecia. Mas seria melhor para nós dois, quando saísse do meu apartamento.

Finalmente, ao ver que as lágrimas não surtiram o efeito desejado, Luna esfregou e apagou a trilha com os dedos, fungou e passou por mim rapidamente.

Fechei a porta antes que pensasse em voltar. E tranquei-a, por via das dúvidas.

Quando fiquei de costas para a madeira, dei de cara com Kananda e arregalei os olhos.

— Você acordou — ponderei, como se não fosse óbvio o bastante, ela estar parada em minha frente.

Kananda alisou à frente do vestido imundo e abaixou a cabeça.

— Eu... eu... você viu?

— Depende do quê, Kananda. — Não consegui segurar minha voz rouca pela raiva.

Não era dela, nem de Luna, era daquele moleque nojento que tentou molestá-la. Mas, provavelmente Kananda confundiu meus sentimentos opressores, porque se encolheu e desviou os olhos.

— Ele quase me estuprou — sussurrou.

Eu sei e vou matá-lo quando encontrá-lo novamente. Mas não falei isso em voz alta.

— Foi eu que o impedi, na verdade — disse, sentindo o gosto de fracasso na língua. — E foi por minha culpa que você foi para a rua. Eu... devo desculpas a você.

Uau. Eu consegui fazer aquela frase soar como uma acusação. Que. Ótimo!

Kananda ergueu as sobrancelhas.

— Foi uma série de fatores que me fez ir para a rua.

— Mas grande parte da culpa foi minha — retruquei, soando um pouco mais calmo.

Kananda pensou, contorcendo os dedos na frente do peito.

— Foi mesmo. Você me chamou de prostituta e góticazinha — ergueu os olhos para mim, me desafiando a negar o fato. — Não gostei do que disse.

Para uma mulher pequena, ela era brava quando queria. Inclinei o pescoço para o lado, estudando sua expressão raivosa.

— Já pedi desculpas, Kananda. Eu agi errado. Eu faço isso na maioria das vezes.

Sendo realista, sempre ajo errado mesmo. Ela enrugou a testa e cruzou os braços na frente do corpo. Quem diria, fiquei desconfortável com sua análise.

— Quer comer? — Falei a primeira coisa que veio em minha mente.

Ela relaxou um pouco.

— Quero.

Me dirigi a cozinha. Kananda veio atrás.

Fiz dois sanduíches para nós e abri as duas latas de refrigerante que tinha na geladeira, colocando-as sobre o balcão e sentando em seguida. Kananda sentou em minha frente e começou a mastigar freneticamente, observando a comida como se fosse a coisa mais linda que existia na terra.

Fiquei tentado a dizer Calma, o sanduíche não vai desaparecer do seu prato, querida. Mas optei pelo lado mais sensitivo que, contrariando minhas expectativas, ainda existia em mim.

— Você está bem, Kananda? — Apresentei o assunto de volta.

Seu rosto corou violentamente, mas ela continuou comendo. Eu poderia ter ficado calado, mas não consegui.

— Você parece bem. Mas imagino que provavelmente não esteja. Acho que pode ajudar se abrir com alguém. Com um psicólogo, talvez? Melhor do que guardar tudo para si.

Incrível. Deveria ter sido o único conselho que dei em toda a minha vida, que poderia ser considerado aproveitável.

Kananda soltou o sanduíche no prato e brincou com algumas migalhas do pão, espalhadas pela mesa.

— Eu não sou normal, você logo vai perceber. Estou... me sentindo bem.

A primeira parte da frase, eu sabia que estava certa. Mas a segunda, não me enganou nem de longe.

— Sério? — Indaguei, levantando minha cabeça para fitá-la com intensidade.

Me diga que vai procurar ajuda. Que não vai ficar igual a mim. Que não vai se tornar uma pessoa ainda mais fechada do que já é, por causa daquele desgraçado.

Ela assentiu e desviou os olhos.

— Sim.

Ah, Kananda.

Eu sabia que essa era somente uma atuação e que ela não estava bem e quase não conseguia se segurar para sair de perto de mim. O medo em seu corpo e a tensão eram visíveis.

E, pela primeira vez na vida, estava preocupado com uma mulher. Preocupado com alguém que não fazia parte da minha família.

Senhor, onde estou me metendo?

Uma mulher que entrou no meu caminho torto, nojento e totalmente errado. Somente por causa de um suco. Uma mulher que não fazia ideia que estava propenso a ir até o fim da linha para matar o cara que a tinha feito tão mal.

Fire | Vol. IOnde histórias criam vida. Descubra agora