E EU AQUI pensando que nada mais poderia completar a minha desastrosa noite.
Exceto — claro —, o ilustre Lorenzo Willer.
Me senti deslocada e magoada quando Lorenzo começou a rir descontroladamente, como se eu tivesse dito algo engraçado — enxugando as lágrimas que ameaçavam descer por seus olhos verdes. Acho que estão verdes agora.
Qual era a dos olhos que mudavam de cor? Por que hora, eram azuis e hora, verdes?
Ele está rindo de mim. Lorenzo me trouxe para cá, cuidou de mim e agora está rindo? Que tipo de monstro ele é?
Senti meu queixo tremer de vergonha.
— Qual é a graça? — Cerrei os punhos, começando a me sentir ainda mais idiota.
De novo.
— Não, é que... uma anã gótica e gordinha como você... querendo lutar? Por favor, isso é ridículo! — Ele respirou fundo, mas quando olhou para o meu rosto novamente, rompeu em outra gargalhada.
Qual é? Custei a acreditar que àquilo saiu de sua boca. Ainda mais, depois do que conversamos. Do que ele fez. E de como me salvou de ser estuprada.
Aquelas palavras machucaram. Muito. Eu odiava servir de piada para alguém e naquela noite, não era exceção. Meu peso sempre foi motivo de chacota quando minha avó olhava para as moças esbeltas nas ruas e depois me avaliava de cima à abaixo.
"Olhe só para elas e você. Quer ficar parecendo uma baleia para sempre? Continua comendo desse jeito, que conseguirá".
Nunca escondi o quanto era traumatizada. O quanto sempre esperava que Sara fizesse algum comentário do tipo. Não era por querer. Era de sua natureza.
Mas não significava que não machucava.
Falando nisso, como ela estava? Será que, ao menos, se preocupara com minha ausência? Provável. Sara tinha seus defeitos, mas sempre ficava afligida quando eu saía de casa. Ela tinha medo de eu fugir com alguém como minha mãe fizera e lhe deixar sozinha.
Bem, as suas palavras eram tão duras que, às vezes, realmente dava vontade de fugir.
Lorenzo parou de rir no momento em que uma lágrima despencou dos meus olhos.
Legal, agora começaria a chorar na frente de um babaca assassino.
Balancei a cabeça descontente e desci do banco, indo em direção ao quarto que saíra. Precisava ir embora daqui. Sair da casa dele. E permanecer longe da presença dele, de preferência.
Lorenzo me seguiu, perguntando o que eu estava fazendo, mas só me dignei a lhe mostrar o dedo do meio.
— Ah, qual é? — Refletiu, indignado. — É engraçada a ideia.
— Por que não foi você que quase foi estuprada! — Gritei. E que não é gorda!
A frase saiu antes do meu cérebro protestar.
Eu não queria ficar me fazendo de vítima. Mas foi sem intenção que falara àquelas palavras. Um reflexo da angústia que me dominava. Engoli em seco quando o quarto foi tomado por um silêncio incômodo. Evitei olhar diretamente para ele.
Por que toquei no assunto novamente?
— Eu não tinha pensado por esse ponto. Me desculpe, Kananda — falou, pigarreando desconfortável. — Tudo bem, se é tão importante para você. Mas quero que saiba duas regras estritas do Perverse. Duas regras que não podem ser quebradas.
Justo eu. Que era a "Quebradora de Regras" estrita e veterana. Me concentrei no fato de que ele me ensinaria a lutar — e não sobre o que achava do meu corpo e dos meus gostos. Assim, não dependeria de ninguém para me defender.
Ninguém mais mexeria comigo como aquele merda fizera. E ainda tinha conseguido entrar para um clube de lutas ilegais... Não sabia se ficava ou se fugia. Se ria ou se chorava. Estava me jogando diretamente para o perigo e nem me importei.
Esse pensamento fazia com que a frustração e a vergonha dessem lugar a justiça.
— Pode dizer — confirmei.
Ele suspirou.
— Primeiro. Nós não somos cavalheiros. Lá, andamos armados e qualquer um pode se matar. Então, permaneça perto de mim em qualquer circunstância, entendeu? — Deus do céu. Ele esperou até que eu assentisse, para continuar. — Segundo. Nunca me chame de Lorenzo, e sim, de Death ou Enzo lá dentro.
Hm.
A menção a qualquer um se matar me deu um pouco de apreensão e um calafrio na espinha, admito. Mas cerrei a mandíbula e disse a mim mesma que corria este perigo sempre que saía à noite para quebrar as coisas ou pichar alguns muros.
Era bem provável que conseguisse burlar essas duas regras, embora a segunda fosse mais complicada. Death era um apelido que se adequava a Lorenzo, era como se seu físico e olhar dissessem exatamente isso.
"Perigo. Morte". Não se aproxime, ou faça isso por sua conta e risco.
Um aviso explícito que eu estava ignorando. Fique longe. Enquanto isso, fazia justamente o contrário.
— Tudo bem — concordei.
Ele olhou a hora no relógio de pulso.
— Pode tomar banho, se quiser. E pode usar minhas roupas. Tente dormir um pouco, amanhã você nem precisa ir para a aula.
A menção do banho, quase salivei. Precisava me purificar, tirar o cheiro daquele homem de mim e vestir uma roupa limpa e cheirosa parecia a solução dos problemas, agora.
— Pior que preciso ir para a aula — massageei o pescoço e mordi os lábios, sentindo a tensão do dia e da noite se instalar como se tivesse sido chamada. Lembrei de mais uma prova que não tinha nem tocado no assunto e muito menos estudado. — Tenho prova de Citologia.
Que vou tirar mais uma nota baixa. Lorenzo deu de ombros (é claro que ele não se importava sobre o que era a disciplina) e apontou a cama.
— Pode ficar com ela, dou um jeito de dormir em algum lugar por aí.
Fofo, o pensamento correu solto por minha mente.
Fiquei sem jeito com sua delicadeza em relação a mim — completamente diferente de alguns segundos antes. Desviei os olhos, dando um sorriso discreto e que fez minha bochecha doer. Ele estralou os dedos das mãos e fungou.
— Obrigada — finalmente consegui agradecer.
— Não se preocupe, tenho roupas femininas aqui e amanhã você poderá usar uma delas.
Ah. Mais uma coisa que não lembrei.
Lorenzo retirou do guarda-roupa uma muda de roupa preta e a estendeu em cima da cama. Ele apontou com a cabeça para elas, ao seu endireitar.
— Caso você queira trocar de roupa ou tomar banho. As toalhas ficam embaixo da pia e há sabonetes também, ao lado delas.
Assenti com a cabeça e ele me deixou naquele quarto vazio e escuro.
Me arrastei até as roupas, pegando-as e carregando-as para o banheiro e para o meu banho que se estenderia pelos próximos trinta minutos.
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Fire | Vol. I
RomanceLivro 1. Série Dark Souls. Kananda Wright sempre foi atraída pelos bad boys, aqueles que fumavam e possuíam tatuagens espalhadas pelo corpo. Ou talvez, que só se vestissem de preto. Não importava, ela adorava observar os homens. Mesmo que a sua vida...