NOVE | * DEPRESSION *

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BEM, SEMPRE PENSEI que nada em minha vida poderia piorar

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BEM, SEMPRE PENSEI que nada em minha vida poderia piorar. Hm. Que doce ilusão. A partir do momento em que fiquei viva quando aquele cara tentou me violentar, eu sabia que nunca poderia esquecer o ocorrido e estava sozinha para suportar tudo.

Meu mundo ruía lentamente.

Eu me sentia um completo lixo. Eu sabia que a culpa não era minha, mas não podia evitar. Os "se" acumulavam-se em minha cabeça. Se eu não tivesse saído de casa. Se não tivesse beijado Gabriel, mesmo não o conhecendo. Se não tivesse dado ouvidos à provocação de Lorenzo.

Se não tivesse ido para a rua.

Ah, se pudesse voltar no passado... Eu sabia que nem sairia de casa. Mas agora que estava ali, no apartamento dele, ainda com aquele vestido colado ao corpo, notei que precisava engolir aquela questão e fingir que estava tudo bem. Ao menos, em sua frente.

Eu aprendi com a vida que os problemas tendiam a ser enterrados em minha mente — essa era a minha rota de fuga.

Mas a minha cabeça parecia prestes a explodir.

O pior de tudo mesmo, para a minha consciência e lembrança, foi Lorenzo ter visto a situação crítica. Ele me defendeu, ele impediu que o pior acontecesse comigo.

Eu acordei com ele brigando com a aquela garota.

Ele terminou com ela por mim? Não. Com certeza, não. Lorenzo era o tipo arrogante que terminava com uma e já tinha outra na cama. Ele podia fazer isso. Tinha pose e pelo que pude perceber, status, para tratar qualquer uma como minhoca.

Não tinha nada a ver com a garota que ele encontrara no chão, quase sendo estuprada.

Fechei os olhos com força, quando os flashes daquele animal em cima de mim, vieram novamente e implodiram atrás das minhas pálpebras. Não havia como apertar um botão para que elas parassem de aparecer.

As imagens e sons vinham sem permissão.

— Algum problema? — Indagou, levantando e recolhendo nossos pratos.

Se há algum problema? Ele estava brincando, certo? Ele tinha mesmo acreditado que eu estava bem? Talvez Lorenzo não se importasse o suficiente para ir mais fundo.

E eu quero isso? É claro que não. Eu não queria que ninguém sentisse pena de mim. Era um caminho sem volta.

Observei suas costas nuas. Na verdade, somente naquele instante notei que estava sem camisa.

Nossa. A pele era totalmente tatuada com uma caveira maligna e interessante e saindo daquele desenho, várias linhas pretas se condensavam ao redor.

Desviei os olhos do corpo escultural. Ao mesmo tempo que o achava bonito, também tinha vontade de me enrolar no lençol de sua cama e pedir para nunca mais me chamar ou sequer falar comigo.

Eu não tinha mais vontade nenhuma de viver.

E isso me assustava, porque estava me aproximando perigosamente de um penhasco. A queda seria dolorosa, mais dolorosa do que qualquer coisa que já enfrentei depois que minha mãe me abandonou.

Eu precisava de ajuda. Agora.

Demorei alguns segundos para notar que ele estava me olhando.

— Quê? — Virei a cabeça de um lado para outro.

Ele franziu as sobrancelhas escuras. Ao contrário do irmão, Lorenzo não tinha nenhuma tatuagem no rosto — os intrincados desenhos terminavam em sua mandíbula.

— Esqueça, está com fome ainda?

— Sim — a resposta saiu antes de perceber.

Lorenzo sorriu e soltou o ar pelo nariz. Não é à toa que estou desse tamanho, refleti mal-humorada. Baixei os olhos para as "dobrinhas" em minha barriga ao lembrar disso.

Ele deixou um pedaço grande de torta que parecia ser de chocolate na minha frente, no exato instante em que bateram na porta. Não deu tempo de agradecer.

Ah, não. Não conseguia acreditar que era aquela garota inconveniente de novo. Quase me preparei para ir para o quarto — segurei o prato e a colher antes, claro. Não estava com vontade de vê-la tendo um ataque de ciúmes em minha frente.

E ela nem precisava se preocupar. Isso que era engraçado e frustrante ao mesmo tempo. Lorenzo nunca olharia para mim como encararia outra mulher mais magra e com pele bronzeada. Tinha que me lembrar constantemente de como ele me viu.

Lorenzo não estava com pressa, entretanto. A campainha soou.

— Refrigerante?

Acenei com a cabeça.

— Por favor.

Ele abriu a geladeira novamente, no mesmo instante em que refaziam as batidas na porta. Com mais força. Com um suspiro de irritação, soltou a lata na minha frente e partiu para atender a porta. Quando ele a abriu, a mulher sorriu.

Ainda bem que ela não tinha me notado. E não era a tal de Luna.

— Oi — falou, quase se jogando em cima dele. — Trouxe o que pediu.

O que ele pediu? Levei os olhos até um carrinho de ferro atrás dela. Ele puxou-o sem cerimônia.

— Tchau, Emma.

Lorenzo fechou a porta na sua cara. Como esse homem é educado. Quando me olhou novamente, estava com uma expressão confusa.

— Isso é para você — deu um passo para o lado, revelando as bandejas de comida.

Ele pensava que eu conseguiria comer tudo aquilo? Fiquei sem reação.

— Imaginei que estaria com fome — esclareceu.

— Obrigada — murmurei e praticamente engoli a torta, que era de amendoim com chocolate, em dois segundos. — Já estou satisfeita. Quem são os Perverse Killers? — Lembrei do isqueiro que ele me emprestara e resolvi tirar sua atenção do meu prato.

Lorenzo desviou os olhos para o sofá.

Esse era um assunto sério, pelo jeito.

— Um clube de lutas ilegal. O meu clube. Sou — hesitou — conhecido como Death no ringue.

Um clube de lutas ilegal. Death. Death.

Senhor amado.

— Morte? Mas por q... — parei no meio da frase ao entender, finalmente, a referência.

Assenti rapidamente com a cabeça, sentindo minhas bochechas queimarem. Tudo bem. Eu estava na casa de um assassino, dono de um clube ilegal, mas que tinha possivelmente me salvado.

Lembrei instantaneamente de Gabriel. Ele fazia o mesmo estilo, tanto nas tatuagens como no jeito selvagem de olhar as pessoas, que Lorenzo. Será que os dois eram uma dupla de irmãos assassinos?

Deus, credo!

Mas então... Em meio as confusões mentais, tive uma luz. Em meio as trevas de meus pensamentos, vi uma saída. Ainda não sabia se estava fazendo o certo. Provavelmente não. Ou se confiar nele era uma boa escolha. Com toda certeza, não.

Vamos lá.

Por que não?

— E se... — levantei a cabeça bruscamente, assustando-o. — Você me ensinasse a lutar? 

Fire | Vol. IOnde histórias criam vida. Descubra agora