TRINTA E SEIS | *FUCK*

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ABRI A PORTA de nosso apartamento e com a graça de Deus, Gabriel realmente não estava em casa

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ABRI A PORTA de nosso apartamento e com a graça de Deus, Gabriel realmente não estava em casa. Kananda entrou receosa, olhando de um lado para outro.

Desde quando você acredita em Deus, Lorenzo? — Ashur perguntou.

Não respondi.

Desde o acidente em que meus pais e meu irmão mais velho morreram, minha fé se perdeu. Não que eu tenha sido devoto alguma vez na vida. Apenas parei de frequentar a igreja que íamos aos domingos. Além de parar de rezar a noite também.

A vida que escolhi... não havia espaço para fé nela. Se meus pais pudessem me ver, duvido que estariam felizes com o rumo que tomei, com o destino de mortes e dor que escolhi. Duvido que estariam sorrindo ao me ver do paraíso.

Balancei meu pescoço, indo para a cozinha e pegando uma garrafa de vinho tinto do armário.

Era difícil tomar vinho, mas hoje era uma ocasião diferente. Afinal, eu e Sadrack não nos matamos em meu escritório, eu não dei um tiro em Aaron ou Scott. E o melhor de tudo, Kananda estava aqui. Ela me desculpou pela palhaçada que deixei Ashur e meu temperamento fazerem.

Sentei, colocando na mesa a garrafa, com as duas taças e olhei para ela, ainda de pé. Apertando as mãos umas nas outras, enquanto a alça da mochila escorregava lentamente pelo ombro. Era perceptível que estava nervosa. E eu não a culpava.

Baixei os olhos para o tampo da mesa. Decidi que, daquela vez, tentaria não ser grosso e ríspido.

— Está fazendo o que aí? — Ergui uma sobrancelha. — Vai sentar ou ficar de pé a noite toda?

Tudo bem, então. Eu tentaria não ser tão grosso e ríspido.

Kananda deixou a mochila encostada do sofá e sentou na minha frente. Ela não disse uma palavra. Pensei em colocar uma música para disfarçar o silêncio estranho que tomou meu apartamento, mas pensei melhor. Era mais fácil puxar assunto.

Servi o vinho em grande quantidade para nós dois. Quando ela pegou a taça, observei o modo como o fazia. Sem prática alguma, com toda a palma circundando-a. Como se tivesse medo que o vidro caísse e se espatifasse no chão.

Nossos olhares se encontraram e ela corou, com vergonha.

— Não se preocupe. — Imitei seu gesto, sorrindo. Era esquisito, não sei como Kananda conseguia. — Eu também fazia isso quando criança. Quer dizer... ainda faço.

Precisava citar dessa maneira? Será que mesmo tentando ser descente, eu não conseguiria? Nenhum comentário saía da forma que queria, ou era arrogante ou idiota. Kananda mordeu o lábio e depois de um tempo, pareceu tomar uma decisão.

— Enzo — sussurrou, e aquela voz... cerrei os dentes para não pular em cima da mesa e lhe beijar. — É... eu, hm... an... Eu...

— Você vai dizer hoje ou amanhã? — Me esforcei para não rir de sua expressão embasbacada.

Fire | Vol. IOnde histórias criam vida. Descubra agora