ONZE | * WISH *

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QUE ÓTIMA IDEIA conceder sua cama a uma estranha, Lorenzo, parabéns! Bufei irritado, olhando para o teto

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QUE ÓTIMA IDEIA conceder sua cama a uma estranha, Lorenzo, parabéns! Bufei irritado, olhando para o teto. Quase caí no chão duas vezes, ao me virar de um lado para o outro no sofá, sem sono, e a dor nas costas começou a incomodar.

Chega.

Pé ante pé, fui em direção ao quarto de Gabriel. Mesmo não gostando de dividir nossos pertences, ele teria que aturar. Uma noite no sofá era pior do que apanhar no ringue até cair desacordado — porque lá, ao menos, a tortura era eficaz e rápida.

Lembrando dele — que belo e preocupado irmão eu era —, peguei o celular, que abençoadamente estava com os dados móveis ligados e procurei pelo contato de Gabriel.

Ignorei as vinte mensagens de Luna.

Onde você está dormindo? — Mandei.

Preocupação, irmão? Oh, que novidade. — Veio a resposta debochada, depois de dois minutos.

Mesmo sendo meia-noite, ele estava acordado. Rolei os olhos e balancei a cabeça, ficando em silêncio para não acordá-la. Levantei os olhos da tela do celular, confuso, quando me dei conta de que mal estava respirando, somente para não despertá-la.

Franzi o cenho ao perceber isso.

Sério, Gabriel. Diga onde está. — Digitei.

A resposta veio rapidamente, desta vez.

Estou no Perverse. Não se preocupe, Enzo.

Respirei mais aliviado e bloqueei a tela, deixando o celular em cima da cama. Agora, eu precisava ver como a garota estava. Entrei em meu quarto o mais sutil que pude e percebi que Kananda não estava dormindo pesadamente, mas tinha se enrolado no cobertor branco.

Os cabelos acobreados formando uma segunda fronha. Linda e serena. Era assim que ela se parecia, me fitando com os olhos arregalados em meio a penumbra.

Tive que lembrar seriamente que ela não significava nada para mim. Era somente uma garota estranha. Uma garota que entrou em minha vida de forma repentina. Nada. Ela não podia ser nada em minha vida podre, sórdida e anormal.

Ossos do ofício.

— Você está melhor? — Perguntei.

Kananda abaixou o queixo, de forma quase imperceptível.

— Vou ficar — sussurrou o mais baixo possível. — Boa noite, Death.

Sorri sem mostrar os dentes. Boa noite, Wildcat.

E somente então, me permiti deitar na cama de Gabriel e dormir.

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Acordei com o despertador azucrinando meus ouvidos. Levantei bocejando e espremendo os olhos para a claridade no quarto de Gabriel. Fui até o meu quarto e somente , notei que Kananda não estava mais na cama. Parei bruscamente, procurando-a pelos cantos.

Ela não estava em lugar algum.

O que aconteceu?

Sem querer, fiquei preocupado.

E se ela se matou? Um arrepiou desceu por minha espinha, até os dedos dos pés. Não. Ela não podia ter se mat...

— Está tudo bem? Parece assustado.

Virei para a porta, onde Kananda estava apoiada, comendo outro pedaço da torta da noite anterior.

Eu? Assustado? Claro, e por que não?

Ela já tinha tomado banho e lavado os cabelos. Kananda estava com uma calça jeans, de uma das garotas que já tinha dormido em minha casa — estranhei entrar em seus quadris largos, nunca tinha dormido com um manequim maior que quarenta —, e com a minha camiseta do The Rolling Stones.

Arquei as sobrancelhas, mas Kananda pareceu não ter notado que o gesto era dirigido a ela.

— Claro — respondi, me espreguiçando, tentando parecer normal. — Estou bem.

Evitei perguntar novamente como se sentia. Se ela quisesse conversar com alguém, provavelmente a pessoa certa a ouvi-la não seria eu. Por que eu só servia para arranjar problemas, e não resolvê-los.

Indiquei o guarda-roupa com um dedo.

— Apenas... vou tomar um banho e depois nós vamos, okay?

Ela deu de ombros casualmente e saiu da porta.

¥

Deixei minha caminhonete no estacionamento entre os nossos blocos e nós dois descemos.

Ela deu as costas para mim e começou a andar, sem se despedir. Por que fiquei tão incomodado? Não sei.

— Garota? — Chamei.

— Kananda — corrigiu.

Ela se virou, ajeitando a bolsa nos ombros e piscando repetidas vezes. Antes de virmos para a universidade, Kananda me fez dar a volta por toda a cidade e parar em sua casa, para pegar aquela bolsa ridícula. E eu, idiota, segui sua ordem.

Uma coleira em meu pescoço seria menos humilhante.

Ela continuou me fitando, com aqueles olhos enormes e enganosamente meigos fixados nos meus.

— Em que horário iremos treinar? — Perguntei.

Ela mordeu o lábio, um gesto que fez minha respiração oscilar. Cuidado. Minha mente estava avisando. Ficar muito tempo perto dela pode ser fatal. E cá estava eu, a poucos centímetros de Kananda. Observando cada mínimo detalhe seu.

Ela havia esquecido do pedido e eu o recordei.

Ótimo, Lorenzo, muito bom. Parabéns para a sua incrível inteligência e fraco por mulheres ruivas e selvagens que derramam suco em você.

Ela cruzou os dedos na frente do peito.

— Eu...

— Aqui — tirei uma caneta da minha mochila e escrevi meu número em sua mão, não deixando de notar sua respiração em meu pescoço. Fechei os olhos brevemente, apreciando aquele reles contato. — Me mande uma mensagem quando souber.

Não me despedi.

Mas a cada passo, sentia sua atenção em minhas costas e meus dedos pinicando — onde nossas mãos se encostaram.

Fire | Vol. IOnde histórias criam vida. Descubra agora