SETE | *HELP*

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PENSEI EM IR ao hospital, de verdade

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PENSEI EM IR ao hospital, de verdade. Mas não tive coragem. Fui um covarde.

Estacionei o carro na garagem do meu prédio. Rezava para não encontrar ninguém pelos corredores, embora fosse 20:00h — ali era sempre lotado.

Batuquei os dedos no volante, olhando seu corpo desacordado. Ainda era difícil acreditar no que estava acontecendo. O que eu faço? Resolvi optar pela praticidade. Saí do carro e abri a porta de trás.

Peguei-a nos braços, com trabalho e tentando não bater sua cabeça na lataria. Ela gemeu de dor quando fechei a porta com a cintura, mas não acordou.

Suspeitei que estivesse dormindo e tendo um pesadelo com os últimos momentos de sua memória. Vamos Lorenzo, força. Por mais que Kananda tivesse um corpo curvilíneo, ela era pesada. Olhei ao redor e decidi ir pelas escadas. Ou seja, reduziria drasticamente as chances de encontrarmos bisbilhoteiros.

— Lorenzo — Kananda chamou.

Paralisei no lugar e olhei seu rosto manchado de maquiagem.

— Sim?

Mas ela não respondeu, apenas continuou murmurando coisas ilegíveis e virando a cabeça de um lado a outro. Seu nariz gelado fazia cócegas em meu peito. Enquanto subia as escadas, fiquei me perguntando duas coisas: por que ela me chamara e se conseguiria carregá-la até o quinto andar.

Jesus, Kananda era mesmo pesada.

Felizmente, depois de muito sacrifício e paradas para recuperar o fôlego, consegui chegar a porta do meu apartamento, e por incrível que pareça, ninguém viu e me perturbou. Bem, tentei de tudo para não aparecer na câmera, mas era complicado.

Com sorte, eles não conseguiriam ver o estado do seu corpo. Sorte. Quase ri do meu pensamento.

Remexi a mandíbula, lembrando de seu tapa, que por sinal ainda estava doendo.

— Eu nem deveria te ajudar, sabia? — Resmunguei.

Mas imediatamente me arrependi das palavras. Kananda possuía algo de errado que me atraía, eu tinha esse conhecimento. Mas não significava que merecesse ser violentada.

Ninguém merecia sofrer essa humilhação e violência. Até os meus lutadores sabiam disso e respeitavam minha decisão. Nunca tome nada a força ou eu o mato. Não era hora para lembrar que Kananda estava na presença de um bandido.

Essa noite, eu só queria ajudá-la. Olha a ironia.

Acho que passei cinco minutos tentando abrir a porta com seu corpo desacordado piorando a situação. Mas enfim consegui.

Depois de fechar a porta e trancá-la — caso um Gabriel bêbado resolvesse fazer uma visita —, coloquei-a em cima da minha cama e avaliei seu estado. Era péssimo.

Pensei em dar um banho em Kananda, mas com a situação que passou, duvido que quereria encontrar um homem lavando-a quando abrisse os olhos. Ele a dopou. Praga nojenta.

Deixei Kananda deitada, tapei seu corpo com um lençol e fui para a cozinha, em direção ao telefone. Liguei para a recepção e fui atendido após segundos.

— Pois não, Emma falando?

Eu já tinha pegado essa garota.

— Oi — falei um pouco sem jeito e enrolei um mecha dos meus cabelos nos dedos —, minha... irmã está desesperada e não posso sair do lado dela. Tem como alguém trazer um serviço de quarto completo agora?

Me senti vitorioso por pensar em algo tão banal para dizer em um momento desses.

Houve um minuto de silêncio constrangedor.

— Claro. Vai demorar um pouco, por que nossos funcionários estão muito atarefados. É... em que quarto, senhor?

— Sou eu, Lorenzo.

Isso pareceu ativar sua memória, que pediu desculpas e disse que logo estaria ali.

Voltei para o quarto. Ela ainda estava com as pálpebras cerradas, os olhos pararam de se remexer.

— E em pensar que tudo começou com um suco, não é?

Ela continuou em silêncio.

— Sabe... seu nome nem é tão ridículo assim, como pensava antes, okay? É... até bonitinho.

Kananda respirou fundo, e meu coração pulou descontrolado. Mas foi um alarme falso, pois ela não abriu os olhos. Kananda parecia um anjo maltratado. Eu poderia tê-la deixado no sofá ou mesmo no quarto do meu irmão, mas não parecia certo.

Ela merecia cuidado e respeito. Mas olhe aí a ironia mais uma vez. Quem era eu para oferecer "cuidado" e "respeito" a uma desconhecida, sendo um assassino em meu clube e possivelmente fora dele, também?

Seu celular vibrou e só assim notei que estava no vestido. No meio dos seios. Ah, que provação. Com todo cuidado, puxei a ponta do celular, sem encostar em sua pele. Desbloqueei a tela, que por sorte do destino, não tinha nenhuma senha.

Era a mensagem de sua avó.

Onde você está?

Ah. Que ótimo. Por que eu não pensei que ela pudesse ter um parente esperando em casa? Bem, agora não podia fazer mais nada até que acordasse. Ainda bem que a velha não tinha ligado, se não seria um problema bem maior. Respondi por Kananda.

Desculpe, vovó, vou dormir na casa de... — Como era o nome daquele amiga mesmo? Aquela que disse meu nome perto do banheiro? Não consegui lembrar, mas terminei a mensagem. ... uma amiga.

Desliguei o celular antes que ela insistisse e ouvi batidas na porta. Deveria ser Emma. Mas até que tinha sido rápido, pensei que demoraria mais. No entanto, quando abri a porta, não foi ela quem eu vi, e sim, minha "paquera" da semana, Luna.

Impressionante. As surpresas nunca acabariam essa noite? Quem mais apareceria em minha porta?

Luna entrou em meu apartamento como um furacão, sem nem mesmo receber um convite.

— Onde ela está? — Gritou, jogando o cabeloloiro por cima do ombro. — Onde aquela vadiaestá, Lorenzo?  

Fire | Vol. IOnde histórias criam vida. Descubra agora