PELA PRIMEIRA VEZ em muitos anos, deixei que meus pensamentos vagassem para o passado conturbado que tivemos — quando ainda éramos uma família feliz. Quando meus pais ainda estavam vivos e Sirius me ensinava a pegar garotas.
Ou tentava. Porque eu tinha apenas doze quando as dicas de romance começaram.
Sirius — o filho primogênito — que nunca parou de sorrir. Acho que até cagando, o infeliz sorria. Era a arma letal contra as garotas. Isso e os olhos tão azuis que mudavam para verdes de acordo com o dia. Nossa marca registrada, mamãe dizia.
Os olhos azuis, que em alguns dias ficavam verdes ou regressavam ao cobalto.
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— Você ao menos pode me dizer como conseguiu fazer Patrícia ficar com você? — Eu ri.
Sirius e Lorenzo me olharam de forma diferente.
— Bom. — Sirius deitou na cama. — Eu cheguei nela, observei que estava lendo e disse que também gostava de ler.
— Mas você nunca pegou um livro na mão, Sirius — Lorenzo jogou uma almofada nele.
Ele pegou-a antes que chegasse em seu rosto, e jogou-a com a mesma força, atingindo meu irmão do meio no peito. Observei a cena com um sorriso, movendo os olhos de um para outro. Adorava as interações dos dois, eles pareciam ter uma ligação que eu não compreendia.
Sirius sempre defendeu Lorenzo. Sempre.
E... Lorenzo me defendia.
Até mesmo quando puxei o cabelo da garotinha que estudava em minha sala, quando ela disse que Lorenzo era doente. Meu irmão não era doente. E quando souberam, meus pais queriam me dar uma surra, mas ele se colocou na minha frente e informou que faria muito pior a garota se algo acontecesse comigo.
Isso pareceu acalmar os nervos de nossos pais. De um jeito muito estranho.
— Simples, molenga — Sirius retrucou —, procurei histórias de muitos livros e iniciei um assunto aleatório de alguns personagens. Assim, no final do dia, nós ficamos juntos.
Eu queria ser como ele. Alto, esguio, inteligente e protetor. Sirius tinha somente uma tatuagem, na nuca, escondida de nossos pais pelos cabelos crescidos. Um arco, com uma flecha preparada.
Jurei, naquele instante, que seria igual ao meu irmão.
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Procurei por minha própria tatuagem na nuca. Um arco e flecha. Que fiz em homenagem a Sirius, quando atingi idade para saber o que queria colocar permanentemente em meu corpo. As lembranças andavam desbotadas, mas ainda lembro de sua voz.
E as vozes de nossos pais.
— Triste? — Lorenzo parou ao meu lado e olhou ao redor.
Motoqueiros e roqueiros com coletes de couro polvilhavam nossa visão. As armas em suas cinturas também eram um convite tentador para sair correndo. Pelo menos, para mim. Dei de ombros casualmente e estampei a melhor expressão vazia.
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Fire | Vol. I
RomantizmLivro 1. Série Dark Souls. Kananda Wright sempre foi atraída pelos bad boys, aqueles que fumavam e possuíam tatuagens espalhadas pelo corpo. Ou talvez, que só se vestissem de preto. Não importava, ela adorava observar os homens. Mesmo que a sua vida...