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Agarro a maçaneta e aperto-a lentamente. Uma prece para que não fizesse muito ruído como nos filmes de terror saiu-me da boca. Suspiro aliviada com o silêncio da porta ao abrir. Olho para a esquerda e vejo apenas a porta do escritório fechada com um fino feixe de luz por baixo. Caminho lentamente e encosto-me à porta. Conseguia escutar a voz dele e respirei mais uma vez aliviada. Foi ai que me apercebi.

- Por que estou a fazer isto com tanto cuidado? Até parece que estou a fugir. - Endireitei-me e desci as escadas até à entrada. - Não preciso de fazer pouco barulho ou algo do género. Afinal, só estamos cá nós os dois para além do resto do pessoal.

Sai da mansão e dei a volta pelo jardim. Olhei de um lado para o outro em busca de sinais dos dois brincalhões que tinha visto a brincarem no jardim pela janela. Estava com tanta inveja deles, da sua liberdade, que vim à procura deles. Que infantil da minha parte. Uma jovem adulta com inveja de um miúdo com metade da minha idade... Ao ponto que cheguei.

- Kouki! - Escutei um grito ao longe.

Virei-me com curiosidade, mas sou rapidamente atirada ao chão. Num abrir e fechar de olhos vi um rapaz a uns metros de mim de relance e uma mancha castanha a correr em minha direção. Foi nesse instante que fui atirada ao chão. Sentia uma pressão incrível sobre o meu corpo e uma dor nas costas devido à queda. Esfreguei a cabeça que continuava a doer e tentei perceber o que se tinha passado. Não me surpreendi muito ao ver o cão em cima de mim com a língua de fora tão perto da minha cara. Sorri e esfreguei a sua cabeça.

- Andava à tua procura, mas estou a ver que foste tu que me encontras-te. - Ri enquanto ele abaixava a cabeça deixando-me esfregar melhor o seu pelo. 

- Kouki! - Desviei o olhar do cão e vi um rapaz por volta dos dez anos a correr em minha direção. - Quem és tu? - O seu olhar era demasiado superior para um miúdo. Ainda mais quando se dirige a alguém com o dobro da sua idade.

- Pergunto o mesmo, miúdo. - Ajeitei o uniforme amachucado com a queda e voltei-me para ele. - Quem é que tu pensas que és para falares assim com alguém mais velho que tu? - Ele dá uma gargalhada e olha-me de alto a baixo. - Mas que... Este miúdo bem que merecia uma melhor educação.

- Hmmm... - Observou-me bem acabando com o pouco de paciência que me restava. - Nunca te vi por aqui e ninguém me disse nada. Mas estás com o uniforme das empregadas. Não acredito que tenhas roubado isso...

Enquanto ele mandava os seus comentários contra mim, eu tentava aguentar a minha vontade de dar um murro numa criança. Segunda vez que tenho que me conter contra um miúdo mimado... Isto tudo e o cão está apenas sentado, a ver.

- Será que... Não... - Olhou melhor para mim, mas mal o vi demasiado focado noutro sítio, aí irritei-me a valer.

- Olha lá, miúdo. - Aproximei-me dele com cuidado para não lançar-lhe um soco naquela cabeça pervertida. - E que tal ires com o teu cãozinho para o infantário? Os teus pais devem estar preocupados. - Afastei-me dele e respirei fundo.

- Hey! - Continuo o meu caminho ignorando a mosca irritante. - Tsh. - Oiço uma gargalhada pouco depois. Volto-me para trás e ele estava com uma expressão já familiar. Um sorriso convencido e de vencedor. - Com que então haverá sempre alguém idiota o suficiente para cair nos seus feitiços. E tu sabes bem de quem estou a falar.

Como é que é possível? Um miúdo apenas. Um simples miúdo mimado conseguiu-me tirar do sério em menos de cinco minutos. Deve ser do ar que contamina todos os homens desta zona tornando-os nuns imbecis totais. Que desperdício de juventude... Mas devo ficar melhor depois de dar-lhe uma boa lição.

Fui ter com ele e, a um metro de mim, senti a vontade da minha mão de dar-lhe uma valente estalada, mas cai na realidade. Ele não passa de uma criança. Sim, é irritante e sim, é mimado, mas não me dá o direito de lhe bater. Não só não o conheço como a probabilidade de ser o filho de alguém importante é muito alta.

- Escuta, sim? És apenas uma criança que pouco sabe do pequeno mundo que a rodeia. Não tens qualquer autoridade para falares com alguém numa forma superior muito menos julgar pelas aparências. Por isso... Nem sequer te atrevas a falar mal de mim, miúdo. - Não pensei que ficasse tão alegre ao ver a cara irritada daquele rapaz. - Agora tenho que ir. - Dei uns passos atrás e, antes de ir para a mansão, disse-lhe apenas uma coisa. - Ah, e o meu nome é...

- Layla! - O meu coração dá um pulo desnecessário quando oiço aquela voz. Olho para cima e vejo aquele sorriso encantador como os olhos da Medusa. Coro de leve sem notar esquecendo-me de tudo o que estava a acontecer. - Pensei que estavas no quarto. Por que estás no jardim?

- Eu... Eu estava... - Olhei para o rapaz ao meu lado confuso, contudo, com um certo ar de que percebeu tudo.

- Oh, Terry. - O sorriso de Chris tinha mudado em instantes de Medusa para Afrodite. Ele estava a ver aquele miúdo mimado da mesma maneira que vê a sua irmã. E lá estava eu, egoísta, com inveja dele. - Não sabia que estavas cá. Entra e sobe até ao meu quarto. Precisamos de por a conversa em dia. E tu também, Layla. Preciso que venhas cá ter.  

- Sim, mestre. - Abaixei a cabeça.

- Sim, pai. - Disse amuado.

Olhamos um para o outro, ambos espantados. Cada um tinha a sua razão de espanto, mas tenho a certeza que ganhei. Eu estava mesmo cega. Loiro, olhos verdes, convencido, pervertido, e aquele sorriso... Não era igual ao de Chris, mas eram parecidos o suficiente. Eu devia ter percebido desde inicio, desde o momento que ele falou. 

- Nem acredito que ia dar uma estalada ao filho do meu mestre...

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Capítulo surpresa (mais ou menos). O próximo só mesmo em julho. Bye ;3

Criada de um MilionárioOnde histórias criam vida. Descubra agora