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Quando Pete volta para o quarto, ele surpreende-se ao ver o meu estado. Não tinha nenhum espelho que o provasse, mas sabia que a minha cara era uma mistura de raiva com dor. Afinal, sabia bem que o sorriso que dava era só de raiva. Conseguia sentir as lágrimas a escorrerem pelo meu rosto.

- Eu vou chamar os médicos. - Ele diz aflito.

- Não é nada desse género. - Ele olha para mim e aproxima-se. - São apenas problemas pessoais.

- Não os queres tornar menos privados?

- Nem por isso. - Sorrio sem conseguir parar as lágrimas. - Há de passar. - Digo sem vontade sequer de limpar os olhos.

- Lay... - Ele senta-se ao meu lado enquanto me vê naquele estado, sem poder fazer nada.

Passaram dois dias, os dias que Yuna me obrigou a tomar de descanso. Segundo ela, eu tinha muitas razões para acalmar os nervos e pensar sobre outros assuntos. Percebi logo que ela sabia o que aconteceu no barco e dentro do quarto do hospital.

De volta ao trabalho, quase que parecia ser o meu primeiro dia. Levando as últimas palavras de Chris a sério, quer dizer que eu vou obedecer às ordens de Yuna e ser-me-ão entregues novas divisórias. Pensei em ligar para falar sobre o assunto, mas já conseguia imaginar as dores de cabeça que aquilo podia provocar.

Entrei na mansão e Hannah é a primeira a cumprimentar-me com uma cara tristonha. Rachel apareceu logo de seguida com Sónia ao seu lado. As três rodearam-me e encheram-me de perguntas, sermões e desabafos; o costume depois de acontecer algo. Fomos para a sala de estar para conversarmos melhor.

- Vá, Layla. Conta-nos a verdade. Nada de mentiras e omitir informações. Somos tuas amigas, não somos? - Rachel pedinchava, como era costume de fazer.

- Claro que são. Apenas... achei que fosse melhor assim.

- E tu é que tomas essa decisão. É a tua vida afinal de contas. - Hannah comentou olhando Rachel de lado dirigindo-lhe a indireta.

- E o que sabem?

- Que o Peter, é na realidade o teu irmão e não marido. - Rachel comenta num tom desiludido. - Escuso de dizer a alegria da Jane ao descobrir.

- Bom, sim, nós somos irmãos. - Chamei a atenção das três. - Nós conhecemo-nos em miúdos, sem sabermos que eramos irmãos. Depois de o pai do Pete ter sido preso, a minha mãe acolheu-o como seu filho.

- E ela não vos disse nada sobre a vossa relação? - Rachel perguntou.

- Não sei por que não o fez. Nós nunca nos vimos como irmãos e, com o passar dos anos, a morar na mesma casa, acabámos por nos apaixonar. - Sónia tinha a cara de alguém a imaginar o cenário como uma das telenovelas que tanto gosta de ver.

- Mas a vossa relação não é romântica então algo aconteceu. - Hannah comentou.

- Foi com a morte do meu pai. Depois de uma situação, a nossa mãe contou-nos que o Pete era mesmo filho dela. Escusado é dizer como aceitámos aquela notícia. Mas nós sabíamos que ela ficava ainda pior se lhe contássemos os nossos sentimentos.

- Então esconderam a verdade? - Sorri triste com as memórias do passado a virem à minha cabeça.

- Foi difícil vê-lo como irmão e não como o homem por quem me apaixonei, o meu primeiro amor. Mas esforçámo-nos, e temos uma boa e forte relação de irmãos hoje em dia. Deve ser um pouco íntima para dois irmãos, mas a nós não nos faz confusão.

Rachel e Sónia entre olham-se, sem saber o que dizer. Já Hannah pensou no assunto e observou o estado das amigas. Olhou para mim e sorriu.

- Obrigada por nos contares. Deve ter sido difícil libertar isso. - Ela sorria deixando o ambiente mais calmo.

- Soube melhor desabafar com alguém. - Sorri até que a próxima pergunta chegou.

- Mas se vocês não estão casados, então de onde veio esse anel? - Sónia perguntou mais por curiosidade sem saber no que se estava a meter. Pensei por uns momentos se devia dizer a verdade ou arranjar outra mentira.

- Foi o Christopher. - Por momentos arrependi-me de o dizer ao ver as diferentes caras de surpresa e choque delas.

- Oh... Meu... Deus... A Jane estava certa, este tempo todo. - Se fosse noutra situação, eu ria com o comentário da Rachel.

- O que é estranho. Nem parece coisa dele dar um presente desse valor a uma criada recente. - Hannah pensava nas possíveis razões por detrás da existência daquele anel no meu dedo.

- Tens razão. A ti ofereceu um colar no teu primeiro ano, não foi, Hannah? E já trabalhas cá há quase dez anos.

- Sim, mas ele tinha acabado de fazer dezasseis. Já era um adulto e eu fui a primeira criada a durar tanto tempo. Foi mais um presente dos dois irmãos.

- O que só ajuda a minha teoria. - Rachel e Hannah continuavam a debater enquanto Sónia escutava atenta.

- Mas com o avançar dos anos, com o crescimento das suas empresas... Ao fim de quatro anos a trabalhar para eles, eles ofereceram prendas a todas as criadas no natal.

- Eu lembro-me disso. Era o meu primeiro natal cá e eles também me ofereceram prendas. - Rachel parecia cada vez mais convencida da sua teoria.

- Mas que importa porque razão ele deu-me o anel? Não é como se ele tivesse intenções românticas. - As três olham para mim. - Falei demais. - Parecia que elas iam chegar a esse tema de qualquer maneira, mas eu dei um bom empurram.

- Agora estou ainda mais interessada. - O sorriso de Rachel era assustadoramente malicioso. - Por que pensas que ele podia ver-te de uma forma romântica?

- Foi apenas uma prenda. Um homem costuma oferecer joias a mulheres. - Levanto-me com receio do rumo que a conversa estava a tomar. - Eu vou ter com Yuna. Preciso de falar com ela.

Saio da sala e posso ouvi-las a murmurar como se planeassem um golpe maléfico contra mim. Suspiro e ganho forças para continuar caminho. Subo as escadas e oiço a voz de Yuna. No topo das escadas, vejo-a a conversar com Chris. Coro ao lembrar-me de momentos passados.

Quando os dois reparam que eu estou ali, eles acabam a conversa e despedem-se. Chris avança em minha direção. Eu conseguia sentir o meu coração a acelerar e ele estava cada vez mais perto de mim. Ao vê-lo a passar por mim, sem parar ou abrandar o passo, sinto uma dor no peito.

- Nem sequer olhou para mim... Que idiota que fui de esperar alguma coisa. - Suspiro e fui ter com Yuna que observava a situação com uma cara de desiludida.

- Bom dia, Layla. - Entrámos no escritório e sentámo-nos no sofá. - Então, o meu irmão falou sobre o teu novo contrato?

- Vagamente. - Irrito-me ao lembrar-me daquela noite no hospital.

- Estou a ver. Bom, vais receber o mesmo que dantes. Passas a obedecer às minhas ordens apenas, foi uma condição dele. As tuas zonas trocaram com a Jane. Já falei com ela e agora tu passas a tratar do meu escritório e do meu quarto enquanto a Jane trata do escritório e quarto do meu irmão. - Ela inclinou de leve a cabeça e pousou a mão sobre a minha. - Queres falar?

- Por que motivo teríamos que falar? São só essas as regras, certo? - Ela confirma e eu levanto-me. - Então vou começar o meu trabalho.

- Layla. - Paro em frente à porta. - Ele é meu irmão, mas isso não nos impede de conversar-mos. - Ela levanta-se e vem ter comigo. - Ele contou-me o que aconteceu, como podes imaginar. Podes desabafar comigo que eu não lhe digo nada. Também não gosto desta decisão dele.

- Obrigada, Yuna. Mas é o melhor, como ele deve achar. - Sorri e sai do quarto.

- Estes dois dão-me cabo dos nervos... - Ela suspira enquanto me vê a descer as escadas. - Vai ser complicado alterar isto.

Criada de um MilionárioOnde histórias criam vida. Descubra agora