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Fomos para dentro e seguimos diretamente para o quarto. Pousámos as malas no chão e começámos a arrumar a roupa. Ficámos o tempo todo em silêncio e mesmo assim não foi desconfortável. Até que não me importei de ficarmos em silêncio. Depois das arrumações terminarem, era inevitável ficar mais tempo em silêncio.

- Layla, sabes onde está a Daphne?

- Ela está a morar num hotel temporariamente. Ela disse que tinha que partir numa viagem de trabalho daqui uns dias. Não sei quando, no entanto.

- Não faz mal. Apenas queria falar com ela. Deixa estar então. Logo lhe ligo.

Ele sorri e começa a despir-se. De tronco nu, ele olha para mim com um sorriso inocente como se nada de pervertido alguma vez passou naquela cabeça.

- Queres ver alguma coisa, Layla? – Com a cabeça na lua, voltei para a Terra e deparo-me com o tronco despido dele perto de mim.

- Desculpa, força do hábito. – Ri embaraçada e sai do quarto corada.

Encostei-me à parede e respirei fundo tentando acalmar os meus ânimos. Ficar tanto tempo sem ver aquela miragem realista faz mal ao meu coração. Suspiro e fico à espera ainda encostada à parede. Quando oiço a voz dele, a minha própria atitude me surpreendeu.

- Estou à espera do quê?! – Ao ver-me empolgada e ansiosa por voltar lá para dentro irritou-me demasiado. – Volta a ti, Layla. – Disse a mim mesma e sai à procura de uma tarefa para me distrair. Entretanto...

- "Hei, Layla. Alguma novidade que me queiras contar?" - Daphne atendeu o telefone descontraída no roupão do banho com o cabelo ainda molhado.

- Posso ir perguntar-lhe se tem alguma história nova. Queres? - Daphne quase que se engasgava.

- "Chris... Não estava à espera que me ligasses dai." - Ela sorri e encosta-se na parede da cama. - "Já de volta sem qualquer aviso?"

- É o normal. Não vejo razões para reclamarem tanto com algo que costumo fazer. Não vos entendo, mulheres. - Ela ri de leve.

- "Claro. E então, qual é o assunto de que precisas de falar comigo?"

- Era para confirmar a data da viagem. Sabes como levo essas coisas a sério.

- "Sim, umas férias muito sérias." - Ela ri. – "É essa a definição de férias, não é?"

- Não tenho um dicionário para confirmar.

- "Que pena..." - Ela bebe o resto da bebida que tinha no copo.

- A Layla disse-me que estás num hotel. Algum tratamento de classe que me aconselhes?

- "Hmm... Eles têm um bom spa. E os massagistas também são muito bons." - Um sorriso atrevido surge nos lábios de Daphne.

- Tem calma, leoa. Duvido que queiras uma relação com um homem que mexeu em tantas partes do corpo de tantas mulheres.

- "Um caso de uma noite não me soa mal." - Chris suspira. - "Tem calma, Chris. Estou só a brincar. Afinal, eu sou só tua." - O silêncio do outro lado da linha foi demasiado previsível para Daphne.

- Daphne...

- "Não." - Ela interrompe-o. - "Estava só a meter-me contigo." - Ela sorri meio que forçado. - "Sei como as coisas são. Não me precisas de dizer duas vezes."

O silêncio ocupou demasiado tempo aquela chamada. Tudo ficava ainda mais constrangedor e complicado de remediar. Daphne suspira e levanta-se.

- "Vejo-vos daqui a onze dias então." - E sem mais nem menos, a chamada terminou.

O tempo passou a voar depois da chegada de Chris. Odeio admitir, mas foi bom ter o Christopher de novo no dia a dia. Os dias eram divertidos à sua maneira, mas com ele por perto conseguiam ser divertidos e diferentes. Nem dávamos pelas horas a passarem.

- A Yuna pediu-me para dar-te estes papeis. - Pousei um monte de papeis em cima da secretária.

- Obrigada, Layla.

Já estou habituada a ver o sorriso brilhante combinado com os encantadores olhos verdes, mas fico sempre com o coração aos pulos quando o vejo.

- É o meu trabalho. - Sorri-o de leve e observo-o a trabalhar.

- Mais alguma coisa? - Ele estranha.

- Ah, desculpa. Estava só... a ver-te... a trabalhar... - Ri embaraçada. - Soa pior do que eu imaginava... - Ele ri.

- Não é assim tão mau.

- É pois... - O silêncio que se seguiu foi demasiado constrangedor para ficar ali. - Eu vou embora, então. - E saio com alguma pressa.

- Idiota... - Ele ri ainda a olhar para a porta até voltar a concentrar-se no trabalho.

De volta à sala, Rachel falava com Hannah enquanto a Vânia ficava entretida no seu telemóvel. Fui para ao pé delas e conversei um pouco com a Rachel e a Hannah até que as duas tiveram que retomar o trabalho. Olhei para o lado e a Vânia ainda estava na mesma posição.

- Não vais com elas?

- O meu trabalho está feito. Estou à espera que a Hannah acabe o dela para irmos tratar da sala. - Se não a conhecesse, o facto de ela ter respondido sem tirar os olhos do telemóvel irritava-me.

- É verdade. Numa conversa com a Jane, fiquei-me a perguntar. Vânia, tens namorado? – No mesmo instante ela tirou os olhos do ecrã e focou-se em mim com um olhar sério.

- Por quê amor? - Pensei um pouco antes de responder.

- Estava apenas curiosa. E sabes como a Jane é com o romance. – Rio embaraçada e com um certo medo dela. A Vânia não é propriamente conhecida por ser um livro aberto.

- O amor é a maior arma que temos. Os contos de fadas são apenas isso, contos que enchem as mentes de crianças com mentiras como amor eterno e puro, princesas e príncipes, cavaleiros andantes e o clássico "viveram felizes para sempre". A realidade é fria e cruel e por muito que o digam que o amor é uma chama eterna, o amor falso e interesseiro tem ainda mais poder. Por alguma razão mais de metade dos casamentos acabam em divórcio.

Depois de um sermão da irmã Vânia, quem era capaz de meter a colher e dizer alguma coisa sobre o assunto? Eu não me considero corajosa, mas também não considero a Vânia alguém de quem deva ter medo. Afinal, ela é minha amiga.

- Que pessimista, Vânia. Devias de ver isso com outro ponto de perspetiva. - Sorri e levantei-me ao ouvir a chamarem-me. – Tenho a certeza que amas muitas pessoas. - E saio deixando-a com os seus pensamentos.

- Uma coisa é o que a mente diz, outra é o que o coração canta. - Murmura para si mesma. Quando olha de novo para o ecrã, um raro sorriso quente cresce nos seus lábios. – Olá bebé. - Ela ri ao ouvir a voz da criança do outro lado da linha.

Nós todos que conhecíamos a Vânia, pouco sabíamos da vida dela. Se soubéssemos, ela provavelmente não estaria aqui connosco. Se soubéssemos que ela trabalha para sustentar a filha de poucos anos que tem em casa, no Brasil, com apenas os avós para tomarem conta dela, desde cedo que a teríamos levado de volta para os braços da filha, o doce fruto de um amor sujo.

Os dias passaram sem grandes complicações ou novidades. No entanto, naquela casa, uma novidade rapidamente aparece sem grande aviso. Neste caso, eu devia de ter sido avisada previamente do plano de que ai vinha. Mal sabia eu...

Criada de um MilionárioOnde histórias criam vida. Descubra agora