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Depois de uns longos minutos de silêncio, finalmente sinto a mão de Chris a mexer-se. Ele pega no seu telemóvel e atende a chamada. Ele troca umas quantas palavras, mas eu estava demasiado perdida em pensamentos para ouvir a conversa.

- Layla, vamos? - Ele estendeu-me a mão e eu acabei por aceitá-la. Ele responde-me com um leve sorriso.

Quando olhei para trás, fiquei surpreendida por ver tantas pessoas na proa. Acho que distrai-me demasiado com Chris que não me apercebi que o resto dos passageiros estavam a começar a ir para a proa. Depois de passarmos por uns corredores, subimos umas escadas. Chris abre uma porta com umas chaves que tinha no bolso e a intensa luz do sol deixa me cega por uns instantes.

- Tão lindo. - Comento ao ver o reflexo do sol no mar calmo.

- Estamos numa zona restrita. Poucos sabem da existência deste sítio, e menos têm a chave que abre a porta. - Ele agita as chaves que usou no ar. - Pensei que gostasses deste sítio.

- Obrigada. - Empoleiro-me contra o corrimão para ver melhor. Assusto-me ao sentir o tronco de Chris contra as minhas costas e as suas mãos sobre as minhas. - Chris?

Olho para cima e coro ao ver o leve sorriso dele enquanto observava a mesma paisagem que eu. Encosto-me no seu tronco e volto a observar o largo mar azul à nossa frente. Sentia uma brisa leve, mas o corpo de Chris era o suficiente para me aquecer.

- Bom dia, amores. - Oiço um leve bater à porta e olho para trás. - Já em romances?

- Daphne! - Vou ter com ela e dou-lhe um grande abraço.

- Tem calma, Layla. Desculpa ter desaparecido por tanto tempo. - Ela esfrega a cabeça embaraçada.

- Eu penso no teu castigo mais tarde. Mas primeiro, explica-me por que estás aqui? Compraste bilhetes?

- Como assim? Não sabes? - Ela olha para Chris que acena que não. - Estou a ver que ninguém te disse.

- Disse o quê? - Estava mais impaciente.

- Basicamente, este é o meu negócio. Eu controlo uma linha de cruzeiros, esta linha.

- Então o teu nome é...

- Daphne Benson. Bem vinda ao meu pequeno império, Layla. - Ela ri de braços abertos como se estivesse a mostrar-me o mar inteiro.

- Wow! Já sabes o que isso significa...

- Uma visita guiada. - Dissemos ao mesmo tempo e começámos a rir.

- Vai em frente. Eu tenho que falar com Chris sobre o trabalho. - Ela sorri e eu saio de seguida e espero mais à frente no corredor.

- Não me recordo de nenhum trabalho pendente, muito menos contigo.

Daphne encosta-se no corrimão e observa o mar que já viu tantas vezes. Inspira profundamente sentindo o cheiro salgado do mar e a brisa fresca no rosto.

- Não consigo enjoar-me deste cenário tão monótono. - Ela sorri e vira-se para Chris ficando com as costas encostadas no corrimão. - Queria esclarecer a nossa conversa no outro dia.

- Tens a minha atenção. - Ele vai ter com ela e encosta-se também no corrimão ao seu lado.

- Tu sabes que nunca deixei de te amar. Provavelmente ainda te vou amar durante uns longos anos. Acho que posso culpar-te totalmente por estes sentimentos.

- Arrependes-te? - Eles entre olham-se e nenhum diz algo sobre isso.

- Arrependo-me de não ser capaz de seguir em frente. É óbvio o que se passa e é ainda mais óbvio o que vai acontecer no futuro. Afinal, pediste à tua ex para marcar uma viagem de férias com uma criada pessoal tua.

- Consigo ver a estranheza nessa situação.

- Até a Layla acabaria por perceber a situação se lhe dessemos as pistas certas. - Daphne suspira. - Aquela rapariga é tão despercebida.

- Ainda bem. Ao que parece, já tenho duas cúmplices do meu crime. - Ele olha para ela pelo canto do olho. - A minha irmã sabia que acabaria por descobrir mais cedo ou mais tarde. Só preferia que ficasse assim por mais tempo.

- A discrição é a chave então. Já disse, é a primeira vez que marcas umas férias longas com outra mulher além de mim. Eu sei tanto a tua reputação como a realidade, playboy.

- A minha irmã teve um grande papel aí de certeza.

- Pormenores. - Daphne ri de leve. - Claro que eu não descobriria que eu era a única mulher que tu namoraste durante tanto tempo até aos dias de hoje. E eu a pensar que o playboy andava com todas.

- Egh. Não íamos falar sobre negócios? - Chris tenta fugir aquelas criticas que não paravam de surgir.

- Sim, quanto a isso. Como estava a dizer, eu posso não ter-te esquecido, mas não é como se chorasse todas as noites por não estar contigo. Não amaldiçoo a Layla por mil e uma razões que uma mulher ciumenta devia. Eu consigo viver plenamente com a nossa relação atual.

- Então qual é o problema ao certo?

- Apenas queria esclarecer. Conhecendo-me, sei que pode haver uma altura ou outra que talvez comente algo que o meu eu que te ama queira libertar. Como por exemplo o que disse quando ligaste. Sei que era desnecessário o meu comentário.

- Não te preocupes. Eu compreendo. Afinal, eu sou o culpado, não importa como tu vejas. Eu é que dei cabo de tudo, como de costume... - Ele suspira e olha-a pelo canto do olho. - Daphne.

Ela olha para ele e surpreende-se ao vê-lo de joelhos no chão. Ela pisca várias vezes os olhos esfregando-os até para certificar-se que não estava a ver coisas.

- Se não te tivesse oferecido aquela bebida não teríamos acabado por fazer sexo. Se não fosse a minha irresponsabilidade, não terias sido obrigada a ficar comigo. Desculpa... - Daphne pousa a sua mão sobre o ombro de Chris.

- Se não fosse isso, não te teria conhecido nem à minha amiga mais fiel, a tua irmã. O nosso encontro não foi dos melhores, isso é inevitável. Mesmo com um falso teste de gravidez como razão para termos ficado juntos durante umas semanas, eu apaixonei-me loucamente por ti. - Chris levanta-se e abraça-a.

- Eu amei-te, bastante. Eu não fingi nada, ou menti. Eu...

Daphne pousa o seu dedo sobre o lábio dele fazendo-o calar. Ela inclina de leve a cabeça com os olhos um pouco molhados e um leve sorriso tremule. Ela beija-o na cara. Chris, por sua vez, aproxima-se dela e sussurra.

- Vou ter saudades dos nossos momentos. - Ele afasta-se e sorri.

As lágrimas que Daphne tentava conter acabaram por cair. No entanto, Chris não reagiu a elas, ignorando-as para o bem de Daphne. Ele limpa a cara dela e aproxima os seus lábios dela. Para a poucos centímetros esperando para ver se ela se afastava. Sem qualquer resposta, ele beija-a. Num longo abraço, os dois trocam um longo, lento e cheio de anos de romance acumulados beijo; o último que iriam partilhar.

Poucos minutos depois, vejo Daphne a aproximar-se de mim com um leve sorriso na cara. Os seus olhos ainda estavam um pouco vermelhos e a minha cara de preocupação não passou despercebida por Daphne.

- Não te preocupes, não é nada. - Ela seguiu caminho e eu fui ao lado dela.

- O que aconteceu?

- Apenas despedi-me de alguém que já tinha partido há muito tempo. - Ela sorri inocente para mim.

- Era suposto eu perceber isso? - O riso dela não foi a resposta que eu esperava, mas é melhor do que ver a expressão de choro dela.

- Um dia. Um dia vais acordar.

- Será que sou mesmo burra? Continuo sem perceber do que ela está a falar...

Nós as duas começamos a nossa visita guiada deixando para trás Chris que ficou a observar a paisagem. Ele olha para um lado e depois para o outro.

- Percebo como é difícil deixar de amar esta vista. - Ele sorri.

Criada de um MilionárioOnde histórias criam vida. Descubra agora