Olhei-o de alto a baixo. Encostado à porta do duche de suéter encarnado escuro e calças pretas dava uma bela fotografia para a capa de uma revista. O cabelo loiro arranjado, os olhos esverdeados que seguem-nos para todo o lado, o sorriso quente e traiçoeiro. É pena ele não ser tão boa pessoa como modelo para revistas.
- Então, qual é a tua escolha? - Já estava impaciente.
Estava prestes a responder quando ouvimos alguém a bater à porta e a abri-la de seguida.
- Senhor Christopher? - Reconheci logo a voz.
- Bom dia, Sónia. O que queres de mim? - Foi ter com ela ao quarto.
- Bom dia, senhor. Estava apenas à procura da Layla. Da última vez que a vi subiu aqui para cima. Pensei que passasse por aqui.
- Estou aqui, Sónia. - Ela sorri ao ver-me. Agradece a Chris e vem ter comigo.
- Precisamos de ti lá em baixo. Já acabaste os teus trabalhos aqui?
Olho para o Chris que mandava-me mensagens com olhares por detrás de Sónia. Sorri de leve e fui com ela para fora do quarto. Antes de fechar a porta, olhei para trás. A cara de aborrecido já sentado na cama era uma ótima recompensa.
Enquanto seguia Sónia, fomos conversando um pouco sobre diversas coisas até chegarmos ao pátio. Yuna estava sentada à sombra enquanto conversava com Hannah ao seu lado. Ao fundo, na relva, via o Terry a lançar uma bola ao Kouki. Sónia avisou-me para falar com Yuna quando pudesse e voltou para dentro. Não quis interrompe-las então fui ter com o Terry.
- Bom dia, Terry.
- Bom dia, Layla. Hoje vieste mais tarde que costume. - Lançou a bola de novo.
- Não havia necessidade de vir tão cedo. Não tenho praticamente trabalho por fazer além de aturar o teu tio. E isso não quero. - Ele ri e dá-me a bola que o Kouki acabou de trazer. Ficámos a conversar e a atirar a bola um de cada vez.
A minha relação com o Terry tem vindo a melhorar. Ele tem metade da minha idade mas conversamos facilmente. Depois daquele primeiro encontro desastroso, nunca pensei que fosse-mos ficar tão próximos como agora. Quando ele me deixa, ajudo-o em tarefas pequenas como assuntos sobre a escola ou tarefas em casa. O único facto que me incomoda nisto tudo é a incrível semelhança ao Chris. Mesmo sabendo que são tio e sobrinho, até hoje diria que ele era filho dele e não de Yuna. As expressões de birra, de convencido. Só espero que quando ele crescer mostre mais os lados da sua mãe e não do tio.
- Layla. Vem cá, por favor. - Despedi-me do Terry e do Kouki e fui ter com Yuna. A Hannah já tinha saído. - Bom dia antes de tudo. - Ela sorri e cumprimenta-me com um beijo.
- Bom dia, Yuna. - Sento-me a pedido dela. - A Sónia chamou-me. Em que posso ajudar?
- Preciso que estejas sobre o Chris durante uns dias. - Corei de leve ao levar aquilo no sentido literal. - Vou sair por uns dias com o meu filho. O Kouki fica cá por isso também era bom que cuidasses dele, já que dão-se tão bem. Sei que um é muito mais fácil que o outro mas, por favor, tem paciência com o mais difícil. - Sorriu embaraçada. Ambas sabíamos bem qual deles era o mais complicado de lidar.
- Não há necessidade de te preocupares, Yuna. Afinal, o meu trabalho é lidar com esse tipo de situações. Não foi por isso que me contrataram? - Mesmo tendo uma relação de chefe-empregada, eu e Yuna ficámos muito mais próximas. Somos mais amigas do que outra coisa.
- Compreendo. Ainda bem que tens esse pensamento em mente. Será bastante mais fácil fazeres certos deveres. - Ela chamou o Terry que veio logo a correr. - Nós vamos estar fora durante uma a duas semanas. Partimos depois de amanhã.
- Vamos a Milão, à semana de moda de Outono/Inverno de Milão. - Disse num tom aborrecido que me fez dar uma leve gargalhada. - Eu queria ir com o tio a Londres mas não... - Yuna ri também.
- Sabes que o teu tio não pode sair da América agora. E não vamos estar em Milão apenas pela moda.
- Li que nos últimos dias da semana da moda, vai abrir uma exposição de banda desenhada. - Terry começou a ficar mais interessado na conversa. - Já depois da semana da moda acabar, vai haver um festival com várias diversões. - Os olhos de Terry não conseguiam esconder o entusiasmo que o sorriso tentava tanto.
- Agora sim ele quer ir. - Pensávamos, eu e Yuna, entre olhares e risos.
Conversamos um pouco mais mas não durou muito. Yuna recebeu uma chamada e o Terry já tinha voltado a atenção ao seu cão que implorava por ela. Eu vi a minha deixa e despedi-mo-nos antes de irmos cada um para os nossos assuntos. Ao entrar de novo na casa, quanto mais me aproximava da escadaria, menos vontade tinha de subi-la. Sabia bem o que vinha quando chegasse ao meu destino. No entanto, não deixa de ser o meu trabalho, e tive que avançar de qualquer maneira.
Cheguei à porta do quarto de Chris e bato antes de entrar. Encontrei-o na mesma posição que antes quando cheguei: deitado na cama a ler um livro. Só que, desta vez, ele não tirou os olhos do livro. Era impossível ele não saber que sou eu. Mas nem perdi mais tempo e fiz o mesmo que ele: ignorei-o. Fui à casa de banho acabar o trabalho que tinha deixado em pausa.
O tempo passou rapidamente. A casa de banho brilhava de uma ponta à outra. A vontade de despachar este trabalho foi um bom ânimo para conseguir acabar tão cedo. Afinal, quanto mais tempo ficar neste lugar, mais chances tenho de ir parar ao mesmo cenário de há uns instantes com o Chris. Mas foi tarde demais. Ele já estava à espera à saída da casa de banho. Pousei as ferramentas todas num cantinho e fiquei a olhar para ele, há espera de uma resposta.
- Quer alguma coisa, mestre? - Estava impaciente mas o que aprendi com este breve mês foi falar com jeitinho mesmo que a vontade seja pequena. - Se é para continuar-mos a nossa discussão sobre tomar uma pausa, eu já o fiz quando saí com a Sónia. Não precisa de se preocupar. - Aproximei-me dele na esperança que se afastasse, mas de nada serviu. Suspirei e esperei a sua vez.
- Eu apenas estou espantado por ver-te novamente. Pensei que demorasses mais um pouco nessa dita "pausa". - Ele sorri e afasta-se deixando-me passar. - Estava a começar a contar o tempo que demoravas a voltar cá, mas vejo que tiveste saudades.
Chris foi em direção à cama e senta-se. Bate na cama ao seu lado fazendo-me sinal para sentar. Sem qualquer hipóteses de escolha, sentei-me ao seu lado. Respiro fundo prevendo que precisaria de ar e paciência não tardara. Sem ouvir mais a sua voz, olho para o meu lado e vejo-o a admirar o mesmo livro que lia à instantes. Tinha aspeto velho, monótono e um pouco mal tratado. Parecia estar todo escrito em inglês. O nome não me dizia nada, mas não parecia um livro de romance ou comédia, isso era certo.
Deixei-o no seu mundo literário e aproveitei para descansar. Estava cansada de maioria das vezes que passamos juntos, os momentos têm que ser sempre constrangedores e maliciosos, pelo menos para mim. Duvido que ele desgoste dessas alturas já que continua a cria-las. Bom, pelo menos ele estava entretido noutra coisa além de mim. Fechei os olhos e descansei por uns instantes. O que não previ foi o apagão que apanhei e adormeci sem dar por isso. Pior; apenas eu não reparei que estava a adormecer...
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Criada de um Milionário
RomanceLayla Collins era uma simples jovem alegre com a sua vida. Mas um dia esta alegria é-lhe retirada das suas mãos inocentes e recebe mágoa e dor em troca. Desde então a vida só tem piorado pouco a pouco. A inocente Layla tinha desaparecido e uma nova...