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Alguns dias passaram e nada mudou. Os meus encontros com Chris pela mansão não passavam de ignorar um ao outro, como se nada tivesse acontecido. De vez em quando ainda me punha a olhar para ele e via apenas as costas dele a afastarem-se de mim. Por muito que aquilo doesse, deixava-me sempre levar e virava-me na esperança que, um dia, talvez, visse o sorriso dele.

- Layla.

Rachel estava ao meu lado com um olhar preocupado. Olhei em volta e vi Hannah a beber o seu café e Vânia ainda concentrada no seu livro. Por momentos tinha-me esquecido que estava com elas na sala de estar.

- Desculpa. Perdi-me em pensamentos. - Ri embaraçada.

- Andas muito perdida ultimamente. Não eras assim há uns meses.

- Até que costumavas ser bem animada. - Hannah pousou a chávena na mesa, ou seja, a conversa vai ficar séria. - Algo aconteceu, com certeza.

As duas olharam sérias para mim. Olhei para a Vânia, mas ela nem sequer parecia que estava a ouvir. Suspirei. Felizmente fui salva pela campainha, mais precisamente a porta a abrir.

- Meninas, o Christopher está lá em cima? - Jane entrou a correr.

- É provável. Da última vez que o vi foi no escritório. - Hannah confirma. - Porquê?

- Tenho que ter uma conversa séria com ele.

Ficámos todas interessadas no que ela ia dizer. Até a Vânia levantou o olhar do seu livro. Foi aí que reparámos na revista que ela tinha na mão. Ela bate a revista na mesa à nossa frente.

- Quero saber o que isto significa! - Rachel aproxima-se mais e lê o título da revista.

- Quem é a nova amante de Christopher Morrison?

No mesmo momento, todas nós tivemos reações diferentes. Vânia voltou-se logo para o seu livro. Hannah sorria nada espantada com o interesse da amiga. Rachel esfolheava a revista também interessada no assunto. Já eu estava de novo perdida em pensamentos.

- Nova amante? Pensei que ele...

- O quê?! - Rachel grita chamando à nossa atenção.

- Qual é o problema, Rachel? - Até a Hannah foi ver qual era a notícia.

- Ao que parece, o nosso chefe foi apanhado por um empregado num evento recente de há uns dias atrás. Segundo o que o empregado contou à revista, quando ele abriu a porta viu-o sobre uma mulher.

- Huhum, huhum. E não é só! - Jane mostrava mesmo como se sentia sobre a noticia.

- Eles pediram uma descrição da mulher, mas ele apenas disse que ela usava um longo vestido azul escuro com uma fenda até à anca e que a máscara preta ficava perfeita com o vestido e o cabelo castanho comprido ondulado.

- Não é de espantar. Parece uma musa pela descrição feita. - Hannah comentou e observou-me pelo canto do olho.

- Não deixa de ser um comentário de um empregado. Que sabe ele de beleza? - Jane continuava irritada.

- Então estás a dizer que o nosso chefe ia atirar-se a alguém feia? - Jane engole seco.

- Só queria que ele não fosse tão mulherengo. Não favorece a minha imagem romântica.

- Porque a tua imagem é muito realista. - Rachel começa a rir.

- Desculpa, mas é muito possível que a nossa amiga Layla consiga conquistar o coração do Christopher. Vai daí e ela é a misteriosa amante.

Foi a pior coisa que ela podia ter dito. Agora, a atenção das três estava de novo sobre mim. Queria dizer alguma coisa, mas sabia que a minha cara corada já não me ajudava. Talvez não fosse má ideia ver se a situação se desenrola como quero sozinha.

- É verdade. Não foste com a senhora Yuna a esta festa? - Ok, talvez seja melhor intervir.

- Hey. Vocês estão mesmo a considerar essa possibilidade? Primeiro, acham mesmo que eu era capaz de fazer isso? Ou sequer aceitar? Segundo, somos criada e chefe. Éramos... - Levantei-me e tossi a tentar manter-me longe de pensamentos. - Eu lamento informar-vos, mas a nossa relação não podia estar pior. Esse cenário...

Os meus olhos param no leve sorriso que ele tinha na capa da revista. Senti uma certa dor e um apertar dentro de mim. Conseguia sentir-me a escapar da realidade e a perder-me lentamente em memórias e pensamentos cheios de dor e tristeza.

- Esse cenário não passa da vossa imaginação...

E com isso dito, saí da sala e fui-me embora. As três olhavam para a porta da entrada com poucas palavras para dizerem. Vânia, continuava a ler o seu livro.

- Aquilo foi tudo menos normal.

- Ela está obviamente a esconder algo de nós. Mas porquê? - Rachel era sempre a mesma: curiosa demais para ignorar o assunto.

- Não é óbvio? Tu mesma disseste, Rachel, mas com a ideia meio errada. Ela está a tentar enganar tanto a nós como a ela mesmo. É provável que ela ainda esteja a esforçar-se mais para se enganar a si mesma.

As três olham surpreendidas para a Vânia que nunca tirou os olhos do livro, nem mesmo quando falou. Jane pegou na revista e leu outra vez a secção que falava sobre o Christopher. Rachel ficou a pensar no que a Vânia lhe tinha dito. E Hannah sorria encostada no sofá.

- Realmente, quando abres essa tua boca para dares a tua opinião, todas se calam. - Ela ri ao ver as caras perdidas das suas amigas.

Entretanto, no portão, eu esperava encostada no pilar a observar as poucas estrelas que conseguia ver no céu escuro da noite. Deixei-me levar pelos pensamentos e já não conseguia pensar noutra coisa que não estivesse relacionada com o Christopher.

- Lay! - Oiço a buzina do carro e sorrio.

- A minha salvação chegou. - Vou ter com o Pete que me esperava de braços abertos.

- Então, porque quiseste que te viesse buscar mais cedo? Pensei que ias passar algum tempo com as tuas amigas.

- E passei. Foi até que demasiado...

Ainda bem que o Peter me conhece o suficiente para saber quando não deve perguntar ou insistir. Entrámos no carro e seguimos caminho até casa. A viagem demorou pouco tempo e num instante estávamos a entrar em casa.

- Pete, disseste que o teu salário estava a aumentar, não foi?

- Sim e segundo o Patrick, agora é uma bola de neve. Daqui a uns meses vou conseguir melhores trabalho e tarefas com melhores recompensas. É uma notícia incrível, não é? - Ele sorriu alegre e foi fechar a porta da entrada.

- É claro que é. E logo agora que vamos precisar disso.

- Que queres dizer com isso?

- Eu vou demitir-me. - Suspiro ao ver a cara de espanto dele. - Vou deixar de trabalhar lá. Por isso, vais voltar a ser o nosso sustento. - Vou ter com ele e beijo-o na cara. - Desculpa, mas já não consigo aguentar.

Peguei na minha mala e fui para o nosso quarto. Pete ficou parado ainda em choque na entrada. Ele deve pensar que estou louca ou doente. Mas eu pensei bastante antes de tomar esta decisão. Uma coisa é certa, não me vou arrepender assim tão cedo.

Criada de um MilionárioOnde histórias criam vida. Descubra agora