A manhã do dia apareceu com os seus raios luminosos a invadirem todos os cantos do quarto. Os meus olhos reclamavam com a claridade que entrava sem pedir permissão. Encolhi-me em desconforto nos lençóis mas sou rapidamente embrulhada num abraço quente. O meu corpo relaxou no momento e escondi a cara para não ser mais incomodada.
Umas horas depois, oiço um ruído de leve a aumentar de intensidade. Mexo-me e remexo-me na cama. Deixei de sentir o calor à minha volta e o espaço parecia mais livre. Ajeito-me na cama em busca do calor. Encontrei apenas um pouco dele, mas era bom o suficiente para me contentar. Estico-me e volto a dormir escutando algumas vozes ao fundo.
- Hei. - Acordo com um leve abanão. - Qual é a tua ideia de meteres-te no meu lado da cama.
Com a mente mais desperta, reconheci logo a voz e corei no instante. Esfreguei os olhos e olho para o lado. Chris estava em pé de braços cruzados ao meu lado com uma cara de que acabou de acordar. Olhei em minha volta.
- Estás a fazer o quê? A confirmar que estás acordada? - Ele aproxima-se de mim e sorri ao ajeitar um bocado de cabelo que foi parar à minha frente. - Bom dia, dorminhoca.
Sinto o meu coração a falhar uma batida. Aquele sorriso logo de manhã após acordar... Já era um problema quando o via durante o dia, quanto mais mal abro os olhos. Eu sou sensível quando acordo, ok?!
- Deve ser isto que se sente quando acordamos com alguém ao nosso lado... - Perdi-me em pensamentos em volta daquele sorriso que não saia da cara de Chris, até que me apercebi. - Mas que raio andas a pensar, idiota?! - Abanei a cabeça e cheguei para o outro lado da cama.
- Sabes que é má educação não cumprimentar quando te fazem o mesmo, certo? - Ele ri ao meter-se de novo na cama.
- Sabes que é assédio obrigar alguém à força ficar na mesma cama seminua, certo? - Virei-me de costas para ele. Suspiro ao ouvir o riso dele.
- Em minha defesa, tu ficaste por vontade própria. - Sinto-o a beijar o meu ombro enquanto acariciava a minha cintura.
- Isso foi porque já me tinhas metido na cama. - Afastei-me mais dele fazendo-o parar. Apenas durou uns segundos pois voltei a sentir os seus toques logo a seguir.
- Mas foste tu que adormeceste, inofensiva, sem qualquer proteção. Como teu mestre, pus-te na minha cama, debaixo dos lençóis. - Viro-me para ele e vejo o sorriso inocente dele colado ao seu rosto.
- E isso é totalmente normal... Juntamente com a parte de tirares a minha roupa e ficar na mesma cama que tu... Mestre... - O sarcasmo era bastante óbvio no meu tom de voz.
- Bom, não considero dormir com o uniforme de trabalho propriamente higiénico ou confortável. Quanto à cama, pensei em deixar-te noutro sítio mas, ora era o parapeito da janela, o chão, a cadeira, a banheira ou a cama. Se preferias ficar em algum destes lugares que mencionei, diz-me que para a próxima deixo-te lá. - Acabou num sorriso e ficou a olhar para mim deitado de lado na cama.
- Eu preferia qualquer outro sítio além deste... Mas nenhum parece confortável. E ele disse banheira? - Fiquei a pensar no assunto até que me apercebi. - Próxima vez?!
- Sim. Mais vale prevenir do que remediar, nunca ouviste querida?
Vou de cara contra a almofada e começo a murmurar umas quantas coisas. Nem acredito que ele usou um provérbio contra mim. Eu à espera de uma resposta e levo com um provérbio na cara. Como é que fiquei aqui mesmo?
- Então? Sempre gostas da cama? - Sem ouvir uma resposta, ou ouvir qualquer coisa, já que estava com a cara na almofada, ele volta a perguntar. - Pela falta de resposta, vou aceitar isso como um sim.
Ele volta para o seu lado e ajeita-se na cama. Observo-o pelo canto do olho. Só digo uma coisa: aquela visão era horrível. De braços atrás da nuca, em cima dos lençóis com apenas os boxers vestidos, conseguia observar grande parte do seu corpo. Maldito corpo de deus. Se não fosse aqueles braços fortes, as costas definidas, as pernas musculadas, aquele terrível pacote de abdominais, o peito fortalecido, os largos ombros... Acho que me fiz entender... E ainda tem aquela cara linda dele. É impossível não se sentir atraída por ele. O poder que a estética tem no sexo oposto é mesmo irritante.
- Quem é que bateu à porta? - O silêncio estava a começar a irritar-me, além de que os meus olhos continuavam atentos à forma do corpo ao meu lado, por isso peguei num assunto qualquer.
- Era a minha irmã. Queria avisar-me que vão partir agora. Já agora, ela pede desculpa por não despedir-se de ti.
- Podias ter dito logo então! - Levantei-me e saí da cama. - Eles ainda devem estas cá. - Procurei algo para calçar.
- Boa sorte. - Viro-me para ele e fico à espera da explicação. - Deves ter-te esquecido da tua situação atual. Eu relembro-te então. - Ficou deitado na cama enquanto falava. - Passas-te cá a noite sem o conhecimento da minha irmã. Para piorar, no meu quarto, comigo. Ela não só pensa que tu foste para casa com o teu namoradinho como não está à espera de te ver tão cedo às... Oito da manhã. Com isto já são quatro factos negativos e cinco se pensares em ir vestida assim.
Observou-me de alto a baixo com um sorriso estampado no rosto. Cruzei os braços em sinal de protesto. Ele riu de leve e voltou a falar.
- Podes sempre vestir a roupa que trouxeste ontem, mas a palavra ontem é o suficiente penso. De qualquer maneira, fosses como fosses, é muito cedo para estares cá. Agora que penso, estamos cá apenas nós os três, o Terry, o Andrew com certeza e talvez a Jane. Era impossível teres entrado em casa sem a minha irmã sabê-lo. - Ele sorri convencido.
- Concluindo, péssima ideia... - Volto para a cama e sento-me ao lado dele. - Era assim tão difícil dizer que era apenas uma terrível ideia ir ter com ela?
- Não é tão divertido. - Ele sorri e beija a minha cara. - É mais engraçado implicar contigo.
- Tu... - E eu a pensar que apenas o Pete conseguia irritar-me de manhã. - É verdade, eu combinei com alguém para me vir buscar ontem à noite. O que aconteceu? - O sorriso de Chris desapareceu e ele voltou para o seu cantinho na cama.
- A Hannah veio-me avisar que o teu namorado estava de volta e eu fui cumprimenta-lo como qualquer bom senhor da casa. Ele disse-me que te vinha buscar.
Ficou em silêncio depois disso. Esperei e esperei mas estranhei a falta de resposta. Esperei mais um bocado até ao ponto que bastava.
- E...
- E foi tudo. Disse-lhe que estavas ocupada e ele foi embora.
Conhecendo os dois, aquela história não bate certo. Pete não desistiria assim tão facilmente com um não. Ainda por cima ele estava ansioso por aquele momento sozinhos nós os dois. Também conheço o suficiente de Chris para saber que ele não gosta do Pete. Acharia mais credível ele não ter aparecido e ter mandado um segurança expulsá-lo com um pretexto parvo do que a história que ele me contou. Mas não importa mesmo o que aconteceu. O resultado é simples independendo do percurso até lá.
- Maldição. - Suspiro e deixo-me cair na cama. - E ele que queria tanto ir jantar...
Enquanto pensava numa desculpa para dar ao Pete, Chris observava-me atentamente também a pensar num plano. Mal eu sabia no que aquele plano ia dar e no que afetaria a minha imagem dele.
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Criada de um Milionário
RomanceLayla Collins era uma simples jovem alegre com a sua vida. Mas um dia esta alegria é-lhe retirada das suas mãos inocentes e recebe mágoa e dor em troca. Desde então a vida só tem piorado pouco a pouco. A inocente Layla tinha desaparecido e uma nova...