Amizade

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Já era bem tarde quando o celular de Luna tocou a puxando violentamente de seu sono, ela estendeu a mão lentamente até o criado-mudo onde o aparelho se encontrava e o trouxe até a frente de seus olhos para visualizar quem a incomodava. Logo franziu a testa em reprovação ao ler o nome na tela. Relutante ela atendeu com a voz ainda rouca e turbada pelo sono.

- Nossa! Não me diga que ainda está na cama?! A noite deve ter sido fantástica! - Falou o rapaz do outro lado com a voz debochada de sempre.

- Não me diga que me ligou só para fazer piadas desnecessárias?! - Respondeu Luna com o tom de irritabilidade característico de sono interrompido. - O que você quer Júlio?

- Ahhh... me perdoe my lady! Não sabia que não poderia ligar para saber como você está e como foi seu final de semana! - Júlio respondeu em tom sarcástico, escondendo seu sorriso entre as palavras. - Já são 10:00, não é hora de ficar na cama em pleno domingo. Estou voltando daqui a pouco para São Paulo e gostaria de saber se quer jantar mais tarde comigo? Preciso te contar a tortura que foi este final de semana. - Falou em tom de desabafo.

- Tudo bem! Depois te envio uma mensagem confirmando. Agora me deixe em paz! - Falou Luna desligando a ligação e jogando o celular de lado.

Ela estava com muita preguiça para se levantar, mas também não tinha mais sono e entre ficar naquela cama procrastinando e tentar ter um dia "normal", ela preferia a segunda opção. Levantou-se cambaleante e com fortes dores de cabeça se dirigiu ao banheiro, ainda sem muitos reflexos abriu a torneira da pia e jogou água em seu rosto, fazendo-a, finalmente, despertar.

Não conseguia se lembrar muito bem o que fez na noite passada nem do rosto de sua companhia, mais uma conquista fácil e vazia, assim como a de sexta. Ficou ali se encarando por alguns minutos até que voltou a si e terminou de se arrumar.

"O que fazer em um domingo nesta cidade?" - pensou Luna enquanto preparava um café expresso na cozinha e sentia Apolo, seu gato siamês, roçando em sua perna por debaixo da bancada. Ela pegou sua caneca com café e se dirigiu a sala de TV, onde se sentou ligando em um canal aleatório. Luna não gostava tanto assim das programações oferecidas, porém gostava de se sentar em frente a televisão ligada para abrandar o silêncio que ficava na casa sempre que precisava se distrair, era como ter alguém ali.

Apolo subiu em seu colo se prostrando entre suas pernas entrelaçadas em posição de vajra sobre o sofá esperando por um afago de sua dona, que logo apoiou sua mão sobre sua cabeça roçando de forma carinhosa. Luna gostava da companhia de seu felino, ela os achava interessantes e admiráveis, não eram de dar seus sentimentos a qualquer um, escolhiam com quem se relacionar e só se mostravam o suficiente para seus donos em troca dos benefícios que poderiam ter. Precisavam ser conquistados, não eram como cachorros, que se entregavam no primeiro contato e eram leais a todo custo, eram independentes e frios no olhar. Gatos são seres misteriosos e magníficos.

Não demorou muito e Luna já estava estirada no sofá, tomada pela falta de perspectiva para aquele dia de domingo resolveu não sair de casa, não era nem um pouco interessante perder o dia daquela forma, mas não queria ter que se despencar de casa a procura de algo para fazer, queria ficar ali jogada e com aquelas roupas largas e gastas tão confortáveis.

Seus olhos fixaram no teto que como um pêndulo cabalístico a deixou em um transe profundo, levando sua mente para outro mundo. Lembrou-se de uma época tranquila onde ela e o irmão brincavam no jardim da casa da família. Era tão tranquilo, um dos poucos momentos onde ela podia ser ela mesma, sem cobranças ou repreensões por agir de forma livre. Ser criança era tão magnífico, o mundo era um grande parque de diversões, onde ela e seu irmão se divertiam sem se preocupar com nada.

Nossos sentimentos (Romance Lésbico)Onde histórias criam vida. Descubra agora