Abismo

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Luna

Com muito custo me afastei de Gabriele com os olhos vidrados a deixando esperando pelo próximo passo, aquilo não poderia estar acontecendo comigo. Sentindo minhas pernas bambas e sem rumo, peguei minhas coisas e fui embora, fugi sem dizer uma só palavra para a garota. Ela ainda me gritou desesperadamente tentando chamar minha atenção, mas não conseguia escutá-la, eu estava atordoada com o que minha mente me aprontou.

Paguei o equivalente a três horas naquele motel, mesmo não tendo ficado lá nem mesmo uma hora, e saí dirigindo desesperada. Eu queria fugir, me sentia perseguida por um daqueles seriais killers de filme de terror, que não adianta para onde você foge, ele sempre te alcança.

Cheguei em casa já faltando dez para meia-noite e me apoiei na porta desolada. Pela primeira vez em anos eu não sabia o que fazer. Uma pessoa que eu nem conheço invadiu minha mente dessa forma, sem pedir licença, sem ser convidada. Eu estava sem chão.

Ouvi passos vindo da cozinha e ao me virar dei de cara com Margarida que me olhou estranhada com minha situação. Havia esquecido que ela voltava naquele dia das suas férias.

- O que houve menina? - Ela perguntou preocupada.

- Nada de mais Má, estou cansada, só isso. - Respondi tentando dissimular minha real situação.

- Muito trabalho hoje?

- Um pouco. - Falei enquanto fui me encaminhando para a escada que dava para o andar superior. - Vou tomar um banho e dormir, não precisa se preocupar. Boa noite Má.

Entrei no meu quarto e fui direto para o banho, não queria pensar em nada, mas quanto mais eu tentava me distanciar dos meus pensamentos, logo o rosto dela vinha novamente em minha mente. Aquela noite, como de se esperar, não consegui dormir.

A semana passou em passos lentos, mas, graças a alguma figura cósmica, minha cabeça foi preenchida com trabalho. Amanda e eu decidimos comprar a empresa do Rio que nos inseriria em um novo mercado e os trâmites de compra, além de alinhamento tiveram que ser feitos por mim e me obrigou a ficar, durante dois dias, no Rio de Janeiro, o que, a meu ver, foi maravilhoso, pois assim ficava longe da mulher que remexia minha cabeça.

Voltei do Rio de Janeiro na quinta-feira de manhã e fui direto para escritório temendo ver Diana pelos corredores, mas o que vi, ao chegar na minha sala, foi algo pior. Ao chegar no meu andar não encontrei Francine em sua mesa então me encaminhei direto para minha sala e ao entrar qual não foi minha surpresa.

- O que faz aqui? - Perguntei àquela mulher de meia idade com os cabelos tão negros quanto os meus, mas na altura dos ombros, vestindo um vestido negro e por cima um sobretudo cinza escuro, além de saltos.

- Não te coloquei nos melhores colégios para você ter essa atitude tão mal educada quando encontra alguém. - Respondeu com desdém a minha pergunta.

- Você entendeu o que quis dizer. - Falei me aproximando de minha mesa e depositando minha bolsa em cima dela.

- Não, não entendi. - Respondeu cinicamente enquanto retirava seus óculos escuros e se aproximava. - Afinal, uma mãe não pode ver sua filha?! - Falou me cumprimentando com um beijo no rosto.

- Depende... afinal essa mãe não é muito de procurar sua filha. - Falei me afastando e indo até minha cadeira para me sentar. - O que você quer Dr.ª Tereza?

Minha mãe não era a pessoa mais maternal do mundo, se eu e Amanda não tivéssemos nascido em anos diferentes, poderia jurar que fomos trocadas na maternidade, pois ela se assemelha em muito a minha adorada amiga em suas ações e soberba. Tê-la aqui no meu escritório às dez horas de uma quinta-feira só podia representar uma coisa que eu sabia bem, mas queria ouvir dela.

Nossos sentimentos (Romance Lésbico)Onde histórias criam vida. Descubra agora