3. Ruiva

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Um cheiro deliciosamente forte inundou a cozinha quando Mark derramou a água fervente sobre o pó de café no coador. Naquela manhã ele havia tomado todas as medidas para que nada que ele fizesse fosse igual aos dias anteriores. Era difícil mudar a rotina tão abruptamente, mas ele sentia que precisava fazer algo diferente.
Mark encheu a xícara de café e abriu um pacote de torradas e comeu a metade. Pegou o jornal na soleira da porta da cozinha e saiu com seu Cherokee para o trabalho. O dia foi agradável e sem problemas e, no início da noite, Mark saiu a pé para procurar um fast food. Passou por um McDonald's, mas depois de ver quão cheio e barulhento estava, decidiu não entrar.
Andou mais dois quarteirões até parar em frente a uma lanchonete rústica, agradavelmente aconchegante. Um cheiro de queijo derretido estava deliciosamente convidativo e Mark empurrou a porta de vidro para entrar. Sentou-se à uma mesa para duas pessoas e começou a verificar o cardápio.
- Boa noite, senhor - disse alguém.
Mark demorou alguns instantes para perceber que a voz se dirigia a ele. Levantou os olhos lentamente. A garçonete estava parada à sua frente.
- Ah... Boa noite. Desculpe-me, eu estava distraído.
A moça deu um sorriso bonito que fez seus olhos castanhos se estreitaram.
- O que vai querer para hoje?
Mark passou o dedo pelo cardápio. Ainda não havia escolhido.
- Eu... Ainda não sei. Sugere alguma coisa?
A moça sorriu novamente.
- Temos um ótimo sanduíche de presunto e queijo. É o mais pedido.
- Vou querer.
- E para beber? - perguntou ela enquanto anotava em um pequeno bloquinho.
- Café. Com açúcar.
- Certo. Só um momento, senhor.
- Obrigado.
Ela virou-se, foi em direção ao balcão e Mark ficou olhando sua cintura demarcada com o laço amarelo do avental e seus cabelos ruivos amarrados em uma longa trança bem feita. Desejou ir atrás dela, mas se conteve. Nem a conhecia. Não sabia nem o nome dela.
Quando ela voltou Mark estava novamente olhando o cardápio.
- Pronto, senhor. Aqui está - disse ela colocando a bandeja sobre a mesa.
- Obrigado - respondeu Mark deixando o cardápio de lado e pegando o sanduíche quente com um guardanapo.
- Mais alguma coisa?
- Não... obrigado - disse ele relutante.
Ela já estava se virando para voltar quando um impulso tomou Mark.
- Espera... - disse e a moça se virou novamente.
Mark não tinha ideia do que iria falar. Sua mente estava confusa.
- Pois não?
- É que eu... é... eu só... preciso de mais um sanduíche pra levar pra casa - as palavras saltaram de sua boca.
Ele se arrependeu profundamente por tê-la chamado novamente. Onde estava com a cabeça? Havia perdido o juízo?
- Ok, - disse ela parecendo perceber a pequena confusão da mente de Mark - vou preparar.
Ela saiu a passos rápidos e foi para trás do balcão e Mark ficou ali comendo seu sanduíche de presunto e queijo, detestando cada célula de seu corpo que o fez entrar naquele lugar.
"Droga, ela nem sabe da minha vida. Ela não vai ler meus pensamentos." - pensou, tentando disfarçar o acontecido.
Ele nem se deu ao luxo de saborear com calma o sanduíche. Comeu o mais rápido que pôde e foi em direção ao balcão, onde a moça está a embalando o seu pedido. Ela estendeu o embrulho para Mark junto com a comanda de pagamento.
- Obrigado - disse ele sem olhar diretamente para ela - estava realmente bom.
- Volte sempre - ela respondeu sorrindo.
"Eu vou voltar" - pensou ele.
Do lado de fora da lanchonete estava muito mais frio e caia uma neve fina. Mark apertou o casaco contra o peito e foi para casa. Aquela noite não conseguiu descansar completamente. Acordou várias vezes sem motivo algum e pensava sempre na moça da lanchonete.
Achava que não devia, mas aquela bela moça de longos cabelos ruivos havia mexido com sua imaginação.

Continua...

Um inverno entre nós (CONCLUÍDO)Onde histórias criam vida. Descubra agora