17. Expectativa

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Mark ficou parado por alguns instantes, enquanto Jake se afastava. Anne ficou à sua frente, olhando para o ex-namorado até que sumisse na escuridão da noite. Ela virou-se para Mark e sua expressão estava dura como mármore.

- O que foi isso, Mark?

- Desculpe-me Anne, eu não me contive. Ele estava prendendo seu braço e eu achei que ele pudesse te machucar.

Anne sentou-se no canteiro, pensativa. O que se passava na mente dela era impossível de distinguir através de suas expressões.

Anne lembrou-se de uma parte de sua infância. Alguns meninos irritantes haviam lhe dado o apelido de Cabeça de Fósforo, por causa de seus cabelos que eram muito mais ruivos quando criança e o único garoto que a defendia era Timothy. Ele era um menino gordinho, falador, extremamente aventureiro e corajoso. Sua pele era morena, quase negra e seus olhos eram castanhos-amarelados, o que havia rendido-lhe o apelido de Farol.

Os olhos dele chamavam muita atenção e Anne achava-os surpreendentemente bonitos. Timothy brigava com os outros garotos na intenção de defender Anne, e quase sempre dava uma surra neles. A força do garotinho era incrível até mesmo para os padrões de um adulto.

No fim das contas, os pais de Timothy resolveram mudar de cidade e Anne havia perdido completamente o contato com o garotinho que fora sua primeira paixão.

E agora Mark a havia feito se lembrar do garoto.

- Aí meu Deus - suspirou Anne enfiando o rosto nas mãos e apoiando os cotovelos nos joelhos.

- Anne...

- Mark, eu estou tentando fugir de problemas e você acaba de me conseguir mais um. Para nós dois, na verdade.

- Mas o que eu poderia fazer? Ele estava te agredindo!

- E você fez o mesmo com ele.

- Anne, nós dois somos homens. Você é uma mulher!

Anne suspirou e desviou o olhar.

- Eu não sou dessas mulherzinhas choronas que vocês estão acostumados a ver. Eu sei me virar.

Mark coçou a cabeça. Onde ela queria chegar com isso? Jake iria machucá-la com certeza e ela o estava defendendo? Só havia feito aquilo ara tentar proteger a mulher, como qualquer homem em sã consciência faria.

- Você não precisava ter batido nele. Ele só é marrento e não briguento. Foi criado debaixo da saia da mamãe.

Mark sentou-se ao lado de Anne e puxou o ar devagar. A mulher estava irritada. Ela cruzou os braços e as pernas, numa nítida forma de demonstrar a inquietação. Mark notou que, no fundo, apesar da irritação, ela sentiu-se desejada e querida por ele.

- Você quer que eu vá me desculpar?

- É claro que não! Você é louco? Jake não é idiota. Ele vai armar uma pra você. Pode esperar - a voz dela já havia se abrandado.

Mark deu de ombros. Se Jake resolvesse descontar de alguma forma, o máximo que poderia fazer era esperar a vingança do playboy. Mark não iria sofrer e nem ficar imaginando coisas mirabolantes com antecedência. O que tivesse que acontecer iria acontecer.

Anne se levantou e bateu as mãos na roupa para tirar alguma eventual sujeira.

- Afinal de contas, Mark, o que você estava fazendo por aqui numa hora dessas?

Mark olhou ao redor e viu o botão de rosa amassado no chão. Já havia se esquecido desse detalhe. Ele foi até onde a flor estava e pegou no embrulho plástico.

- Bem, eu queria te fazer uma pequena surpresa - disse estendendo a flor à Anne - Iria te acompanhar até a sua casa.

O canto da boca de Anne se inclinou sutilmente quando ela pegou a rosa.

- Não repare o estado em que ela ficou.

- É linda, Mark. Obrigada - disse ela levando a rosa até próximo ao nariz.

Ela inspirou devagar, fechando os olhos. Anne ficou assim por alguns instantes, antes de ser interrompida por Mark.

- Anne, acho melhor a gente ir andando. Eu acabei de cometer um delito.

- E onde estão as testemunhas? - indagou ela olhando para os lados.

Não havia mais ninguém além deles ali. Os poucos curiosos que pararam para olhar já haviam se dispersado e Mark suspirou, surpreso e aliviado por não ter aparecido algum policial para o repreender.

- Mark, eu preciso pensar um pouco. Acho melhor você ir embora. Eu vou ficar bem.

- Eu posso te acompanhar até a entrada do prédio?

- Vai pra casa Mark. Com toda certeza você precisa refletir um pouco também. Apesar de tudo, as suas atitudes estão um tanto apressadas. Você precisa se controlar melhor e manter um pouco a calma, ou vai acabar afastando as pessoas.

Mark engoliu em seco. Ela estava se distanciando dele por sua culpa. Talvez estivesse assustada com a sua atitude.

- Desculpe-me, Anne. Eu não quiz assustar você.

- Você não me assustou Mark. Eu só quero ter certeza de que não estou entrando em mais problemas. Eu preciso de uma boa pessoa em minha vida e quero muito acreditar que você possa ser essa pessoa.

Mark sorriu.

- Posso ser quem você quiser, Anne.

- Não Mark. Eu quero que seja você mesmo. Não quero que você mude para me agradar. Vai precisar me convencer de que é um bom homem.

Mark desviou os olhos, envergonhado. Ela tinha razão. Se fosse se empenhar em agradar alguém, teria que ser do próprio jeito, e não de uma forma fingida, ou então viveria uma vida de falsidade e essa não era a intenção.

- Mas, se quiser, - começou Anne, interrompendo os pensamentos de Mark - pode vir à minha casa amanhã. Posso preparar um almoço para nós dois.

- Sim, eu vou - respondeu Mark, sentindo o coração acelerar e uma semente de esperança germinar na terra seca de seus sentimentos.

- Então nos vemos amanhã - disse Anne dando um passo para trás e levando a flor novamente até o nariz.

Ela sorriu e Mark viu a sutileza no gesto da mulher. Era sem dúvida alguma, deslumbrante e sua beleza era ímpar.

Anne virou-se e foi andando em direção ao prédio onde morava. Seus cabelos ruivos balançando suavemente às suas costas, seguindo a delicadeza de seus passos.

Mark ficou parado, sem conseguir desviar o olhar. Em seu coração não restava dúvidas de que ele a queria, de uma forma simples e cativante.

Ele havia conseguido o coração de Anne, ou melhor, ela havia roubado seu coração.

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Olá meus queridos leitores!
Espero que estejam gostando da história! Tenho feito com muito carinho para vocês.

Aguardem novas emoções nos próximos capítulos. 😉

Um inverno entre nós (CONCLUÍDO)Onde histórias criam vida. Descubra agora