24. Tensão

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Mark dirigia seu Jeep pela estrada na volta para sua casa e revivia em sua mente os momentos que havia passado com a família. Havia conversado muito com o padrasto e com a mãe e havia percebido quanto o homem havia cuidado da mulher. Ele realmente a amava.

Mark culpava-se por ter sido tão egoísta com a família, que nada fizera para o entristecer, inclusive, refletiu que sua mãe tinha todo o direito de refazer a vida, assim como ele mesmo estava tentando fazer.

Em um dos diálogos, Mark havia pedido desculpas ao padrasto, e o homem foi categórico em afirmar que nada tinha a desculpar, pois Mark nunca o havia prejudicado e a cada vez que alguém se mostrava mais amável e compreensivo com ele, mais se sentia culpado, a ponto de desejar ir embora para não ter que encarar os familiares.

Depois de muito pensar, começou a admitir que o fim de seu casamento fora única e exclusivamente culpa sua. Não havia sido forte e suficiente para moldar o próprio caráter e se deixara levar pelos acontecimentos que foram impostos em sua vida desde a sua infância.

Paul, seu irmão, sofrera tanto quanto ele e, ainda assim, era um homem feliz, bem resolvido, tinha vários amigos e se relacionava bem com praticamente todos. Já Mark, perderá o contato com todos os amigos da infância e adolescência e os poucos que tinha, poderiam ser contados, com folga, em uma mão e, mesmo esses, demoravam semanas para serem contactados por Mark.

Durante o casamento com Liz, Mark mantinha uma vida social aceitavelmente ativa, frequentando esporadicamente a casa dos amigos e convidando-os para sua casa, após alguma insistência da esposa.

Quando Liz partiu, Mark se fechou em um casulo e sempre inventava desculpas para não visitar e nem ter visitas em casa. Pouco à pouco, a insistência dos amigos foi diminuindo, a ponto de ficarem meses sem se falarem.

***

Mark passou pelo totem que ladeava a entrada da cidade e entrou na via que levava à sua casa. Em poucos minutos estava entrando em sua garagem. Quando entrou em casa, sentou-se no sofá, pegou o celular e discou o número de Anne. A chamada insistiu até cair na caixa postal, então mandou uma mensagem avisando de sua chegada. Meia hora depois, às nove e quinze da noite, o celular tocou um ringtone curto, avisando o recebimento de uma mensagem.

"Oi querido! Que bom que chegou. Estava no jantar com a família. Acabei de me deitar. Eu vou ficar mais alguns dias aqui. O chefe me dispensou até o réveillon. Vou ficar com saudades."

Mark leu a mensagem várias vezes seguidas. Inicialmente, quis protestar com Anne, mas achou melhor deixar a mulher fazer o que quisesse, afinal de contas, ela estava com a família e estava bem.

"Certo, querida. Ficarei te esperando. Aproveite a casa da mamãe!"

Mark jogou o aparelho no sofá e ligou a TV para assistir ao noticiário, mas não conseguiu prestar atenção às notícias. Em sua mente passava somente o tempo que ele havia desperdiçado remoendo seus momentos de silêncio e solidão.

Até o final do ano teria ainda quatro dias livres sem ter que abrir a gráfica, então resolveu que a sua vida social deveria começar a mudar. Seus amigos o esperavam. Não aqueles da infância, pois nem mesmo se lembrava deles, mas os que fizera quando viera morar nessa cidade.

***

Ainda eram sete horas da manhã quando Mark se levantou. Fez sua rotina matinal e saiu. Enquanto dirigia ia se lembrando dos momentos bons que passara com os amigos. Foram poucos, porém bons.

Um inverno entre nós (CONCLUÍDO)Onde histórias criam vida. Descubra agora