5. Anne

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Hoje eu acordei tão cansada que foi difícil levantar da cama. Minhas pálpebras estavam pesadas e eu mal conseguia mantê-las abertas, pois a luz do sol estava refletida no espelho sobre a antiga penteadeira, duplicando a luminosidade.
Virei-me para o outro lado para tentar dormir mais um pouco mas foi impossível, já que naquela hora a imagem daquele homem se formou em minha mente. Estremeci e pisquei várias vezes tentando inutilmente fazê-lo sumir. Eu havia sentido medo dele, mas ele não parecia perigoso. Será que ele poderia ser um daqueles serial-killers que às vezes passam na TV? Não parecia, mas eu não podia confiar, afinal ele era um estranho.
Bem, confesso que ele era bonito e consideravelmente atraente, o que me deixava com mais receio. Eu não podia me deixar levar apenas pelas aparências. Era assim que muitas mulheres morriam nas mãos de assassinos violentos.
Mas ele me pareceu tão desconcertado quando criei coragem para falar com ele, que eu duvido que possa ser capaz de fazer mal a uma mosca. Talvez ele apenas estivesse reparando em mim, afinal, eu era uma mulher bonita. Não, a minha mente estava tentando me iludir a confiar em alguém totalmente desconhecido.
O que Jake diria se eu comentasse com ele? Certamente me proibiria de trabalhar, ou tentaria comprar uma briga comigo. Ou quem sabe não diria nada? Ultimamente ele não tem se importado tanto comigo e tem parado de me elogiar, como sempre fazia, além de ter diminuído consideravelmente a quantidade de vezes que me convida para algum programa juntos.
No meio desses devaneios, me levantei, fui até o espelho e ajeitei precariamente os meus cabelos, apenas para não ficarem bagunçados. Preparei um chá, uma omelete e sentei no sofá da sala que rangeu ruidosamente sob meu peso controlado. Liguei a TV e coloquei um filme do Nicholas Sparks que havia começado a ver no dia anterior. Quando terminou, peguei meu celular para ver as notificações. Não havia nenhuma mensagem de Jake. Disquei o número dele e ouvi chamando várias vezes antes dele atender.
- Alô - ouvi sua voz arrastada. Ele só ficava assim quando bebia.
Segurei a pequena explosão de indignação que comecei a sentir se formar na minha garganta.
- Jake, tudo bem?
- Sim... Mais ou menos.
- O que houve? Sua voz está meio grogue - disse tentando manter a calma.
- Minha cabeça está doendo. Só isso.
- Você saiu para beber, não é?
- Só bebi um pouco.
- Jake, não podia ter me avisado, ou talvez me chamando para sair com você? - minha voz agora já não estava calma - Poxa, eu sou sua namorada. Fiquei em casa...
- Por favor, Anne. Eu só fui beber umas cervejas com o Ramon - ele me interrompeu.
- Só foi... - eu estava indignada -E se eu te disser que um cara ficou me vigiando no meu trabalho enquanto você provavelmente enchia a cara com seu amiguinho gringo?
Pronto. Quando me dei conta já havia falado. Jake ficou mudo por uns instantes.
- Um cara... o que? - perguntou ele.
- Não importa Jake. Depois a gente conversa - eu disse tirando o telefone no ouvido enquanto Jake continuava a falar.
Desliguei a ligação. Não estava disposta a brigar com Jake novamente, o que ultimamente nós fazíamos frequentemente. Mas eu estava tremendo. Tremendo de raiva. O que havia de errado com Jake? Será que ele realmente se importava comigo? Eu queria uma pessoa que se interessasse por mim de verdade e ele não estava me mostrando isso.
Não poderia continuar com Jake dessa forma. Ele estava insuportavelmente alheio ao que eu desejava. Ele já não me atendia em quase nada é só pensava nas necessidades dele. Ele já não era o homem que eu havia conhecido há cinco anos. Eu estava farta de tentar ser boa para ele e não receber nada em troca. Isso iria acabar. Eu queria o fim.

Um inverno entre nós (CONCLUÍDO)Onde histórias criam vida. Descubra agora