25. Tentado

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Olá pessoal! Tenho uma pequena correção: Jeremy é piloto de vôo particular e não vôo comercial como eu havia escrito. Ele trabalha para uma empresa privada e não para uma companhia de vôo.

Agora vamos à história!

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Mark sentou-se novamente no sofá em frente a Jeremy. Dezenas de pensamentos permearam sua mente e ele não sabia qual deles era coerente ou incoerente.

Jeremy passou as mãos pelo rosto e esfregou as têmporas com força com os olhos apertados.

- Mark, eu... eu nao sei como está a sua vida - disse ele apertando as mãos - Ultimamente você tem ficado tão distante dos seus amigos que...

- Minha vida está muito melhor agora, Jeremy, mas onde você quer chegar com isso?

- Que bom - disse ele ignorando a pergunta de Mark - Eu percebi sua melhora assim que você chegou aqui. Parece mais feliz.

Mark deu de ombros. Não precisava e nem queria saber o que Jeremy estava achando de sua vida. Só queria entender porque o amigo estava tão incomodado com sua presença ali.

- Eu estava tentando achar uma forma de te falar isso, mas eu não consegui. Por duas vezes eu cheguei a sair daqui de casa para encontrar você, mas eu desisti no meio do caminho.

- Eu não estou entendendo, Jeremy - disse Mark

- Bem, você sabe que eu viajo para muitos lugares...

- Eu sei... - disse Mark cruzando os braços e interrompendo o amigo.

- Há dois meses e pouco eu fiz uma rota de vôo comum para mim, com o diretor da empresa para uma curso que ele iria fazer. Iríamos ficar três dias no local.

Mark notou que as mãos do amigo tremiam enquanto ele falava. O que quer que fosse, era algo importante e por mais que não quisesse acreditar, só pensava que seria algo que envolvesse sua ex-mulher. Qual outra razão deixaria Jeremy tão perturbado em relação às Mark?

- Saímos daqui no início da manhã de uma segunda-feira e pousamos em Florença, na Itália.

O coração de Mark quase parou e ele sentiu o sangue abandonar sua pele. Florença era o local onde morava a mãe de Liz. Por um instante ele desejou sair dali e não escutar o que o amigo iria contar, mas as suas pernas falharam miseravelmente e ele continuou sentado.

De repente a luta de sua vida pareceu totalmente vã e ele quase podia ver os fantasmas do seu passado o rodeando, tentando se infiltrar em sua vida outra vez para o perturbar.

Onde estaria Anne agora para o ajudar? Ela poderia lhe dar o auxílio que ele precisava. Mas estava novamente sozinho e não sabia o que viria pela frente.

- Nos hospedamos em um hotel no centro da cidade, e o diretor saiu na parte da tarde para seu curso.

Jeremy suspirou audivelmente, como se estivesse sufocado e se endireitou no sofá.

- Eu e o co-piloto ficamos no hotel para descansar na segunda-feira. Na terça-feira, andamos um pouco na cidade e à noite fomos à um barzinho ao lado do hotel para tomar uma cerveja. Quando eu cheguei lá...

Jeremy parou seu relato e olhou para Mark que estava impassível por fora, mas por dentro seus músculos tremiam. Precisava ouvir o que o amigo iria dizer mesmo que não quisesse.

- Eu a vi, Mark. Liz estava lá.

Um silêncio sepulcral se instaurou na sala da casa de Jeremy e o tempo pareceu se alongar mais do que o habitual. Mark já havia imaginado isso desde a menção de Florença, mas no fundo desejava que tudo não fosse uma mera brincadeira do amigo.

Os segundos que se transformavam copiosamente em minutos mostraram que não havia nenhum tipo de brincadeira nas palavras de Jeremy.

- Jeremy, eu estou com outra...

- Eu não terminei, Mark - interrompeu Jeremy com rispidez.

Mark encarou Jeremy com uma expressão surpresa no rosto. O que mais o amigo teria que contar?

- Então continue.

Jeremy se levantou, foi até a janela, ficando de costas para Mark e permaneceu ali por alguns instantes com o olhar vago, como se quisesse recordar um fato passado.

- Ela se assustou quando eu toquei o braço dela e ficou olhando para os lados procurando algo ou alguém que eu imagino ser você. Não posso culpá-la por achar isso, afinal ela tem o direito de não querer te ver.

- Jeremy, poupe os detalhes. Onde você realmente quer chegar? - perguntou Mark querendo encurtar aquela conversa que estava deixando-o um tanto quanto estressado.

- Nós nos beijamos, Mark - disse Jeremy repentinamente - Eu não pude evitar.

Nessa hora o chão sumiu sob os pés de Mark. Por mais que ele quisesse, não conseguia destruir os últimos e odiosos resquícios dos sentimentos que tinha por Liz. Anne estava agora em sua vida, mas em seu coração havia uma luta intensa em que sua ex-mulher estava perdendo, porém ainda estava viva.

Mark desejou que Anne tivesse voltado. Se fosse assim, ele não estaria ali na casa de Jeremy e talvez, nunca haveria de ter essa desagradável conversa.

Ele não conseguiria ver Jeremy novamente como um bom amigo e não tentaria continuar um diálogo sequer com ele.

Mark se levantou rápido, assustando Jeremy que se virou instintivamente, somente para vê-lo sair quase correndo pela porta da sala.

- Mark! - gritou Jeremy e saiu rapidamente atrás dele.

Mas Mark não estava ouvindo. Ele corria pelo longo quintal gramado salpicado de neve em direção ao seu carro. Em seu rosto a raiva estava visível e quase palpável.

Na mente de Mark nada mais passava além da frustração que sentia por ver-se traído por seu amigo.

Ele não queria olhar para Jeremy, mas sabia que o homem estava correndo atrás dele. Quando chegou ao carro, entrou o mais rápido que pôde e ligou o veículo.

- Mark, espera... - gritou Jeremy.

Ele bateu as mãos ao lado do capô quando Mark acelerou derrubando o amigo no chão.

Não queria saber se havia machucado Jeremy, só queria distância dele.

Agora ele sabia onde Liz estava e teria a chance de procurar por ela. Saberia o motivo pelo qual ela havia o deixado. Ele não pensou que Anne talvez pudesse não gostar disso.

Ele dirigiu imprudentemente pelas vias e parou o carro na entrada de sua casa. Desceu rápido e entrou correndo pela porta da sala.

Mark sentou-se no sofá e sentiu o nó de sua garganta se transformar em um choro triste e contido.

- DROGA! - gritou pegando o controle remoto que estava no sofá e espatifando-o no chão - PORQUE VOCÊ TEM QUE APARECER AGORA?

Então Mark foi para o quarto deitou-se em sua cama e ficou por quase uma hora. Depois de muito pensar, pegou seu celular e resolveu que Anne teria que saber essa história.

Um inverno entre nós (CONCLUÍDO)Onde histórias criam vida. Descubra agora