42. Paz

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A janela semi aberta deixava entrar uma fraca brisa que ondulava levemente a cortina impecavelmente branca. Uma prateleira de mogno comportava um relógio de pulso com o vidro quadrado, uma carteira e um celular. Uma poltrona azul marinho ocupava o canto do quarto e uma cesta com várias revistas estava posta no chão ao seu lado. Um pequeno móvel estava posto ao lado da cama e era preenchido apenas por um relógio-despertador azul. Um pequeno quadro na parede exibia a pintura de um campo gramado com árvores ao fundo, que contrastava com um limpo céu azul ensolarado.

Mark estava deitado na cama, imóvel, com os olhos fixos no teto alto com sancas de gesso. Sua mente vagava, pesarosa e ele não conseguia se lembrar de como chegara àquele lugar.

Sua cabeça latejava e ele sentia algo repuxar do lado esquerdo do seu rosto. Tentou levantar a mão mas a dor escruciante fez com que desistisse do movimento.

Mark pensou no terrível momento que passara há algum tempo, que nem mesmo sabia quanto era. Talvez estivesse ali por algumas horas, talvez alguns dias, ou, quem sabe, por meses a fio. Ele se lembrava apenas de ter perdido o controle do carro, rodado, saido da pista e agora de ter acordado naquele lugar.

A imagem de Anne rondava sua mente e ele desejou que ela estivesse ali, fazendo-lhe companhia. Queria sentir o toque de suas mãos passando-lhe calor e serenidade, como só ela sabia fazer.

Ele tentou desviar Jake de seus pensamentos, mas foi em vão. O playboy estava ali em sua mente, mais vivo do que nunca, mas Mark não teve raiva dele. Seu sentimento era de pena. Apenas isso.

Naquele momento, não conseguiu odiar um ser tão fraco, mesquinho e medíocre como Jake.

Mas, por mais que seu sentimento fosse frio em relação ao rival, Mark queria sair dali e vê-lo pagar pelos erros cometidos e por ameaçar Anne. Aquela história não iria parar por ali e Mark queria fazer de tudo para que tudo fosse esclarecido.

***

O relógio tiquetaqueava lentamente sobre o pequeno móvel ao lado da cama e Mark acompanhava as batidas, pacientemente, como se fosse o seu maior hobby. Estava acordado há quase meia hora e ninguém havia aparecido ali. Talvez sua saúde não estivesse em pior estado e outros pacientes precisassem de maior atenção.

De certa forma, gostou daqueles momentos de solidão. Usou aqueles breves minutos para refletir sobre a sua vida e pensar um pouco no futuro. Já havia planejado algo em sua mente e faria, assim que saísse dali.

O silêncio daquele lugar e a paz daquele quarto era devido ao plano de saúde que Mark pagava durante muito tempo, apesar de nunca ter usado. Na última semana, sem que Anne soubesse, incluiu o nome dela aos dependentes mas não chegou a falar com ela.

Até às onze horas, apareceram de hora em hora, alguns enfermeiros e simplesmente fizeram poucas perguntas rápidas e examinaram Mark, que por sua vez ficou indiferente ao tratamento que lhe era dado. Não queria conversar e sentia um vazio maior do que conseguia se lembrar.

Por alguns instantes, lembrou-se de sua vida antes da chegada de Anne e chegou à conclusão de que aquela mulher havia mudado sua vida de uma forma pouco convencional, porém, espetacularmente boa e bem-vinda. Mais uma vez, sentiu-se sozinho e desejou a companhia da mulher. Ela o fazia feliz e ele queria viver ao lado dela para sempre. Faria isso, mesmo que tivesse que abandonar a casa, a gráfica e o que quer que fosse. Queria tão somente viver com Anne, acordar ao seu lado, vê-la todos os dias, dormir ao seu lado, construir uma família feliz ao lado da mulher que amava.

Porém, nessa hora, ele não fazia a mínima ideia de onde ela estava.

***

Um inverno entre nós (CONCLUÍDO)Onde histórias criam vida. Descubra agora