11. Jake

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A temperatura da água estava agradável quando eu entrei na espaçosa banheira no suíte de meu quarto. Por alguns segundos me submergi por completo, prendendo a respiração. Quando emergi, meus cabelos estavam grudados em meu rosto e pescoço.
Não iria mais vigiar Anne. Na certa ela havia blefado naquele dia, na intenção de me provocar ciúmes. Além do mais, era uma extrema perda de tempo ficar parado ali sem ter nada o que fazer, vendo aquelas pessoas entrando e saindo infinitamente. Era tedioso.
E o que dizer do trabalho de Anne? Era horrível. Como ela podia se rebaixar a isso? Insistia com relutância para ficar naquele empreguinho medíocre enquanto eu poderia comprar-lhe o que quisesse a qualquer hora. Ela ainda pensava como uma pessoa de classe baixa e acreditava em trabalho e esforço para conseguir subir na vida. Isso não existia. O que realmente existia era sorte.
Eu tivera sorte em encontrar uma mulher tão bonita e atraente a ponto de colocar inveja em qualquer homem e por esse motivo eu não a perderia.
Ela também tivera muita sorte em me encontrar. Eu não namoraria com qualquer uma que aparecesse, ainda mais não sendo uma pessoa da nata da sociedade. Ela realmente havia me conquistado e eu tentava há anos apagar a memória de pobrezinha que ela tinha.
Presenteei-a muitas vezes com coisas bonitas e caras, de grifes que poucos comprariam, mas quando saíamos durante o dia, ela sempre se encantava com roupas nas vitrines de lojas comuns e bijuterias baratas que estragariam dentro de pouco tempo. Certa vez comprei um vestido para ela que, eu sei, nenhuma mulher tem um igual. Foi feito especialmente para ela mas Anne o usou apenas uma vez.
Ela sempre aceitava tudo, mas vinha inúmeras vezes contando a história de seus pais, que a haviam criado batalhando a vida toda e hoje viviam até uma vida boa para um casal se meia década, numa cidadezinha há trezentos e poucos quilômetros dali. Tinham uma casa, e um carro popular, dessas marcas comuns e parece que isso era tudo o que desejavam. Esses eram pensamentos pequenos de gente pobre e eu detestava isso, mas logicamente eu nunca havia deixado transparecer isso para Anne.
Ela insistia em morar num apartamento alugado e repugnou a ideia de morar comigo em uma das casas de meu pai. Ultimamente tem falado demais em juntar dinheiro para comprar a própria casa, como se, depois de casar, eu fosse morar numa casa comprada por ela. E essa coisa de casamento? É irritante. Anne fica falando em casar de véu e grinalda, numa igreja enfeitada com flores e luzes. Pura idiotice. Mas isso eu até abro mão, até porque minha mãe tem o mesmo pensamento e eu já estou acreditando que isso é sonho de mulher.
Mamãe fica dizendo pra eu valorizar Anne. Diz sempre que mulher batalhadora como ela é difícil de encontrar. Ela idolatra Anne. Meu pai também tem um carinho especial por ela. Parece, as vezes, gostar mais dela do que de mim.
Anne aprenderia a viver como uma mulher da minha classe, afinal eu seria o futuro dono das transportadoras de papai e eu teria que comandar aquilo tudo junto com ela. Não seria uma tarefa fácil, mas Anne era inteligente e saberia fazer todo o trabalho.
Eu me levantei ainda dentro da banheira e abri o escoadouro. Liguei a ducha e deixei a água bem quente cair sobre os meus ombros. Depois, desliguei, me sequei e fui para o quarto e vesti uma roupa. Parei em frente ao espelho qua ocupava grande parte de uma das paredes e ajeitei com as mãos meus cabelos.
Numa hora dessas Anne estaria trabalhando e era uma boa hora para ir tomar uma cervejinha com Ramon. Peguei o celular, liguei para ele e combinamos de ir a um barzinho. Quase uma hora depois, já estávamos lá e bebemos até quase uma hora da manhã.
Fui para o estacionamento do bar, peguei a chave do carro e apertei o alarme. Meu Land Rover branco piscou os faróis duas vezes e emitiu um som agudo. Abri a porta, entrei e liguei o carro. Minha visão deu uma pequena tremida e eu sabia que era o efeito do álcool. Ainda assim, dirigi até em casa sem cometer nenhum delito.
Coloquei o carro na garagem e entrei em casa. A última coisa que me lembro foi de me jogar na cama sem ao menos trocar de roupa e fechar meus olhos.

Um inverno entre nós (CONCLUÍDO)Onde histórias criam vida. Descubra agora