9. Nervos

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Mark abriu a porta de sua casa, entrou e se jogou no sofá. Seus pensamentos estavam fixos em Anne. Pelo caminho até chegar em sua casa, lutou para entender o que sentia e inegavelmente concluiu que estava apaixonado por ela.
Como pudera viver uma vida medíocre durante três longos anos? Como pudera entrar em uma zona de conforto tão deprimente e ficar se remoendo incessantemente? Se estava conseguindo melhorar, devia tudo à velha senhora Wilson, que o fizera abrir os olhos. Com toda certeza reportaria seus progressos a ela. Contaria como ela o ajudara.
Mark ficou sentado ali durante o que pareceu horas. Estava extremamente ancioso. Deveria ir ver Anne no dia seguinte? Ou pareceria que estava forçando a barra? Ele não podia esquecer que ela ainda tinha Jake. Não ignoraria esse fato tão importante e desconfortável. Só de pensar em Jake, Mark sentiu um arrepio na espinha. Um único ato que ele vira Jake executar tinha deixado-o com uma extrema antipatia pelo homem. Ele sim merecia a polícia em seu encalço. Se conseguia agir daquela forma com uma mulher em público, o que seria capaz de fazer longe dos olhos de outras pessoas. Mark não ignorou o pensamento de que Anne pudesse estar correndo algum tipo de perigo com Jake por perto.
Talvez estivesse exagerando. Anne não havia mencionado em momento algum que Jake era um homem violento. Mas ele estava sim se transformando em um alcoólatra e muitos alcoólatras ficam violentos.
"Será que devo ficar de olho neles?" - pensou Mark ainda jogado no sofá da sala.
"Não, não é necessário e nem possível." - sua consciência respondeu imediatamente.
Mark deu um longo suspiro e se levantou lentamente, indo em direção ao banheiro. Tomou um banho quente e entrou para seu quarto. Depois de relaxado, ficar com os olhos abertos era praticamente impossível, então ele apagou as luzes, deitou-se e, feliz, adormeceu.
•••
Mark sentou-se à mesa para tomar seu café da manhã. O dia estava muito frio e até mesmo as paredes da casa não estavam conseguindo manter uma temperatura agradável ali dentro.
O relógio pendurado sobre a porta da cozinha emitiu um sinal quando marcou sete horas da manhã e Mark bebeu o último gole de café e saiu para o trabalho. Chegaria mais cedo, mas ele constatou que trabalhar o faria distrair sua mente anciosa.
Mark conferiu o relógio dezenas de vezes durante todo o dia. A espera estava deixando-o aflito e ele já havia decidido que queria ver Anne, mesmo que não conseguisse trocar uma palavra com ela.
Quando saiu do trabalho, ele foi para casa o mais rápido que pôde, aparou a barba que já estava um pouco evidente, tomou banho e se arrumou o melhor que pode. O frio castigava impiedosamente quando Mark saiu de casa às sete da noite. Antes de chegar ao destino, ele estacionou o carro e atravessou a rua em direção à uma pequena floricultura. Escolheu apenas um botão de rosa vermelha, envolvido em celofane brilhante transparente e amarrado com uma fita de cetim branco. Ele voltou correndo para o o carro, colocou a rosa no banco do carona, ligou o carro e continuou seu trajeto, tentando imaginar uma forma criativa de surpreender Anne.
Quando parou o carro novamente, ao olhar para a porta do estabelecimento, seu coração deu uma pancada forte e ele estacou com a mão esquerda na maçaneta interna da porta. Mark apertou involuntariamente os dentes, fazendo os ossos do seu maxilar doerem. Ainda que um pouco longe, ele conseguiu distinguir perfeitamente a forma de um homem alto, com seus cabelos pretos desgrenhados. Era Jake.
Mark suspirou enfurecido e, num acesso de raiva, deu um soco no volante. Ele sentiu um impulso de sair do carro e socar Jake, mas seu bom senso, muito mais ajuizado do que os seus nervos, não permitiu. Então Mark puxou o ar devagar, soltou pela boca e desceu do carro, deixando a rosa sobre o banco do carona. Ele andou alguns metros e atravessou a rua indo em direção a porta da lanchonete. Mark sentiu seu rosto arder e ele viu que Jake o observava. Era óbvio que Jake não o conhecia e nem fazia ideia das intenções dele, mas o simples fato de estar ali, aparentemente tomando conta de Anne, já havia irritado Mark profundamente.
Ele passou por Jake, tentando a todo custo ignorar a presença dele ali na porta. Quando Mark entrou, foi direto à uma mesa no canto, onde havia pouca luz. Depois de uma olhada ao redor, ele identificou Anne. Ela estava preparando café para um de seus clientes e seu rosto estava tenso, sem aquele brilho que Mark havia visto nos dias anteriores.
Ela demorou a notar Mark, e quando o fez, baixou rapidamente os olhos, tentando não mostrar nenhuma alteração no semblante.
Mark olhou de relance para a porta, onde Jake estava e constatou que ele realmente estava ali irritantemente vigiando a namorada. Ele olhava para dentro, na direção de Anne a todo instante, como se ela fosse sair dali. Foi então que Mark se lembrou que dá segunda vez que viu Anne, ela havia pedido para que ele parasse de olhar para ela. Talvez ela houvesse relatado o acontecido a Jake e ele se sentisse no direito de tomar conta dela mais de perto.
Então Mark a viu se aproximar rapidamente, com o bloquinho na mão. Ela não sorriu e ele fez o mesmo, entendendo a intenção da mulher. Ela o atendeu sem olhar diretamente e pareceu escrever mais do que precisava em seu bloquinho. Ela saiu e não se demorou em voltar com o pedido de Mark. Ela colocou a bandeja sobre a mesa e saiu desejando "Bom apetite" a Mark.
Ele não demorou a notar as palavras rabiscadas num guardanapo dobrado e a caneta no canto da bandeja. Então, discretamente, ele leu, sem pegar o papel.
"Mark, Jake está de olho em mim. Brigamos feio ontem. Não converse comigo. Anote seu telefone no guardanapo que eu te ligo. Anne."
Mark sentiu uma onda de repugnância subir à sua garganta, mas se conteve. Comeu rapidamente seu sanduíche, anotou seu número e foi pagar a conta. Pelo canto do olho ele viu Anne se dirigir a mesa em que ele estava, então saiu, passando por Jake e foi para casa.

Um inverno entre nós (CONCLUÍDO)Onde histórias criam vida. Descubra agora