41. Estilhaços

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Meus olhos se abriram vagarosamente e, por um instante, fiquei num estado de cegueira. A luz era intensamente branca e demorei a me acostumar. Eu estava deitada, um pouco atordoada, mas isso não foi o suficiente para impedir que aquelas terríveis lembranças voltassem à tona.

A imagem que eu tinha de Mark era a que eu tinha visto no carro, logo após o acidente. Comecei a chorar desesperadamente e odiei Jake com todas as minhas forças.

Eu não sabia onde Mark estava, não sabia como ele estava e, por mais que eu não quisesse pensar nisso, não conseguia tirar a ideia de que, talvez, ele já tivesse partido dessa vida. Minha esperança era sair dali e vê-lo me esperando na recepção, mas na mesma hora que eu pensava nisso, a última imagem que eu tinha dele me voltava a memória, nítida, como se fosse ao vivo.

Eu me virei um pouco para o lado e deixei que minhas lágrimas molhasses o travesseiro. Minhas forças não me permitiam sair dali e eu estava desolada. Eu não podia acreditar que eu estava sozinha, sem Mark, sem ninguém, mas agora essa era a minha realidade.

Depois de alguns minutos ali sozinha, ouvindo apenas os sons que vinham do corredor hospitalar, a porta se abriu e uma enfermeira entrou no quarto. Ela sorriu gentilmente para mim e eu pude ver um pouco de tranquilidade naqueles olhos verdes.

Ela sentou-se na cadeira almofadada que estava ao lado da cama e tocou minha mão esquerda, que estava enfaixada e dolorida.

- Anne, está se sentindo bem? - ela perguntou com sua voz calma.

Eu apenas assenti, tentando não cair no choro novamente.

- Você sabe onde Mark está? Ele estava comigo...

Eu não consegui terminar a frase sem que um horrível nó se formasse em minha garganta. Respirei fundo e pisquei rápido, evitando que novas lágrimas caíssem.

- Anne, aqui é o hospital do convento. Nós só atendemos mulheres. Na certa ele estará em outro hospital - disse a enfermeira - Eu vou verificar e vou lhe trazer notícias. Mas fique tranquila.

- Obrigada - agradeci com sinceridade.

- Procure descansar, Anne. Seus pais devem estar chegando. Entramos em contato com eles assim que você chegou aqui.

Eu me assustei com o fato de minha mãe me ver nessa situação. Conhecendo ela como conheço, imagino que ela deva ter que se surtado ao saber do acontecido.

A enfermeira trocou um curativo que estava em meu braço e saiu da sala me desejando melhoras. Eu estava sem meu celular, graças ao Jake, não sabia de cor o número do Mark então não podia tentar ligar para ele, graças ao Jake e estava em um hospital, graças ao Jake.

Ele era o que de pior havia acontecido em minha vida, e quando saísse dali, eu iria direto à polícia. Certamente ele também deveria estar em um hospital, mas não era por minha culpa.

***

Quando eu despertei novamente, meus pais já estavam sentados ao meu lado. Meu pai sério e minha mãe com os olhos vermelhos de choro.

- Anne, minha filha, - exclamou ela ao me ver acordada - fiquei tão preocupada com você.

Meu pai segurou a minha mão e beijou minha testa.

- Que bom que está bem, querida - disse ele - O que aconteceu?

Não consegui responder. O choro veio mais rápido do que eu imaginava e a imagem de Mark surgiu na minha cabeça. Minha mãe me abraçou e passou a mão pelos meus cabelos, enquanto meu pai apertava levemente minha mão. Deixe-me levar pelo embalo do colo de minha mãe e chorei até que o peso de tudo não fosse um fardo tão pesado. Eles nada falaram, ficaram ali, em silêncio, respeitando o meu momento de tristeza.

- Eu estava com Mark - eu disse enfim, depois de muitos minutos - mas a culpa foi toda de Jake.

Meus pais se entreolharam e eu fiquei em dúvida se eles já sabiam do acontecido.

- Eu não sei onde Mark está agora. Estou tão preocupada.

- Fique calma filhinha, - disse meu pai - vai ficar tudo bem. Não fique se preocupando tanto...

- Como, pai? Eu já estou angustiada com tudo isso. Nao sei onde Mark está. O Jake já tentou acabar até com a minha vida. Não sei se suporto mais tanta pressão. Vou sair daqui e vou denunciar aquele maluco para a polícia.

Meus pais se entreolharam novamente e eu percebi, pela longa experiência, que eles estavam escondendo alguma coisa de mim. Pensei em Mark, mas achei que eles, principalmente minha mãe, não seriam capazes de vetar algo de que eu pudesse querer saber. Mesmo assim, eu tinha que me certificar de que tudo estava bem.

- Mãe, tem alguma coisa que quer me falar? - perguntei.

- Não, não - respondeu ela rapidamente - Está tudo bem, Anne.

Ela não precisava falar mais nada. Eles sabiam de algo que eu não sabia e estavam dispostos a esconder.

- O que houve com o Mark, mãe? - perguntei começando a entrar em desespero.

- Anne, minha filha, fique calma - disse meu pai - nos ainda não tivemos notícias de Mark. Nós não sabemos onde ele está.

- Então o que é?

Meu pai baixou a cabeça e minha mãe pareceu muito interessada na barra de ferro da cama.

Algo estava por vir. Eu não sabia se estava preparada para ouvir.

- Anne... - começou meu pai, cauteloso - Jake está morto.

***
Olá meus queridos! Primeiramente desculpe a demora para postar. Espero que tenham gostado desse capítulo curtinho.

Abraços para todos.

Um inverno entre nós (CONCLUÍDO)Onde histórias criam vida. Descubra agora