33. Liz

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Eu estava incomodada e, ao mesmo tempo, ansiosa. Jeremy estava à minha frente e eu estava prestes a contar algo que jamais havia exposto à ninguém, nem mesmo para minha mãe. O que me levava a confiar nele era algo que nem eu mesma podia explicar. Talvez o fato de termos sido bons amigos no passado, ou talvez nosso antigo relacionamento tenha me feito mais apegada a ele.

O fato é que eu guardo esse segredo por três anos e isso me corrói. Se eu contasse para minha mãe, ela com certeza me julgaria, crucificaria e jamais me veria com os mesmos olhos. Talvez até cortasse as relações comigo. Ela jamais aceitaria essa situação.

Eu estava infeliz. Minha vida havia se tornado uma mentira e um terrível desastre desde aquele dia. As vezes penso que se ainda estivesse com Mark, poderia ser mais feliz, mas eu não conseguia mais vê-lo com afeição. Isso era uma barreira que eu mesma havia criado dentro de mim.

Durante os dias em que eu me sentia extremamente deprimida depois da separação, cogitei ligar para Mark, mas eu não conseguiria nem mesmo ouvir sua voz. Eu me odiava por estar arrependida, então eu me fechava ainda mais, protegendo meus sentimentos frustrados em uma redoma de vidro.

Mesmo que eu me aproximasse novamente de Mark, minha culpa jamais sairia de diante de meus olhos e eu viveria ainda mais infeliz do que agora.

Durante várias noites eu chorei inconsolávelmente, mas sabia que era um choro em vão. Eu chorei por mim, por Mark e pela vida que não fora satisfatoriamente boa. Eu lamentei amargamente o bebê que eu mesma havia arrancado de dentro de mim. Eu estava destruída por ter irreparávelmente acabado com uma vida. A vida que seria a descendência de Mark. Minha descendência.

Mas o pior já havia acontecido e eu não teria como voltar atrás. Eu precisava continuar a viver, mesmo que não tivesse mais motivos para isso.

Agora, olhando para o rosto pálido de Jeremy, eu via um atordoamento implacável. Ele havia apenas ficado mudo diante do que eu havia acabado de relatar e parecia não querer sair desse estado de apreensão.

Eu apenas baixei minha cabeça e fiquei esperando até que ele se manifestasse. Nos quase dez minutos que se passaram, ouvi somente o barulho das pessoas ao nosso redor e nossa mesa, silenciosa, mais parecia um túmulo sendo visitado.

- Eu não sei o que pensar sobre isso, Liz - disse ele por fim.

- Pense o que quiser, Jeremy. Eu não posso desfazer o passado.

- Mark jamais poderá saber sobre isso.

- Eu não me importo mais. Agora, se ele souber, não fará diferença.

Jeremy maneou a cabeça devagar sem tirar os olhos de mim.

- Queria que você não tivesse me contado isso.

- Eu estou cansada, Jeremy. Cansada de me esconder, de mentir e de viver de aparências. Eu sei que eu nunca terei paz na vida e que essa culpa jamais vai me deixar.

- Provavelmente - disse ele - mas não adianta ficar se remoendo.

- E como não vou ficar? - eu indaguei com a voz embargada.

Meus olhos se encheram de lágrimas e eu olhei para cima, tentando afastar o choro que estava se formando em minha garganta.

- Jeremy, eu queria apenas uma vida normal, mas eu não consegui. Eu achei que estava agindo certo, mas tudo foi um enorme erro.

Jeremy colocou mais um pouco de vinho nas taças e apoiou os cotovelos sobre a mesa. O olhar dele era, de certa forma, compreensivo e piedoso, mas eu sabia que piedade jamais resolveria os meus problemas.

Minhas questões interiores não seriam resolvidas facilmente e eu repugnava minhas atitudes do passado, que haviam me trazido tanta amargura, raiva, tristeza e decepções. Eu sempre me pegava pensando no que aconteceria se eu tivesse sido mais forte e mais decidida em minhas opiniões. Se eu não tivesse agido de forma tão passiva com Mark, certamente eu teria outra história para contar. Com toda certeza, seria uma história de felicidade e não esse poço sem fundo em que eu continuo caindo a cada dia.

Jeremy se remexeu na cadeira, me tirando de meu pequeno devaneio.

- Liz, eu quero pensar um pouco - disse ele.

- Não se esqueça de sua promessa - eu disse quase em súplica.

- Eu não vou me esquecer. Eu quero que você fique bem.

Ele pegou sua carteira no bolso, chamou o garçom e pediu a conta. Depois de pagar, ele se levantou e estendeu a mão para mim.

- Vamos?

Eu sorri um pouco constrangida, segurei sua mão e nós saímos do bar.  Eu sabia que Jeremy não se esqueceria de sua promessa. O que eu não sabia era se ele iria cumprir.

***

Olá gente bonita!!!
Espero que tenham gostado desse capítulo.

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Abraços!

Um inverno entre nós (CONCLUÍDO)Onde histórias criam vida. Descubra agora