10. Contato

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Durante os dois dias que se passaram Mark nao foi à lanchonete. Ficou em casa com sentimento de total impotência diante da delicada situação que enfrentava. A bonita rosa vermelha que havia comprado na noite de segunda-feira ainda estava jogada no banco do carro, mas agora estava murcha e amarronzada. Ainda assim, o carro estava perfumado com o doce cheiro da flor.
A terça e a quarta-feira haviam passado monotonamente devagar e todos os relógios pareciam tiquetaquear absurdamente lentos, intensificando ainda mais a lentidão durante as noites.
Mark já não sabia o que fazer. Cogitou fazer uma ligação anônima para a polícia e denunciar Jake, mas os argumentos que imaginou não estavam convencendo nem a ele mesmo, muito menos convenceria a polícia. Ele sentiu-se de mãos atadas e esperar a ligação de Anne era a única coisa que poderia fazer. Ainda assim, depois de um longo dia de trabalho na quarta-feira, desviou seu caminho para casa e passou em frente à lanchonete. Jake estava lá, parado como uma estátua, porém do outro lado da rua. Seu estilo era de um badboy marrento e mimado. Mãos nos bolsos, blusão de touca, calças largar e boné com as iniciais NY de New York.
A vontade de socar Jake ainda estava latente e só ver o rosto dele já era o suficiente para irritar Mark. Ele já nem sabia se pensava mais em Anne ou em Jake. O que sabia era que alimentava sentimentos totalmente opostos pelos dois.
Mark evitou olhar demais, para não levantar suspeitas e passou por Jake, imaginando até quando o homem faria o papel de babaca na vida de Anne.
Já eram quase dez horas da noite quando por um estalo, uma ideia passou pela mente de Mark. Se Anne não estava satisfeita com Jake, porque ela simplesmente não terminava o namoro com ele? Será que seria tão difícil assim? Ou será que Jake de alguma forma a havia ameaçado? Esses pensamentos inquietam a mente de Mark. Será que Jake chegaria a esse ponto? Mark não duvidava nem um pouco. Então porque Anne insistia em continuar com ele, mesmo não querendo mais? Sim, Jake a havia ameaçado. Era a conclusão mais óbvia que Mark fizera. O que não sabia era o que faria agora. Ligar para a polícia estava fora de cogitação. Encontrar-se com Anne era impossível na atual situação em que se encontrava.
Esses pensamentos popularam a mente de Mark durante algum tempo, mas deitado ali no escuro em sua cama, o sono logo veio e ele sem se conter, adormeceu.
...
A quinta feira havia iniciado com uma temperatura agradável. Estava mais quente e o sol brilhava no céu, fazendo derreter vagarosamente​ a neve que estava acumulada no chão.
Mark saiu para o trabalho, pensando em Anne e Jake. Ela ainda não havia ligado e essa espera o estava deixando angustiado. Pensou em aparecer novamente no trabalho de Anne, mas isso talvez pudesse ameaçar a segurança dela, se é que estava em segurança.
De hora em hora Mark conferia o celular para ver se havia alguma chamada que ele não havia visto, ou alguma mensagem. Não havia nada. No final do expediente, Mark foi direto para casa. Chegando lá ele colocou o carro na garagem, atravessou a lateral do jardim e entrou, indo direto para o banho. Havia apenas tirado a camisa quando ouviu seu celular tocar sobre o balcão da pia. Ele pegou o aparelho e viu que não conhecia o número.
- Alô?
- Mark? - indagou a voz sussurrante do outro lado e Mark reconheceu a voz de Anne.
- Anne, graças a Deus. Onde você está?
- Estou no trabalho - disse ela baixinho - Consegui escapulir para o banheiro. Está bem cheio aqui hoje. Desculpa não ter te ligado antes, mas Jake estava na minha cola.
- Está tudo bem com você? - perguntou Mark com urgência.
- Sim, está, mas Jake não está me deixando sozinha nem um minuto. Esta irritante.
- Anne, ele a ameaçou?
Ela pareceu pensar por um mísero instante
- Aconteceu muita coisa desde o domingo, mas não se preocupe. Vou tentar te ligar depois. Não posso me demorar aqui.
- Vou esperar.
- Obrigada, Mark.
- Eu é que tenho que agradecer. - disse ele com sinceridade, pensando em tudo que Anne representava para ele.
Então ela desligou e Mark ficou por quase dois minutos parado com o celular na mão, incapaz de fazer alguma coisa diferente. Ele se achou um idiota por falar tão pouco, mas Anne não tinha deixado espaço para muitas perguntas. Foi então que Mark percebeu que seu queixo estava tremendo e ele, descalço e sem camisa, estava sentindo muito frio. Rapidamente se despiu e entrou debaixo da água quente do chuveiro. Ele ficou mais de meia hora debaixo da água, pensando como Anne o fizera mudar de vida tão abruptamente. Então Mark desligou o chuveiro, se secou, vestiu seu pijama de mangas longas e calças compridas e um velho e grosso roupão surrado.
Após preparar o seu jantar, Mark sentou-se à mesa da cozinha para comer e ficou imaginando Anne ali, andando por aqueles cômodos, ou ajeitando a casa do jeito dela. Permitiu-se um sorriso de satisfação e não pode deixar de pensar em como gostaria de ver essa cena. Mark nunca havia ficado assim, nem mesmo quando conhecera Liz há alguns anos atrás.
Ficou ali durante vários minutos, até que o restante da comida esfriasse em seu prato, então se levantou, escovou os dentes e foi para seu quarto, que o esperava para uma noite muito mais tranquila.

Um inverno entre nós (CONCLUÍDO)Onde histórias criam vida. Descubra agora