40. Mark, Anne e Jake

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Jake continuava a esmurrar a porta e eu já não sabia o que fazer. Chamar a polícia poderia ser uma opção, mas até que chegassem aqui, algo pior já poderia ter acontecido.

- Anne, Anne! - disse Mark - Não desliga. Porque esse cara tá aí?

- Não sei ao certo, Mark - eu disse, me encolhendo depois de mais uma batida estrondosa na porta - Eu te disse que eu tentei resolver o problema sozinha. Talvez ele tenha descoberto.

- Seu apartamento tem duas portas. Saia pela outra!

- Elas dão no mesmo correndo. Não vai adiantar.

- Droga - grasnou Mark irritado.

Eu estava com medo. Muito medo. Jake estava louco e Mark furioso. Nesse caso eu era o ponto fraco da história. Se Jake conseguisse entrar, eu não sei o que ele faria comigo e se Mark encontrasse Jake, não sei o qual seria a reação dele.

Agora era esperar e ver o que iria acontecer.

- Anne! - vai para a outra porta.

- E se eu tentar conversar...

- Não se atreva a fazer isso! - disse Mark - Esse cara é maluco!

Ele deu mais um soco na porta e então eu apressei meus passos para a cozinha.

- Anne! Abre aqui. Eu quero conversar com você - disse Jake com a voz mais mansa.

Eu não iria abrir, mesmo que ele se transformasse em um pônei saltitante. Jake era descontrolado e impulsivo e eu não estava com a mínima vontade de vê-lo.

Com as luzes apagadas, eu tateei até a porta da cozinha e verifiquei se ela estava trancada. Eu apoiei as costas contra a parede e segurei a respiração por alguns segundos. O silêncio reinou absoluto e por um instante eu pensei que ele havia ido embora.

- Mark, onde você está? - perguntei baixinho.

- Estou chegando. Mais dois minutos...

Não consegui ouvir o restante da frase de Mark. O único som que ouvi foi do murro que Jake deu na porta da cozinha.

- Anne! Abre essa porta, droga! Eu sei que você está aí! - esbravejou Jake.

Meu celular caiu com o susto que tomei e se espatifou contra o piso. Não havia tempo de resgatar o aparelho. Mark chegaria e, se eu tivesse sorte, ele não se encontraria com Jake. Essa era a esperança que eu estava nutrindo, mesmo sabendo que seria quase impossível.

Corri de volta para a sala e fiquei um pouco distante da saída. Jake continuava a esmurrar a porta e eu percebi que sua intenção era arrebentar a coitada. Se ela aguentasse mais alguns minutos eu estaria salva.

Coloquei a mão na chave da porta da sala. Se Jake conseguisse entrar pela cozinha, eu sairia correndo pela outra entrada. Era um plano fajuto, mas eu não estava com tempo o suficiente para planejar algo mais elaborado.

Nessas horas de aperto não aparecia nenhum vizinho curioso para perguntar o que estava acontecendo. Justamente na hora em que a gente mais precisava.

Outra pancada na porta sinalizou que ela estava cedendo. Apertei a mão na maçaneta e aguardei o momento da fuga. E o momento chegou mais rápido do que eu esperava. Vi a luz do corredor entrar na cozinha e a porta bater contra a parede atrás dela. Jake desabou no chão e se levantou mais rápido do que eu desejava.

Minha mão trêmula girou a chave e a maçaneta na mesma hora e eu disparei pelo corredor em direção às escadas. O elevador demoraria a chegar e eu não estava a fim de ficar esperando numa situação como essa. Ouvi Jake gritar meu nome, mas não olhei para trás para saber se ele estava vindo. Desci correndo pelos degraus de mármore, enquanto as luzes com sensores acendiam ao meu passar. Quando cheguei no andar de baixo, ouvi Jake gritar novamente. Ele já havia percebido que eu não estava mais lá. Agora era somente uma questão de tempo até ele me alcançar. Ele com certeza corria muito mais do que eu e minhas pernas não estavam em condições de ter muita agilidade.

Um inverno entre nós (CONCLUÍDO)Onde histórias criam vida. Descubra agora