34. Acuado

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Quando saí da Royals, Mark já estava dentro do carro, com os olhos fechados e a cabeça encostada no apoio do banco. Eu entrei no carro, ajeitei-me no banco e olhei para ele, tentando não transparecer minha preocupação.

- Eu estou um tanto azarado, não estou? - disse Mark.

- Talvez - respondi - mas pode ter sido apenas uma coincidência.

- Eu espero que sim. Realmente espero.

Eu não continuei o assunto. Em minha mente, se eu contasse para Mark sobre a transportadora, ele poderia fazer algo extremamente impensado. Eu já tinha visto Mark nervoso por um motivo bem menor do que este e não queria vê-lo assim novamente.

Mark ligou o carro e partiu em direção ao meu apartamento. No pequeno trajeto, nós dois não trocamos uma palavra, até que o carro estacionou em frente ao prédio.

- Vai subir um pouco? - perguntei, mas hoje eu estava desejando que ele não subisse.

- Eu até queria, meu amor, mas eu já me estressei com esses problemas. Preciso fazer um levantamento dos serviços que eu perdi, ainda hoje.

- Eu entendo. Você parece exausto. Acho melhor você descansar bem. Não quero que fique nervoso demais.

- É, vou descansar.

E dizendo isso, ele se inclinou em minha direção e trocamos um longo beijo.

- Eu te amo, Anne.

- Também te amo.

***

Eu corri para dentro do prédio, fugindo do vento frio que havia começado a soprar. Cumprimentei o porteiro e fui direto para o elevador. Apertei o número nove e aguardei que ele se fechasse e começasse a subir.

Minha mente estava a mil. Jake havia passado dos limites. Eu tinha certeza que ele era o causador desse problema e eu iria tirar satisfações com ele. Quando o elevador parou, corri para meu apartamento e entrei, jogando minhas coisas sobre o sofá. Pequei o celular na minha bolsa e disquei o número de Jake, que eu já havia apagado da agenda mas sabia de cor e salteado.

- Olha, olha quem está me procurando! - atendeu Jake em tom de deboche.

- Jake! Seu estúpido, filho da mãe! - eu disse com raiva, quase gritando - É você que está fazendo isso, não é?

- Isso o quê, gata? Não sei do que você está falando.

Eu respirei fundo. Precisava manter a calma se quisesse levar Jake a falar, mas apenas a voz dele já era o suficiente para me irritar.

- Você sabe do que eu estou falando, Jake.

- Você está arrumando desculpa para me...

- NÃO ESTOU ARRUMANDO DESCULPA PARA NADA - eu disse alto e pausadamente, cortando o raciocínio de Jake - Você já pensou que seu pai pode ficar sabendo do que você está armando? Ele não vai gostar nadinha.

Jake deu uma risadinha nervosa e tentou parecer confiante. Nesse momento eu tive certeza de que era ele o culpado.

- O que você está querendo dizer, Anne?

- Estou querendo dizer que talvez eu possa alertar o seu pai, Jake. Ele vai me ouvir, você sabe que ele vai e você vai estar em um problema ainda maior. Você conhece seu pai bem melhor do que eu e sabe como ele tem cuidado com os negócios dele.

Durante alguns segundos eu não ouvi a respiração de Jake.

- Você não faria isso.

- Ah, se faria! Não vou deixar você acabar com a minha paz outra vez - eu disse decidida - E isso que você acabou de fazer foi uma confissão.

- Você não está batendo bem, Anne. Eu não estou...

- Jake, Jake, a quem você quer enganar? - eu perguntei de forma sarcástica - Eu posso fazer uma ligação para seu pai ou então fazer uma visitinha na sua casa. Qual você prefere?

- Não ouse fazer isso - ele disse baixinho.

- Então saia da minha vida, Jake - eu disse decidida - Eu estou muito bem sem você.

Quando desliguei o celular, Jake ainda estava falando algo que não entendi e eu estava tremendo de raiva. A culpa dos roubos era de Jake e eu teria que tomar alguma atitude. Ainda não sabia o que iria fazer, mas eu não iria ficar parada. Ele estava atrapalhando a vida de Mark e, consequentemente, a minha e isso não iria ficar desse jeito.

***

No dia seguinte eu havia acordado cedo. Muito cedo por sinal. Minha mente tentava formular uma ideia que fosse boa, mas essa tarefa estava se mostrando mais difícil do que eu imaginava ser. Eu não poderia simplesmente incriminar Jake, pois eu não tinha prova alguma sobre o acontecido e isso tornava tudo ainda mais complicado. Eu teria que provar, mas eu não sabia como.

Para mim, Jake já havia praticamente confessado, porém, uma simples ligação não provava absolutamente nada. Não havia nada gravado.

Então, como um flash, essa idéia passou pela minha cabeça e eu senti que havia gastado bilhões de neurônios para chegar a essa conclusão. Era mais simples do que eu imaginava. Eu só teria que gravar Jake falando e tudo estaria resolvido.

Agora eu teria que pensar. Não ligaria para ele de imediato pois isso seria muito suspeito. Nesse caso, a pressa seria a maior inimiga da perfeição e eu não queria estragar tudo. Eu teria sucesso a todo custo.

***

Nos três dias que se passaram eu não fiz nada e me peguei pensando várias vezes no assunto. Encontrei-me com Mark por duas vezes, mas eu estava me sentindo mal por estar escondendo algo tão importante dele. Eu tinha consciência de que, se eu gerasse uma desconfiança nele no início do nosso relacionamento, isso seria quase impossível de ser revertido em confiança, mas era um risco que eu estava disposta a correr.

Na tarde da segunda-feira eu saí para o trabalho mas eu já estava com um plano em mente e seria executado hoje. Mark não poderia estar comigo, então eu teria que inventar uma desculpa para o caso de ele querer me ver.

Minha prova mais concreta seria colhida e Jake estaria em minhas mãos.

***
Olá românticas e românticos!

Mais um capítulo para vocês!

Abraços e não se esqueçam dos votos e comentários.

😋

Um inverno entre nós (CONCLUÍDO)Onde histórias criam vida. Descubra agora