4. Indiferença

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Mark estava sentado no sofá da sala lendo seu jornal matinal. A manhã de sábado havia nascido totalmente branca e o sol se recusava terminantemente de aparecer por entre as espessas nuvens. Depois de ler as principais notícias, ele se levantou e foi em direção ao banheiro. No espelho sobre a pia viu sua imagem, com os cabelos castanhos despenteados, olhos muito pretos e barba por fazer.
Após alguns momentos se encarando no espelho, ele abriu o chuveiro e deixou a água quente cair sobre suas costas.
Naquele dia Mark estava resolvido a ter uma reviravolta e estava reunindo todos os motivos possíveis para que isso acontecesse. Liz não o atrapalharia mais. Ela teria que sair de sua mente querendo ou não.
Antes que a noite caísse Mark se arrumou e saiu de casa a pé novamente. Sabia onde queria ir e estava ancioso. A pequena lanchonete rústica apareceu em seu campo de visão e o coração dele deu um salto exageradamente grande.
Nesse momento a voz da razão o chamou bem alto e ele forçou-se a diminuir o passo.
"Será que eu não estou me iludindo demais? Minha vida há três dias atrás estava totalmente sem sentido." - foi o pensamento que passou pela sua mente.
Era verdade, mas Mark sequer havia dado chance a si mesmo de ter algum outro relacionamento e na primeira oportunidade que dera, seu coração pulsara mais forte por outra mulher.
Ele voltou a caminhar mais rápido e parou em frente ao estabelecimento. Colocou a mão na maçaneta tentando inutilmente parecer normal. Sentiu que estava trêmulo é um risinho nervoso saiu involuntariamente de sua boca.
Mark empurrou a porta e entrou, tentando não procurar descaradamente a moça que o atenderá no dia anterior. Sentou-se à mesa e olhou para o lado do balcão. Lá estava ela. Simples e bonita e seu longo cabelo ruivo amarrado em um coque alto.
Mark esperou durante alguns minutos, dispensou o atendimento de outra garçonete e ficou observando discretamente a moça. Por duas ou três vezes seus olhares se cruzaram rapidamente. Para ela, talvez, somente um olhar desatento, mas para Mark, com certeza, foi a confirmação de que sua nova vida poderia começar a qualquer momento.
Inesperadamente ela se virou para Mark e foi andando até ele, cruzando o pequeno espaço da lanchonete. Não deu tempo de Mark fingir uma distração. Ele estava olhando para ela e continuou até que ela chegasse.
- Pois não, senhor - disse ela num tom mais alto e firme. Seu rosto estava sério.
Mark exitou por um instante. Não era esse tom de voz que ele ouvira no dia anterior.
- Eu...vou querer o sanduíche da casa.
- Alguma coisa para beber?
- Café com açúcar.
Ela se virou sem dizer nada e foi para traz do balcão, deixando Mark um pouco confuso e com uma pontada de decepção.
Não era esse tipo de tratamento que ele havia recebido dela no dia anterior. Ela nem ao menos havia sorrido e parecia extremamente estressada.
Quando ela voltou, colocou a bandeja sobre a mesa e inesperadamente se debruçou na direção de Mark. Ele prendeu a respiração por um instante e depois puxou ofegante o ar. O perfume dela era adocicado e fazia lembrar o cheiro de flores.
- Poderia parar de me olhar assim? Você está começando a me incomodar.
Mark piscou incrédulo. Foi como se um balde de água gelada tivesse caído em sua cabeça. Ela havia notado e não estava gostando. Foi então que, num estalo Mark se lembrou de que ela talvez pudesse ter um namorado ou até mesmo ser casada e ele estaria fazendo papel de bobo, se iludindo tão facilmente.
- Me desculpe. Não foi a intenção - mentiu ele.
Ela saiu sem olhar e continuou seu trabalho sem olhar para ele novamente. Mark forçou-se a comer a metade de seu sanduíche, levantou-se devagar, pagou a conta e saiu. Através do vidro da porta, Mark deu uma última olhada para dentro, baixou a cabeça e foi caminhando lentamente pela rua fria.
No trajeto foi pensando como havia sido tão inconsequente. Não poderia ter imaginado que só ele estava interessado? Aquela mulher nem mesmo o conhecia. Ele havia se empolgado demais e agora sentia-se desconfortavelmente envergonhado e irritado consigo mesmo.
Mark chegou na sua casa e desabou ruidosamente no sofá.
"Que valor tivera aqueles últimos três dias em sua vida?" - era a pergunta que lhe ocorrera naquele momento. E "nada" era a resposta que ele se dera.
"Não mudei em três anos, muito menos em três dias!" - concluiu mentalmente desanimado.
Então, puxou a almofada do sofá, recostou a cabeça e adormeceu.

Continua...

Um inverno entre nós (CONCLUÍDO)Onde histórias criam vida. Descubra agora