44. Era uma vez

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Depois de uma semana, no domingo pela manhã, eu estava ajeitando os cabelos no espelho do banheiro quando o interfone tocou. Corri até a cozinha e peguei o aparelho.

- Oi.

- Anne, bom dia - disse o porteiro.

- Bom dia, Bill.

- A Sra Müller está aqui.

Eu estremeci por um instante. Havia adiado o encontro com Lucy, mas agora não poderia mais fazer isso.

- Diz para ela subir, Bill. Obrigada.

Corri de volta para terminar de ajeitar os cabelos e alguns instantes depois a campainha tocou. Fui até a porta da sala e abri, receosa do que veria.

- Anne, minha querida - disse Lucy.

- Entre, Lucy - respondi com um sorriso constrangido.

Lucy entrou e me abraçou e eu retribui de uma forma um tanto desajeitada.

A mulher foi até o centro da sala e sentou-se no sofá, sem esperar convite. Não pude deixar de reparar que Lucy parecia cansada e mais velha, apesar de estar sempre bonita e bem vestida. Sentei-me ao seu lado e ficamos em silêncio por poucos segundos.

- Anne, - começou Lucy - antes que você pense algum mal de mim, saiba que eu não vim aqui para te acusar. Eu jamais faria isso. Eu só preciso conversar um pouco.

Os olhos dela já estavam marejados quando parou de falar.

- Lucy, eu nunca pensei isso de você - eu disse chegando para perto dela e colocando a mão em seu ombro.

- Eu conversei tanto com Jake, falei tantas vezes e ele não quis me dar ouvidos. Eu disse para ele deixar você em paz e seguir em frente, mas ele insistiu nisso a ponto de fazer uma loucura.

Eu não tinha nada a dizer, então fiquei em silêncio, entendendo que Lucy queria somente desabafar.

- Eu sei que ele já estava enveredando por caminhos errados, mas eu nunca pensei que ele chegasse a tal ponto.

As lágrimas rolaram do rosto de Lucy e eu não pude deixar de sentir um nó na garganta. Era uma mãe angustiada, chorando por um filho que jamais veria novamente.

- Anne, desculpe-me pelas atitudes de Jake. Você não merecia passar por tudo isso por causa dele.

- Não precisa se desculpar, Lucy - eu respondi - Venha, me de um abraço.

Lucy virou-se para o meu lado e me abraçou. Na mesma hora ela desatou a chorar inconsolávelmente. Eu também não me contive e chorei por ela e pelo sofrimento que ela estava enfrentando. Eu não queria sentir pesar e muito menos sentir a dor que aquela mãe estava sentindo.

Depois de alguns instantes, ela se desvencilhou, vagarosamente, do abraço e secou o rosto com as costas das mãos.

- Ontem eu estive com o Ramon. Ele me contou que você pediu ajuda para ele.

- Sim, eu pedi.

- Obrigada por tudo Anne. E mais uma vez eu peço desculpas.

- Ah Lucy... eu não queria que terminasse assim.

- Não terminou, querida. Você ainda é muito nova e tem uma longa vida pela frente - disse ela com um sorriso singelo - Viva feliz ao lado de alguém que te ame de verdade. É muito difícil dizer isso, mas a única coisa que terminou foi a vida de Jake, por escolha dele mesmo.

Dizendo isso ela se aproximou de mim e beijou minha testa.

- Preciso ir querida. Espero te encontrar novamente.

Um inverno entre nós (CONCLUÍDO)Onde histórias criam vida. Descubra agora