23. Agindo

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Cheguei em casa tão eufórico que mal conseguia pensar direito. Eu ainda teria que ter certeza de que aquele homem era o dono da gráfica e eu estava andando sortudo nesse dia.

Meu pai estava enfurnado em seu escritório e eu não poderia mexer nos arquivos de clientes dele. Eu só sai para devolver o carro na locadora e o restante do dia fiquei zanzando em casa, de um lado para outro, na esperança de que meu pai despertasse de seu posto.

Não tive sucesso nessa empreitada. Ele trabalhou o dia todo em casa. Justamente hoje que eu precisava ficar sozinho.

- Jacob, - disse uma voz às minhas costas - podemos conversar um pouco?

Reconheci a voz de minha mãe. Eu estava jogado no sofá da sala de estar com a televisão ligada. Como não respondi, ela veio e sentou-se ao meu lado.

- Jake, eu sei que você está pensando por um momento ruim e...

- Não estou - interrompi.

Ela suspirou impaciente, tomou o controle da TV de minha mão e desligou o aparelho.

- Jacob, olhe para mim e não me interrompa quando eu estiver falando - ela alterou a voz.

Eu estava surpreso. Ela era a mulher mais calma que eu já conhecera e nunca havia alterado a voz comigo.

- Eu sei que a situação que você está passando não é fácil. Anne terminou com você e parece não querer voltar, estou certa?

Um silêncio incômodo se instalou no ambiente. Agora eu encarava as minhas mãos, tentando fugir do olhar inquiridor de minha mãe.

- Estou certa, Jacob? - ela insistiu.

- Está, está. Mas eu também não a quero de volta. Ela... ela está com outro cara.

Por um mísero instante, pensei sentir a suspresa de minha mãe mas ela se manteve impassível diante da minha declaração.

- E o que você acha que aconteceu para ela terminar com você?

- Eu já disse, mãe: ela está com outro cara! - enfatizei.

- Nós dois sabemos que não é por isso, Jake. Anne está em nossa vida há tempo suficiente para eu saber que ela não faria isso.

- Mas ela fez. Eu vi.

Ela ficou em silêncio por alguns instantes e eu não sabia se ela estava tentando digerir o que eu havia dito. Ela gostava demais de Anne para acreditar nas minhas palavras.

- E foi com ele que você brigou?

Eu estaquei. Como ela sabia? Eu havia tomado tanto cuidado para ninguém descobrir.

- Eu não briguei com ele.

Ela cruzou os braços e as pernas e se impertigou no sofá.

- Jacob, não precisa tentar mentir. Eu sou sua mãe. Não há muitas coisas que você consiga esconder de mim e, além do mais, eu sou mulher. Vou ter atenção aos mínimos detalhes - ela sorriu, mas seu sorriso era triste - Foi assim que descobri que você estava se metendo em confusões por ai.

Eu não sabia se contava para minha mãe. Repetir aquela história era humilhante demais mas, ultimamente, eu não estava tendo com quem falar. Mesmo Ramon, meu único amigo, em quem eu confiava, não estava a meu favor.

Continuei por algum tempo em silêncio. O olhar de minha mãe sobre mim estava me incomodando.

- Jake, eu sinto muito não ter tentado te ajudar antes. Anne conversou comigo por duas vezes no mês passado, a respeito de vocês dois. Ela disse que você não estava dando mais atenção à ela e que só queria saber de sair para beber com seus amigos.

Um inverno entre nós (CONCLUÍDO)Onde histórias criam vida. Descubra agora