Mark soltou vagarosamente a mão de Anne, fazendo questão de deslizar até a ponta dos dedos.
- Então... é... quer compartilhar o vinho comigo? - perguntou Mark com um sorriso.
- Ficaria grata.
Ele levantou a mão chamando o garçom e pediu mais uma taça.
- Sei que estou sendo um pouco indiscreto, mas quem era aquele cara que estava com você? - indagou Mark, já imaginando a resposta.
Anne parecendo um pouco desconcertada, se remexeu na cadeira, passou a mão pelos cabelos e se interessou profundamente pela toalha rendada da mesa.
- Ele é Jake, meu namorado - disse ela com um suspiro desanimado.
- Entendo - disse Mark baixinho, sem olhar para Anne.
Apesar de já ter julgado a resposta, Mark sentiu-se um pouco desapontado e havia torcido em pensamento para estar errado.
- Jake está um pouco estranho - disse Anne - Não sei o que está acontecendo.
Anne apoiou os cotovelos sobre a mesa e o queixo nas mãos, olhando diretamente para Mark. Seu olhar era tão penetrante que Mark sentiu-se um pouco incomodado. Parecia que ela estava olhando através dele.
- Vocês, homens, são estranhos - começou ela - O que leva vocês a desistirem de um relacionamento saudável?
- Bem, eu não sei, mas essa pergunta quase me matou durante os três últimos anos - disse Mark fazendo um muxoxo.
Anne pareceu não entender imediatamente a declaração de Mark.
- Minha mulher me deixou há três anos - disse ele com mais confiança do que achava ter.
- Sinto muito, Mark.
- Não se preocupe. Já estou muito bem.
- Quer me contar sua história? - perguntou ela.
- Se você me contar a sua depois.
- Estamos combinados.
Então, durante alguns minutos, somente Mark falou, contando sua pequena história com Liz. Anne estava atenta a cada palavra, como se perder alguma fosse lhe custar muito caro. Ela fazia sinais de positivo e negativo pontualmente, sem dizer uma palavra.
- Meu Deus - exclamou quando Mark terminou - Que barra, hein!
- Pois é. Mas agora quero escutar a sua história.
- Bem, a minha história não é tão interessante. Mas trato é trato.
Mark se ajeitou na cadeira e serviu mais vinho para os dois.
- Eu não sou dessa cidade. Vim para cá há oito anos e desde então eu tenho trabalhado bastante e juntado uma grana. Conheci Jake dois anos depois de me mudar e um ano depois começamos a namorar. Ele era muito atencioso e prestativo comigo. Eu realmente achei que ele pudesse ser o homem com quem eu me casaria, teria filhos e netinhos.
Anne deu um suspiro. Seus olhos correram as paredes atrás de Mark e ele notou que estavam marejados
- Não sei se vai ser possível - continuou ela - Ele não me dá mais atenção. Agora eu sou apenas a segunda opção. Tudo que eu tento fazer ou planejar com ele, até as coisas mais simples ficam para depois. Sempre para depois. Eu não sou mais a prioridade na vida dele e eu sempre o tratei com tudo que eu tinha de melhor.
Duas grossas lágrimas escorreram no rosto de Anne.
- Era pra ele estar aqui comigo hoje. Tentei fazer uma surpresa agradável, mas ele simplesmente me trocou por um amigo mexicano que ele tem agora. Os dois saem pra beber e ele enche a cara e sei lá por onde ele anda depois.
A voz de Anne era pura indignação e tristeza. Ela secou o rosto com as mãos e bebeu um pouco mais de vinho.
- Desculpe-me Mark. Eu me exaltei. Você já tem muitas coisas pra pensar e eu fico aqui contando meus problemas.
- Eu não sei o que dizer Anne. Não sei se posso te ajudar.
- Bem, você está me ouvindo e isso já é o bastante. Desabafar com alguém não tão conhecido é mais fácil. Sei que você não vai me julgar prematuramente.
- Não farei isso.
Nesse momento Mark viu um pequeno arrastar de cadeiras e notou que o músico já havia terminado sua apresentação. Algumas pessoas estavam se levantando e saindo do bar conversando animadas.
- Bom, - disse Anne sorrindo - já terminou.
- O nosso vinho também.
Mark balançou a garrafa vazia e retribuiu o sorriso de Anne.
- Acho que teremos que ir também, se não quisermos ficar sozinhos aqui.
- Espero que tenhamos outras oportunidades de conversar - disse Mark tentando prolongar um pouco mais a imagem de Anne à sua frente - Sua companhia foi agradável, apesar de você ter ameaçado chamar a polícia para mim.
Anne tapou a boca com a mão, como se lembrasse de uma coisa horrível.
- Me desculpe - disse ela suplicante - É que... eu não... ai... eu achei que você estivesse me seguindo.
Mark deu uma gargalhada mais alta do que o normal é era a primeira de muito tempo.
- Não tenho essa intenção - disse ele.
Anne olhou para os lados. Não tinha quase ninguém ali.
- Acho que temos que ir.
- Oh sim - disse Mark.
Ele pagou a conta e os dois saíram do bar. Mark pareceu um pouco confuso e depois de hesitar por alguns segundos, tocou com a mão o braço de Anne.
Ela deu um rápido suspiro exaltado.
- Eu posso pedir seu telefone? - indagou Mark.
Anne apertou uma mão contra a outra junto ao peito.
- Eu... eu não posso Mark - disse ela, mas seus olhos a estavam traindo descaradamente - eu ainda tenho um compromisso com Jake.
Mark sorriu compreensivo.
- Eu entendo.
Então, Anne sorriu. Para Mark, o sorriso mais gracioso que ele já vira formar naqueles lábios.
- Mas, você sabe onde me encontrar - disse ela.
E sem se despedir, ela puxou o casaco para junto do corpo, virou-se e foi embora, deixando Mark com sorriso alegremente bobo no rosto.... continua ...
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Um inverno entre nós (CONCLUÍDO)
Romance• 3° lugar no concurso "REVELAÇÕES DO WATTPAD" na categoria romance. • Menção honrosa no concurso "ESCRITORES DE OURO" na categoria romance. Após ser abandonado pela esposa, Mark passa um longo tempo se lamentando sem conseguir mudar de vida, até qu...