Mark dirigia devagar. Pelo caminho foi pensando em como Anne havia se tornado a pessoa que ele mais desejava ter por perto e em como seu próprio coração tentava incessantemente extrair os resquícios que ainda sobravam de Liz.
Era verdade. Por mais que Mark desejasse Anne e por mais que se sentisse apaixonado por ela, em alguns momentos Liz o assaltava com recortes das memórias do passado que viveram juntos.
Havia passado tão pouco tempo desde o dia em que conhecera Anne que agora, depois de mais uma lição com a Sra. Wilson, pensava se aquilo não seria só uma paixão passageira.
Não admitiria que fosse assim. Anne seria sua companhia para sempre. Era seu desejo.
Liz não havia feito um contato sequer durante o tempo de separação e havia desaparecido do mapa. Por mais que ele tentasse um contato com a mãe dela na Itália, nunca havia descoberto o paradeiro da mulher. Havia até cogitado ir à Itália para comprovar se Liz estava lá mas a dúvida e seu ego não lhe permitiria agir dessa maneira.
Por fim, depois de quase um ano, havia desistido de tentar fazer contato e deixara-se afundar no poço escuro que se tornara sua própria vida.
Depois de tanto tempo afundando no vazio escuro sem fim, uma mão o havia segurado e tentava içá-lo a todo custo. A Sra. Wilson estava ajudando-o a se reerguer na vida e se conseguisse sair do fundo do poço, deveria gratidão a ela.
***
Mark estacionou o carro em frente ao prédio onde Anne morava, saltou do carro e foi até a portaria. O porteiro apareceu e Mark, depois de se identificar, pediu que informasse à mulher que ele já estava esperando. O homem pegou o telefone e apertou o número nove.
- Senhorita Anne, Mark está esperando por você - disse o porteiro olhando desconfiado para ele - Ok, vou mandar.
O homem desligou o telefone e apontou para o corredor.
- Nono andar - disse ele.
Mark ficou imaginando a causa da desconfiança dele. Decerto ele não esperava outro homem frequentando o apartamento de Anne.
O saguão de entrada era bem iluminado com arandelas de luzes amareladas e decorado com um enorme tapete persa, plantas ornamentais e poltronas antigas.
Pela estrutura muito detalhada, o prédio deveria datar de quase meio século, mas ainda possuía a magnitude e elegância de quando era uma obra nova.Mark entrou no elevador e apertou o número nove. Com um rangido metálico a porta se fechou e o equipamento começou a subir lentamente. Ele olhou para cima, acompanhando o piscar do letreiro luminoso que saltava de um número a outro, indo em direção ao nono andar.
O elevador parou, abriu a porta barulhenta e Mark saiu, sentindo-se, de certa forma, aliviado por estar fora do aparelho.
Havia só uma porta no andar e Mark apertou a campainha do apartamento. Passos apressados vieram atender o chamado.
Anne apareceu mais bonita e mais alegre do que Mark jamais vira. Ela usava uma camisa branca de lã fina e uma saia rodada que deixava à mostra seus joelhos bem torneados. Um avental cor de vinho estava pendurado em seu pescoço e Mark não pôde deixar de notar que os cabelos da mulher estavam em pouco rebeldes, mas percebeu que ela estava pondo as tarefas da casa em dia.
- Oi - disse Mark sem saber qual outra palavra seria melhor.
- Mark, entre! - disse ela com um sorriso, mas antes que ele entrasse ela se aproximou e deu um beijo na bochecha dele.
Ele sentiu que o sangue subiu ao seu rosto e não pôde deixar de pensar naquela infame piadinha de que nunca mais lavaria aquela bochecha.
Ele entrou, um pouco desconcertado e ela o conduziu até a cozinha, onde um delicioso cheiro de molho de tomates inundava o ambiente.
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Um inverno entre nós (CONCLUÍDO)
Romance• 3° lugar no concurso "REVELAÇÕES DO WATTPAD" na categoria romance. • Menção honrosa no concurso "ESCRITORES DE OURO" na categoria romance. Após ser abandonado pela esposa, Mark passa um longo tempo se lamentando sem conseguir mudar de vida, até qu...