Eu estava confusa demais. Meu reflexo no espelho do banheiro não conseguia mostrar o grau de tensão e confusão em que eu me encontrava. Meus cabelos estavam desgrenhados e eu parecia mais cansada do que o normal, como se não dormisse direito por noites a fio. O pijama azul surrado que eu ainda vestia estava me deixando com cara de desleixada e moribunda.
Eu veria Jake dentro de pouco tempo e essa perspectiva estava me deixando maluca. Meus sentimentos estavam mais misturados do que cartas de baralho em mesas de jogos. O que eu estava para fazer não seria nada fácil. Queria terminar com Jake e com certeza minha conversa com ele teria sobressaltos.
Jake era um cara legal. Durante muito tempo ele foi tudo o que eu quis, mas depois notei uma certa mesmice e uma tremenda falta de interesse da parte dele em nosso relacionamento. Eu realmente o amava e isso era inegável, mas depois de tantas decepções, não conseguia ver mais motivos para lutar por Jake. Ele não me queria mais, era o que parecia, e se me quisesse estava falhando em todos os aspectos que pudessem manter um relacionamento vivo.
Jake havia estranhado que eu quisesse visitá-lo num sábado tão cedo, mas eu não poderia esperar mais. Eu mudaria de vida a qualquer custo e o destino estava colocando uma nova pessoa em meu caminho. Mark havia surgido para me resgatar. Desde nosso inusitado encontro ao acaso no bar, eu havia começado a vê-lo com outros olhos. Ele fora tão atencioso que me senti de certa forma constrangida.
Mark era simples e parecia ser muito mais maduro. Ele tinha um certo ar de superioridade que me encantava. Não era como se quisesse mandar ou querer submissão, mas era como se ele fosse "o homem" e não só mais um homem no meio de tantos. Ele era atraente em todos os aspectos. O seu jeito tranquilo de falar me transmitia uma segurança inquestionável e por alguns instantes desejei que seus braços estivessem em volta do meu corpo.
Aquela noite havia sido um ponto crucial para a minha decisão. Jake me tratara de forma rude e áspera e Mark, apesar de não falar muito e nem ao menos me conhecer, havia sido atencioso e cavalheiro. Um totalmente oposto do outro. Jake e Mark estavam de lados opostos de minha balança sentimental e a cada dia Jake estava perdendo mais peso.
Deixei a água quente cair sobre minha cabeça quando abri o chuveiro. Eu estava tão anciosa que meus músculos chegavam a tremer internamente. Esse seria o fim dos meus problemas com Jake. Não só meus, mas também de minha mãe, que nunca havia criado uma afinidade real com ele. Mamãe vivia preocupada com a minha situação e nos últimos meses, quando eu relatava algumas das estranhezas de Jake, ela dizia que ele não era um homem muito confiável e arrematava com um "eu sempre achei que" categórico, típico de qualquer mãe preocupada. Eu não a culpava e nem a acusava, ainda que, no início, eu achasse tudo não passava de implicância de sogra. No fim das contas ela estava mais do que certa. Meu pai era indiferente. Me apoiava em praticamente tudo que eu fosse fazer e, às vezes, eu achava que isso pudesse ser um perigo.
Quando terminei o banho, me sequei e sai enrolada na toalha. Sequei meus cabelos com o secador e fui escolher uma roupa. Peguei uma calça jeans preta, uma bota antiga de couro, uma camisa de lã fina branca e uma blusa verde de gola de pelos.
Apenas alguns minutos depois, eu já estava pronta. Passei na cozinha e tomei um copo de chá que havia preparado na noite passada com duas torradas.
Sai do apartamento e apertei o botão do elevador. Um som rascante metálico indicou que ele se movimentava em algum andar acima do meu, rangendo mais do que porteira de fazenda. Quando chegou ao meu andar, abriu a porta e eu entrei, torcendo, como todo dia, para que toda aquela tralha funcionasse corretamente. No fim das contas era apenas um medo meu, pois eu nunca tivera problema com o equipamento.A porta de abriu e eu sai. Atravessei o saguão bem iluminado e sai pelas portas do prédio. No ponto de táxi, no quarteirão seguinte, entrei no veículo e dei o endereço. Foi uma viagem mais rápida do que eu gostaria que fosse e quando saltei do carro, me vi em frente à uma casa imponente, branca e preta, com jardins extremamente bem cuidados. O portão de grade deveria ser pelo menos duas vezes maior do que eu e a impressão que tinha quando passava por eles era de estar entrando numa daquelas catedrais góticas gigantes.
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Um inverno entre nós (CONCLUÍDO)
Romance• 3° lugar no concurso "REVELAÇÕES DO WATTPAD" na categoria romance. • Menção honrosa no concurso "ESCRITORES DE OURO" na categoria romance. Após ser abandonado pela esposa, Mark passa um longo tempo se lamentando sem conseguir mudar de vida, até qu...