22. Astúcia

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Absolutamente eu não iria deixar barato. Aquele merdinha, idiota havia me humilhado e ele teria que se ver comigo.

Anne escolheu ficar do lado dele e isso a colocava contra mim. Os dois eram farinha do mesmo saco. Eu não esqueceria de forma alguma e pouco me importava se Anne houvesse ficado comigo durante cinco anos. O que isso significava agora?

Para piorar a situação, provavelmente ela havia me traído. No dia em que ela terminou comigo já apareceu com aquele cara. Ela já estava com ele.

Naquele dia eu havia chegado e ido direto para meu banheiro. Eu estava todo dolorido e meu rosto estava sangrando. Senti uma raiva imensa de mim mesmo. Era horrível admitir mas eu havia levado uma surra de um cara desconhecido na rua, em frente à minha ex-namorada e isso era vergonhoso.

Demorei bastante a pensar em alguma coisa. Eu não iria brigar com aquele cara. Até pensei em mandar darem uma surra nele. Mas não: eu faria pior.

***

Eu não sabia onde ele morava mas isso seria muito fácil de descobrir. Era só vigiar a Royals lanchonete novamente. Na certa ele se encontraria com Anne e eu seguiria os dois.

Teria que ser discreto. Não sairia atrás deles com meu Land Rover branco. Seria o mesmo que pedir para me verem. Tampouco sairia com o carro de meu pai. Anne o conhecia muito bem. Resolvi que teria que alugar um veículo.

No dia seguinte pela manhã, fui até a locadora e sai de lá com um carro preto, bem diferente do meu, alugado por dois dias.

Meu pai não poderia nem sonhar em saber dos meus planos. Ele na certa compraria uma briga comigo.

Parei o carro na rua ao lado de minha casa, onde ficaria fora de vista e não levantaria qualquer tipo de suspeita.

Eu ainda teria que pensar em uma forma de descontar minha raiva naquele indivíduo mas primeiro eu iria descobrir tudo sobre a vida dele.

À noite fui até a lanchonete e esperei o horário de saída de Anne. Para minha infelicidade ninguém apareceu para acompanhá-la.

No dia seguinte, terça-feira, fiz o mesmo e tive a agradável surpresa de ver o cara chegando em um Jeep Cherokee verde escuro.

Anne entrou em seu carro e os dois trocaram um beijo nojento. Cuspi pela janela, desprezando o gesto carinhoso.

Como ela pôde me trocar por um cara daqueles? Era sem explicação. Eu tinha tudo e poderia dar a ela o que quisesse. Ingratidão era a palavra que definia Anne.

Esperei o carro se movimentar para ligar o meu. Sai devagar, me esforçando para não ser notado e também não perder aquela lata velha de vista.

O caminho foi rápido e, para minha satisfação, eles pararam em frente à uma casa branca. Eu continuei em frente, virei a primeira rua e saltei do carro o mais rápido que pude. Não poderia perdê-los de vista. Puxei o meu boné para baixo e encostei-me à sombra de uma árvore na esquina, onde não poderia ser visto.

Vi quando ele desceu do carro e abriu a porta para Anne. Seguiram pelo pequeno caminho até à porta e entraram após ele girar a chave na fechadura.

Meu coração batia acelerado. Eu já havia dado um passo em direção ao meu objetivo. Agora eu iria saber de tudo sobre a vida dele e ele iria sentir na pele o prejuízo. Ou então, meu nome não seria mais Jacob.

***

Eu havia acordado bem cedo na quarta-feira e estava mais disposto do que havia estado em muitos dias. Eu estava afoito e precisava de pensar em algum jeito de não ser notado por Anne e nem pelo filho-da-mãe do namoradinho dela e ainda assim, planejar o troco que daria nele.

Peguei meu celular e disquei o número do Ramon, meu amigo mexicano. Talvez ele pudesse me ajudar. Ele já estava a par de todos os acontecimentos da minha vida e uma coisa a mais não seria excesso para ele.

- Jake, isso é hora? - disse Ramon com voz sonolenta.

- Cara, preciso de uma ajudinha sua - falei.

- São seis horas da manhã! O que é que...

- Para de reclamar e só escuta.

Relatei meu pequeno avanço do dia anterior a Ramon, só para receber uma categórica negativa.

- Cara, desencana dessa mulher. É chato te falar isso mas ela não te quer mais, velho.

- Você tá do meu lado, ou contra mim? - perguntei indignado.

- Estou do seu lado, mano, e é por isso que eu estou te dando esse toque. Se seu pai descobrir, ou pior, se eles descobrirem que você fez alguma coisa contra eles...

- Ninguém vai saber, Ramon - disse fingindo tranquilidade.

- Isso é você dizendo. Se alguma coisa grave acontecer, você será o primeiro suspeito, cara.

- Eu sei mas...

- E você não vai querer a polícia te sondando, vai? Sua ficha não está tão limpa quanto você imagina.

Eu suspirei. Sabia que a afirmação de Ramon era verdadeira.

- Beleza, Ramon. Se você não pode me ajudar...

- Casa, eu sou seu amigo. Tô jogando a real. Agora, se você não quer se ajudar, eu não posso fazer nada. Eu não vou te ajudar a atrapalhar a vida dos outros.

- Valeu amigão - disse ironicamente - A gente se fala.

Desliguei o celular antes mesmo de Ramon se despedir. Eu estava com raiva e meu maxilar estava doendo por causa da força com que eu trincava meus dentes.

Havia mais uma pessoa contra mim mas eu decidi que não precisava de ninguém para me ajudar. Eu teria que fazer tudo sozinho. De um salto me levantei, troquei de roupa, escovei meus dentes e sai. Hoje eu teria que entregar o carro, então o que iria fazer teria que ser rápido.

Segui o mesmo caminho do dia anterior e parei em uma rua estreita, debaixo de uma árvore nodosa. Saltei e fui para a esquina, de onde conseguiria ver a casa. O Jeep ainda estava na garagem e eu teria que esperar um pouco.

Não havia passado nem quinze minutos quando ele saiu pela porta da frente. Voltei correndo para meu carro e liguei o motor. Como a rua era de sentido único, ele teria que passar próximo de onde eu estava.

Ouvi o ronco do motor do Jeep e fiquei atento. Quando ele passou eu sai logo atrás, torcendo para ele ser bem distraído e não notar meu carro seguindo sempre atrás dele. Para disfarçar um pouco, diminuí a velocidade, deixando dois carros entrarem entre eu e ele.

Agora eu teria que dar sorte de conseguir passar pelos semáforos junto com o Jeep. Liguei meu GPS e coloquei-o para gravar o caminho, pois eu não poderia correr o risco de não saber o caminho depois.

Viramos apenas duas ruas e entramos na avenida Europa. Seguimos por menos de um minuto e entramos numa via secundária. Ele parou o carro bem no começo da rua, em frente a uma gráfica que estava com as portas fechadas. Segui direto olhando o retrovisor e o vi sacando as chaves do bolso e  abrindo a porta. Continuei até achar um lugar onde pudesse retornar e voltei.

Parei o carro a uma distância segura e fiquei observando. Para minha surpresa, vi quando um veículo conhecido parou atrás do carro dele. Um homem tambem conhecido saltou da van e entrou na gráfica, saindo minutos depois com o carregamento para transporte.
Eu ri e dei um soco no volante. A sorte estava a meu favor.

O transporte que ele usava era da empresa do meu pai.

***
Olá meus queridos!

Espero que tenham gostado desse capítulo do ponto de vista de Jake.

Aguardem: o próximo também será visto pelo vilão!

Abraços!!!

Um inverno entre nós (CONCLUÍDO)Onde histórias criam vida. Descubra agora