Capítulo Um

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"É uma verdade universalmente conhecida que um homem solteiro na posse de uma bela fortuna necessita de uma esposa".

Foi com essa afirmação que Jane Austen abriu seu romance clássico há mais de um século atrás.

O sonho do casamento sempre fora uma das maiores motivações femininas através das eras até a modernidade. É bem verdade que a noção do casamento como um objetivo a ser alcançado é uma visão limitadora e é, quase que exclusivamente, relacionada às mulheres. Eis que o quadro se forma: Meninas pelo mundo todo desde a mais tenra idade sonham com o vestido de casamento perfeito, sem ao menos ter usado o vestido de debutante no baile de seus quinze anos e empresas faturando em cima da instituição arcaica e falida que é o casamento e da ingenuidade de moças sem juízo. Foi assim que Alfonso Herrera se viu sentado na beira do altar, esperando o restante das damas de honra chegar para iniciar o ensaio de casamento de sua prima Angelique e seu noivo Sebastian. Vivendo aquela farsa toda novamente.

Ele não sabia mais a quanto tempo estava ali, não deveria ser nem uma hora, mas parecia anos. Olhando ao redor, a igreja parecia como sempre fora, desde a última vez que havia estado ali para o batizado do filho de algum parente da família, sem sombra de dúvidas. Nada mudara. Os vitrais pareciam mais vivos. Talvez tivessem sido trocados após o último tornado que passara por Santa Bárbara, o cheiro de naftalina e incenso também era igual a antes e até mesmo o Reverendo Walker ainda estava ali, quase uma múmia depois de tantos anos de serviço prestados à paróquia.

— Vai demorar muito? – ele perguntou pela quarta vez, depois de checar o horário em seu Rolex. — Eu preciso supervisionar a pauta do programa.

— Poncho, pelo amor de Deus! A emissora fica a o que... vinte minutos daqui? – Angelique surgiu na frente do primo, toda vestida de branco, com um vestido que, claro, não era o que seria usado na cerimônia oficial, porque imagina a má sorte!

Trinta. – ele falou entre os dentes. — Sem tráfego.

— Mesmo assim... – respondeu cruzando os braços. — O pessoal é profissional. Eles não vão entregar uma pauta mal feita! A emissora pode esperar... Eu só vou me casar uma vez na vida! 

— Quem garante isso?

— Cala a boca! – ela falou séria, mas no fundo sabia que ele não estava dizendo aquilo por mal. Era apenas seu jeito. — Não deixe Sebastian ouvir isso! Ele já não vai muito com a sua cara... Sério, primo, quero que tudo saía como eu sonhei... como planejei.

— Você sabe que eu acho tudo isso uma grande perda de tempo, não sabe? – Alfonso perguntou, arqueando uma sobrancelha, enquanto checava novamente o relógio de pulso.

— Blá-blá-blá! Eu sei que você odeia casamentos, ok? – ele fez um gesto vago de desinteresse com a cabeça e bocejou. — Mas também sei que você me ama e eu não podia escolher outra pessoa pra ser nosso padrinho. Não podia pensar em alguém melhor do que você!

— Certo, certo. – Alfonso assentiu. — Mas onde estão essas damas de honra? Por que tanta demora? Se no ensaio já é assim... como vai ser no casamento?

— Quando falei com elas, estavam terminando as provas dos vestidos na agência. – Angelique respondeu, alisando o vestido, que embora não fosse o que ela escolhera, também era muito bonito. — Devem estar a caminho junto com a Maite.

— Maite?

— Maite Perroni! – ela respondeu, esperando que o sobrenome fizesse Alfonso recordar, mas aparentemente tudo o que tinha a ver com os preparativos do casamento, eram coisas irrelevantes para ele. — A decoradora da #BFF! Achei que tinha te contado. O trabalho delas é incrível... eu vi o book e fiquei impressionada! Ela vem hoje pra começar a pensar na decoração para a igreja.

— Era mesmo necessário contratar uma agência? – Alfonso perguntou, ficando de pé.

— Claro que sim! – Angelique respondeu quase ofendida, mesmo que seu bom humor quase nunca a deixasse se ofender de fato com o cinismo clínico de seu primo. — Assim não preciso me preocupar com nada, elas cuidam de tudo!

— Sei lá! – Alfonso deu de ombros. — Achei que vocês fossem viajar pras Bahamas ou algo assim, em vez de fazer uma festa super faturada.

— Alfonso... apesar dessa sua opinião formada sobre o amor e os casamentos... – Ela pausou para encará-lo. — Esse vai ser o dia mais feliz da minha vida, o que há de tão errado em querer reunir as pessoas que eu mais amo pra presenciarem essa felicidade?

— Eu sou realista. O amor é um sentimento tóxico que destrói tudo aquilo que toca.

— Essa é a última coisa que o amor faz, primo! – Angelique disse sorrindo. Ela sempre sorria como se conhecesse um segredo do qual ele não fazia parte. Todas as pessoas pareciam  felizes demais, sorridentes demais, perdidas demais. — Mas espere a Maite chegar com as damas... quem sabe eu até posso apresentar vocês dois e fazer você mudar essa ideia sobre o amor!

— Desista, Angel! – ele sorriu irônico. — Eu sou o que eles chamam de causa perdida!

O padre que passava ao lado de Alfonso naquele momento apenas lançou um olhar de recriminação  em sua direção. Bom, aquilo era bem melhor que os olhares de pena que ele percebia vindos da prima quando o assunto era a vida amorosa dele. Todos pareciam ter algo a dizer a ele naqueles últimos dois anos e tão de repente, sua vida amorosa que costumava ficar de escanteio, preservada como deveria sempre ser, tornara-se alvo de dissecação entre seus amigos e familiares. Ele não podia evitar os olhares de piedade, de solidariedade... e ele não queria nada daquilo! Tudo o que mais queria era ficar longe de todos e fingir que nada acontecera, mas nem isso o deixavam fazer. Sua vida agora era um circo público, um plebiscito, no qual qualquer filho da puta tinha direito a dar seu palpite.

— Nem todas as mulheres são como ela, Poncho. – e como sempre, Angelique o despertou do transe jogando sal na ferida. — Ela seguiu em frente, você deveria fazer o mesmo.


NOTA DA AUTORA

Eu tentei segurar a #BFF, mas tava explodindo de vontade de postar! Espero que todos gostem!
O foco da fic é a relação de amizade entres as três personagens principais: Anahí, Maite e Dulce... mas o romance vai ser bastante explorado e alguns pares não vão ser tão convencionais. A única coisa que eu sempre prometo e entrego é AyA, porque é a minha fraqueza, no mais, leiam e descubram!

xoxo

Alice

#BFF  - A fábrica de sonhosOnde histórias criam vida. Descubra agora