Capítulo Dezesseis

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Maite e Anahí estavam prontas para a noite das garotas, como elas mesmas chamavam quando saltaram do taxi em frente ao prédio onde Dulce morava. Haviam se decidido por fazer uma surpresa a amiga, para que ela não pudesse recusar o convite. Era visível na cara de Dulce que ela vinha trabalhando muito e se desgastando com os problemas pessoais. Ela precisava relaxar e ninguém melhor do que suas melhores amigas para ajudá-la naquela árdua tarefa.

— Boa noite, Rob! – Anahí cumprimentou o porteiro. — Dulce já está em casa?

— Já sim, quer que eu avise que vocês estão subindo? – ele já tinha o interfone na mão.

— Não será preciso. – Maite sorriu. — Queremos fazer uma surpresa!

O homem de meia idade sorriu cúmplice e as deixou subir. Como Dulce morava no quarto andar não demorou muito para que as duas chegassem até lá e aproximando-se da porta do apartamento da amiga, ouvissem os gritos e o som de vidro se quebrando. Anahí não hesitou, chutando a porta com toda a força que tinha; nessas horas ela agradecia os cinco anos de Muai Thai.

— QUE PORRA É ESSA? – ela gritou, quando viu a cena horrível diante de seus olhos; Dulce estava encolhida no chão, próxima a pia da cozinha, a mesa de madeira estava quebrada ao meio e tudo o que havia nela estava espelhado pelo chão: copos, pratos com comida, um vaso de flores.

— O QUE FAZEM AQUI? – Jack respondeu com uma pergunta, também exaltado. Ele estava de pé em frente a Dulce e ela tinha as mãos sobre a cabeça, como se temesse um novo golpe. Manchas roxas e amareladas se espelhavam por toda a extensão de seus braços.

— Annie... por favor, saia... isso não é nada. – Dulce falou e Anahí estava perplexa demais pra responder. — Nós vamos conversar... e resolver tudo.

— Ah, mas não vai mesmo! – Anahí disse, antes de puxar uma faca do chão. Pela lâmina parecia uma faca de cortar carne e ela segurou a faca com firmeza, olhando nos olhos de Jack. — Eu vou dizer como vão ser as coisas, ficou claro?

— MANDA ESSA VAGABUNDA LARGAR ESSA MERDA NO CHÃO, DULCE! – Jack berrou, completamente fora de si e Maite estremeceu atrás de Anahí. — MANDA ELA LARGAR OU EU NÃO RESPONDO POR MIM! EU ACABO COM A SUA VIDA, SUA CADELA E MANDO ESSAS DUAS VADIAS PRO INFERNO JUNTO COM VOCÊ!

Maite já chorava de medo junto com Dulce, mas Anahí não se intimidou.

— Mai, liga pra polícia agora. – ela falou, fingindo calma. Sua vontade era matar o maldito, mas ela sabia que aquilo não resolveria nada. — Você vai deixar a minha amiga em paz, ouviu bem? De hoje em diante, você vai sair dessa casa e esquecer que um dia teve a sorte de conhecer alguém como ela! Porque você não a merece! Você é um lixo e eu espero que a justiça seja feita.

— CALA A BOCA, VAGABUNDA!

— Não se aproxime de mim! – ela o ameaçou com a faca, mas ele não recuou. Enquanto isso, Maite discava o número da polícia com as mãos trêmulas.

— Jack... não faça isso, pense no nosso filho. – Dulce implorava, mas ele continuava caminhando em direção a Anahí.

— Essa cadela de nariz empinado precisa conhecer o lugar dela! – Jack estava pronto pra golpear Anahí e ela para se defender com a faca, quando Dulce pegou um prato da pia e com toda a força que conseguiu sumonar o quebrou contra a cabeça do agressor. Ele caiu ao lado de Anahí desacordado. E as duas correram uma na direção da outra se abraçando.

— O que esse animal fez com você, Dul! Por que não nos contou nada? – Anahí checava a amiga, buscando ferimentos, mas exceto pelas manchas na pele e pelo lábios rachado, nada parecia ser muito severo. Ela respirou aliviada, ainda que sentisse muita raiva.

— Eu tinha vergonha... eu não sabia o que dizer, me perdoe! – ela chorava contra o ombro da amiga.  — Eu ainda sinto vergonha! Não queria envolvê-las nisso tudo.

— Olha pra mim, amiga. – Anahí pediu. — Não tem nada porque se desculpar. Seu marido é um monstro abusivo e ele vai pagar por cada marca que deixou em você! Tanto as físicas quanto as emocionais! E você não está sozinha! Tem a mim, a Maite, todos da agência e tem seu filho! Julian precisa de você, precisa que seja forte nesse momento. Essa situação não pode continuar!

— Eu sei disso... eu adiei o inadiável! – Dulce disse, limpando as lágrimas. — Uma hora ou outra, isso ia se complicar... eu sempre achei que Jack ia mudar. Num dia, ele bebia e era violento e depois na manhã seguinte, ele me tratava com tanto amor e carinho...

— Todos eles fazem isso, amiga. É uma técnica que ajuda a manter o ciclo de abuso e agressão.
– foi Maite que falou, ela trazia um copo de água com açúcar na mão. — Toma, vai te fazer bem. A polícia está a caminho.

Anahí assentiu, passando o copo pra Dulce.

— Onde está Julian?

— Na casa de um amigo... ele foi ao cinema assistir o novo filme do Star Wars com a família dele e depois passaria a noite com eles. – Dulce explicou, depois de tomar a água.

— Quanto melhor. – Anahí suspirou. — Vamos ter que sair daqui... será que podemos ficar no apartamento de um vizinho até a polícia chegar?

— Acho que sim... a senhora do lado é um amor de pessoa. – Dulce sorriu fracamente. O inferno parecia estar acabando.

— Então vamos até lá. – Anahí sugeriu, ajudando a amiga a se locomover, já que ela sentia muitas dores na perna. — Trancamos o apartamento, assim será impossível ele fugir, caso acorde antes da polícia chegar.

— E o que eu vou fazer depois? – Dulce sentia ainda a angústia de sempre oprimindo seu peito. — Não tenho pra onde ir... meu pai não vai me aceitar de volta, você sabe disso!

Ela sabia.

— Não quero que fique sozinha em qualquer hotel ou apartamento, você vai ficar comigo, amiga. – Anahí disse, sorrindo. — Meu cantinho não é muito espaçoso ou confortável pra famílias, mas tem lugar pra você e pro Julian e vocês podem ficar lá o quanto precisarem! Eu fico muito feliz em poder recebê-los na minha casa!

— Nem sei como te agradecer, Annie! Eu te amo tanto, tanto! – os olhos de Dulce se encheram de lágrimas novamente e Anahí apertou a amiga em seus braços, transmitindo toda a força de seu ser naquele abraço, feliz em ouvir o carinho que Dulce sentia por  ela, sem sequer imaginar, que na verdade, Dulce a amava muito mais do que como uma amiga, ainda que nunca tivesse tido a coragem de dizer.

A polícia não tardou a chegar e quando isso aconteceu, Dulce explicou tudo e foi levada para que fizessem a perícia. Maite e Anahí não queriam que a amiga passasse por aquela situação tão embaraçosa, mas se aquilo era o necessário para colocar Jack atrás das grades, era o que a amiga tinha que fazer. Os exames mostraram o que já era evidente; Dulce vinha sendo constantemente agredida pelo marido e ele ficaria sob custódia da polícia até segunda ordem, mas teria o direito de contatar um advogado; já Dulce poderia entrar com um pedido de ordem de  restrição contra Jack e ela não postergou a daquela decisão, dando entrada imediata no pedido.

Era quase manhã, quando as três foram liberadas e voltando ao apartamento de Dulce, ajudaram a amiga a fazer as malas, levando tudo o que ela precisava, juntamente com as coisas de Julian para a casa de Anahí. No final, a noite das garotas, acabou não dando em nada; mas ensinando que na maioria das vezes ter amigos é tudo e que são eles que podem nos guiar pela noite escura e ajudar a enfrentar os demônios que surgem em meio a ela.

NOTA DA AUTORA

Capítulo filler importante para amarrar algumas pontas soltas e como assim? A Dulce gosta da Annie mais do que como uma amiga? BA BA DO!

No próximo capítulo, temos mais uma tentativa do Poncho e do Ucker de fazer essa matéria sair do papel? Será que eles marcarão um ponto pela primeira vez?

Continuem ligados! E não deixem de votar e comentar!

xoxo
Alice

#BFF  - A fábrica de sonhosOnde histórias criam vida. Descubra agora