Capítulo Trinta e Nove

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O nervosismo percorria toda a sala do tribunal. Dulce era confortada por Maite e Anahí, e Jack permanecia calado, enquanto seu advogado lhe dava instruções. O intervalo na sessão já durava vinte minutos.

— Que agonia! Parece que tudo isso não vai acabar nunca... – desabafou Dulce.

— Daqui a pouco saberemos a decisão da juíza e tudo vai ficar bem. – tranquilizou Maite.

Como se tivessem ouvido o que elas diziam, a juíza e mais algumas pessoas e guardas entraram na sala. Tomando seu posto, ela deu início a sessão:

— Boa noite, senhores. Em consequência de um pedido em caráter especial, resolvemos ouvir novas testemunhas nesse processo de guarda do menor Julian Saviñon Davies. – a juíza avisou no microfone. — Queira se aproximar, Irmã Louise.

Um burburinho sacudiu a audiência naquele momento e a religiosa entrou na sala, sob os olhares curiosos e atentos de todos os presentes. O coração de Dulce deu uma cambalhota em seu peito. Em nenhum momento ela pensou que fosse ter as freiras do colégio do seu filho depondo naquele processo.

— Irmã Louise Rodriguez está aqui em nome das outras freiras  do colégio La Paz, onde o menor Julian Saviñon Davies atualmente estuda. Seu nome não estava presente nos autos do processo até o presente momento, porém a pedido da própria Sra Rodriguez, que insistiu em dar seu depoimento, eu resolvi ouvi-la. – continuou a juíza, ajeitando seu óculos fino no rosto. — Ela se compromete a relatar apenas o que lhe cabe sobre o relacionamento entre o Sr Davies e Sra Saviñon, e seu filho Julian.

— Bom dia a todos. Quero dizer, antes de mais nada, que como serva da Igreja e de Deus, não é comum que eu possa dar meu testemunho. Sei que foge um pouco das regras que sigo, mas minha fé e meu caráter não permitem que eu veja uma injustiça ser cometida sem fazer nada para mudar isso. – disse a freira, olhando para Dulce, que tinha lágrimas nos olhos. — Eu disse que podia contar comigo, Sr Saviñon. Julian sempre foi um menino dedicado e amável e imagino que grande parte disso se deva a exímia educação que recebeu de sua mãe.

— Por que diz isso, Senhora? – questionou a juíza. — Não pressupõe-se que enquanto estavam vivendo sob o mesmo teto, ambos os pais tivessem responsabilidade pela criação e educação do filho?

— Me perdoe, meritíssima, mas quando trabalhamos em colégios, podemos ver as coisas de um ângulo diferente. A participação dos pais na vida escolar dos filhos é quase sempre muito pequena, pra não dizer nula. Permita-me cometer uma mundanidade, mas hoje, a maioria dos pais são apenas doadores do material genético, ficando ao encargo da mãe, todas as responsabilidades e fardos. Sabe quantos pais vem à escola dos seus filhos quando chamados? Sabe quantos frequentam reuniões de pais e mestres?

Anahí se mexeu inquieta no banco e Maite engoliu em seco.

— Essa era a relação de Jack Davies e seu filho, Irmã Louise? – perguntou a juíza.

— Eu não posso dizer muito sobre como era esse relacionamento em casa, mas posso relatar o que eu percebia. Em todos esses anos que Julian vem frequentando nosso colégio, seu pai nunca esteve em nenhuma reunião escolar, em nenhuma apresentação de fim de semestre, em nenhuma festinha. Em compensação, sua mãe nunca perdeu um evento da escola e nunca se negou a atender quando foi chamada. Seu relacionamento com seu filho é lindo de observar e se baseia em amor verdadeiro, respeito e confiança. Eu não acredito que possa haver nenhuma dessas coisas quando o pai abusa de substâncias e bate na própria esposa.

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