Capítulo Vinte e Dois

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Na manhã seguinte, Anahí acordou com uma terrível dor de cabeça que ela teria de lembrar de agradecer a tequila depois. Estranhou ao abrir os olhos e observar o próprio quarto. Dulce. Só podia ter sido ela. Era a cara da advogada ter trazido uma sonolenta Anahí para a própria cama depois do que haviam feito juntos. E se ela bem conhecia a amiga, ela devia estar preparando panquecas ou algo igualmente delicioso para as duas tomarem como café da manhã. Com isso em mente, Anahí levantou-se da cama, colocando suas pantufas de pata de monstro, que ela sempre usava sem qualquer ironia e foi até a cozinha a procura da amiga. Nada. Não havia sinal de Dulce em nenhum cômodo do apartamento. O estômago de Anahí fez um barulho alto, roncando como o motor de um carro de segundo mão mesmo e ela quase podia sentir o cheiro do bacon frito e dos ovos mexidos. Onde estaria Dulce?

Não se lembrava de ter dito nada que podia ter feito sua amiga ir embora assim do nada. Ou teria dito? Ou pior feito? Foi quando os olhos de Anahí pararam sobre o balcão da cozinha. Sobre a madeira estava um papel branco que parecia ter sido retirado de uma agenda.

Ela o abriu de forma afobada, sentando-se em frente a mesa redonda decorada para parecer um mapa-mundi. Anahí era metódica em tudo e extremamente prática, mas quando alugara aquele apartamento com seu primeiro salário, com o dinheiro que tinha conquistado com seu suor e esforço, ela se permitiu ser indulgente; por isso mesmo, cada canto tinha a sua cara. Ela se esmerou naquela decoração. Desde os livros na estante da sala até a mesa irreverente, que remetia a sua paixão por História. Tudo ali exalava sua essência... ou talvez a essência de quem ela era quando abriu sua empresa juntamente com as amigas. A essência de uma mulher apaixonada pela vida e por aquele a quem pensou ser o eleito do seu coração. O homem que a enganara e que a fizera erguer muros ao redor do próprio coração; muros mais altos que os picos do Everest e mais extensos que a Muralha da China. Anahí engoliu em seco, era dolorido pensar em como não restava nem a sombra da pessoa que pisou naquele apartamento pela primeira vez.

Ela abriu o bilhete resignada e sufocou um soluço ao ver a caligrafia de Dulce escrita em caneta preta.

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Annie, me desculpe por não ter esperado você acordar... E por não ter tido coragem de te dizer isso pessoalmente. Eu sempre fui tão covarde...

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A respiração de Anahí ficou trancada em algum lugar em sua garganta, mas ela conseguiu reunir forças e correr até o quarto extra onde Dulce o filho estavam hospedados. Abrindo o guarda-roupa, porta a porta, ela constatou sua suspeita: Nem as roupas de sua amiga, nem as de Julian estavam ali.

Dulce havia ido embora.

Com as mãos trêmulas, Anahí voltou a abrir o bilhete.

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Eu preciso de um tempo pra refletir sobre a minha vida e talvez colocar tudo no seu devido lugar. Sei que a agência precisa de mim, mas eu também preciso desse tempo pra mim mesma. Vamos pensar nisso como em um período de férias. Eu prometo que voltarei!

Queria deixar claro que isso não tem nada a ver com o que aconteceu ontem entre nós duas... ontem foi mágico... mas eu sei que você não sente o mesmo por mim, sei que não pode retribuir meus sentimentos.

Estarei de volta antes que vocês percebam, amo você e a todos na agência.

Com carinho,
Dulce.
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Anahí precisou sentar-se na cama, porque suas pernas começaram a ceder. Ela chegou a pensar que Dulce fosse se arrepender da noite que passaram juntas. Era de se esperar. Mas ela não esperava que ela fosse embora assim do nada. Sentia-se culpada por não ter percebido que a própria amiga havia se apaixonado por ela. Mas como ela saberia? Ela nunca tinha demonstrado nada, nunca dera um sinal de que sentia qualquer coisa que não fosse amizade por ela.

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