Capítulo Vinte e Nove

520 38 112
                                    

— Sabia que viria. – disse Samantha levantando os olhos do cardápio, assim que viu a figura de Alfonso parada diante da mesa.

— Não se anime. Eu só vim porque quero botar um ponto final nessa história toda. – ele sentou-se a sua frente. — Em nós.

Samantha sorriu.

— Nós? Então ainda pensa em nós dois juntos?

A vontade que ele tinha era de socar um muro. Não queria nada além de estar na sua aula de box dando ganchos e mais ganchos de esquerda no saco de pancadas, talvez aquilo aplacasse a sua dor ou poderia ir pra cama com a primeira mulher que aparecesse pela frente e abafar sua raiva enterrado dentro de uma boceta quente. Aquilo costumava funcionar.

— Não coloque palavras na minha boca. Eu não penso em "nós" do jeito que quer insinuar. Foi força do hábito. Se passaram dois anos, Samantha! Dois anos, porra! E agora, você aparece e quer agir como se nada tivesse mudado e quem sabe o que se passa nessa sua cabeça? Talvez nada realmente tenha mudado pra você, mas pra mim? Eu mudei! – sua voz baixou algumas oitavas então e ele desviou o olhar do rosto dela. — Você quebrou meu coração. Satisfeita?

— Poncho, eu...

A modelo fez menção de pegar a mão dele, mas ele a retirou como se tivesse levado um choque.

— Poncho? Você só pode estar brincando... – ele riu sarcástico.

— Você está bravo.

A risada cáustica de Alfonso encheu novamente o ambiente, chamando a atenção até mesmo de quem estava em outras mesas e Samantha sorriu sem jeito, murmurando um pedido de desculpas. Samantha e suas boas maneiras e etiqueta... era incrível como o que antes eram qualidades nela, agora pareciam defeitos.

— Eu estou bravo pra caralho. Estou furioso!

— Você tem razão. A forma como tudo aconteceu não foi a mais correta. – ela admitiu. — Mas você veio aqui... o que quer dizer que parte de você quer ouvir minha versão, está curiosa pra saber o que tenho a dizer.

— Samantha...

— Só me escute. – ela interrompeu. — O que disse ontem é a verdade. Se depois de me ouvir, não quiser olhar para a minha cara nunca mais, eu vou entender e te deixar em paz.

Alfonso se ajeitou na cadeira e olhou o celular. Nele havia uma mensagem de Anahí. Ele devolveu o aparelho de volta ao bolso e olhou para Samantha.

— Fala logo.

A modelo mordeu o lábio inferior e passou as mãos pelos cabelos.

— Por onde começar...

— Quer que eu te ajude? Que tal começar me explicando porquê eu peguei você e seu produtor, que você jurava que era gay, em um momento bastante íntimo na nossa cama?

— Você ainda a tem?

Alfonso inclinou a cabeça.

— O quê?

— A nossa cama.

Patético.

Ela era patética.

— Eu doei para um orfanato. O que mais esperava?

Samantha inspirou fundo, enchendo os pulmões de ar, tomando coragem. Aquele era o momento. Era por isso que tinha voltado a Santa Barbara, a cidade turística onde nada nunca acontece, como ela sempre dizia.

— Eu te amo, Alfonso. – a cara dele deveria ter sido filmada. — Sei disso agora. A distância realmente nos faz ver aquilo que mais importa.

#BFF  - A fábrica de sonhosOnde histórias criam vida. Descubra agora