Capítulo Quarenta e Dois

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Alfonso tinha saído da sala de Katherine quando ela colocou a reportagem finalizada no projetor. Ele tinha vontade de se enfiar no banheiro e não sair de lá nunca mais. Estava ansioso e com medo e era inútil dizer o contrário. Receber um sinal positivo da chefe significava mais para ele do que apenas conseguir uma promoção no emprego ou algo do gênero, aquela era sua chance de provar para Anahí que ele não era o canalha que ela pensava.

— Alfonso, faça o favor de entrar. – a voz imponente de Katherine fez o jornalista despertar de seus devaneios e abrir a porta.

Sem olhar a editora executiva da WWSB nos olhos, Alfonso esperou por seu veredito. Nunca um minuto custou tanto a passar.

— Sente-se, por favor. O que vamos falar, deve permanecer em total sigilo, compreende? – questionou a jornalista, indicando a cadeira a frente de sua mesa para que ele ocupasse. — Passei a última hora assistindo a reportagem sobre casamentos e confesso que a princípio quis te demitir pelo que fez. Você foi contra todas as normas da emissora, ao entregar uma reportagem exatamente oposta a pauta que apresentou a todos os seus colegas e a mim, sua superiora, em reunião...

— Sei disso, senhora e peço perdão. Eu precisava tentar. – ele levantou os olhos. — O que você presenciou foi alguém que mudou seu modo de ver as coisas. Eu sei que fiz errado em me envolver demais com a pauta... mas não pude evitar. Eu era um cínico, um cético... alguém que não acreditava no amor apenas porque foi ferido uma vez, mas mais do que isso, eu era um fraco. Achava que me ama escondendo por trás de uma imagem de Don Juan e na minha suposta aversão pelo casamento, eu podia evitar que o amor me alcançasse. Mas que cilada, não é mesmo? Tentando desmascarar o matrimônio, eu caí vítima fatal do amor.

— E não é a mesma coisa?

— Porra, não. Porque a mulher que eu amo vai se casar com outro cara e mesmo assim, não consigo parar de amá-la.

— E por isso você quer que eu leve ao ar, no meu programa mais importante, uma matéria cujo título é "O amor (ainda) está no ar, os muitos caminhos para o altar"? – Katherine arqueou uma sobrancelha, em desafio.

— Tá tudo bem se você não exibir a matéria... eu vou manda a cópia pra ela e quem sabe... receba seu perdão. Vou pegar minhas coisas e passo no RH.

Alfonso se dirigiu até a porta, mas na metade do caminho ouviu Katherine limpar a garganta com um pigarro. Girando nos calcanhares, a ouviu dizer:

— Você desiste tão fácil assim? Não é a postura que eu espero do diretor executivo da WWSB.

O queixo de Alfonso despencou.

— O quê? Achei que fosse me demitir...

— Apesar do seu pequeno ato de insubordinação, eu e meus sócios tivemos que admitir que você tem talento. Analisando os ângulos da filmagem, a fluidez, a montagem de cenas, a fotografia... tudo tem tanto esmero que é difícil crer que sua abordagem para a pauta mudou nas últimas semanas, a impressão que eu tenho é que você sempre quis retratar o que acabei de ver; o amor. É um pouco otimista e ingênuo... é verdade, mas talvez seja justamente isso que O Expectador esteja precisando, uma infusão de otimismo! Confesso que pra mim que acabei de sair de um casamento tumultuoso, é difícil acreditar no amor novamente... e sua reportagem me deu esperança! De que o amor existe em todas as suas formas, como numa espectro de cores... existe o amor que sentimos por nossa família, por um projeto, por uma causa, pelos amigos... é um sentimento tão abrangente e sua reportagem trouxe isso a tona de uma maneira incrível, meus parabéns!

— Por causa de uma matéria, pretende me promover a executivo chefe? Mas esse é o seu cargo!

A jornalista se levantou, encarando com orgulho seu escritório. Ela era dona da emissora inteira, porém era ali, naquela sala não muito grande, onde tudo havia começado. Tudo sempre a trazia de volta ao seu lugarzinho.

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