10 - MÃOS A OBRA

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     ─ Então, é aqui que pego minhas coisas? ─ ao entrar na sala de materiais.

     ─ Sim, tudo que pegar de materiais consumíveis, deve ser anotado neste livro grande aqui. ─ ele pega o livro e o sacode para eu ver.

     ─ Ok.

     ─ Você sempre anda com o seu carrinho para transportar o lixo, vassoura, pá, e os sacos plásticos. Você só varre e cata o lixo, mas se ver o chão sujo e precisar lavar, você desce aqui e pega o material para efetuar a limpeza, anota tudo não esquece, inclusive de anotar diariamente os pacotes de sacos, sempre que pegar novos. Se não usar todo o produto, deixe o resto no seu carrinho, precisou use-o até acabar.

     ─ Pode deixar Severino. ─ peguei o meu carrinho, que estava escrito Felipe e sai da sala em direção ao corredor.

     ─ Oi meu jovem. ─ disse um senhor de idade bem avançada, de macacão cinza e boné, que vinha descendo as escadas. Ele tem um cinto cheio de ferramentas e a sua roupa estava cheia de graxa.

     ─ Oi, o senhor que é o João? ─ parei o carrinho e estiquei a mão direita.

     ─ Sim, mas não posso apertar a sua mão, estou todo cheio de graxa. ─ ele mostra as duas mãos sujas. ─ Olha o elevador dá para usar normalmente agora, mas se tiver medo pode colocar o carrinho para subir nele e você pode ir de escadas.

     ─ É isso que vou fazer, boa ideia! ─ coloquei o carrinho, e acionei o botão do quarto andar.

     ─ Não tenha tanta pressa, caso ele desça, é só pedir o elevador lá no andar que ele sobe de novo. ─ ele disse ao me ver correndo para subir as escadas.

     ─ Tem razão. ─ parei com o meu velho sorriso no rosto e fiz o sinal de joia para ele. Depois ele virou-se e seguiu andando.

     ─ Seu João, o senhor tem que dar um jeito nesse elevador homem! ─ o Severino gesticula muito com as mãos e depois segura no macacão dele.

     ─ Severino, eu já fiz o orçamento e deixei com a chefe, mas ela disse que sem dinheiro não pode fazer nada agora. Acabamos de entrar no inverno, só vamos ter hospedes circulando por aqui no verão você sabe. ─ ele disse balançando o dedo indicador na direção dele.

     ─ Pois é, eu adoro o verão daqui, fica lotado de mulher gostosa! ─ com um sorriso sacana, ele vem vindo com outro carrinho de limpeza em direção ao elevador.

     ─ Severino só mais uma coisa, ao subir agora para descer o elevador eu vi uma falha no cabo de aço. ─ nesse momento o cearense fez uma careta horrível. ─ isso deve reduzir o limite de peso para no máximo pouco menos de 300 kilos por vez, acima disso haverá um risco muito grande do cabo se partir. Então eu vou aconselhar a dona Julha a fazer alguns papéis, informando que por segurança só podem utilizar o elevador duas pessoas no máximo por vez. ─ João vai seguindo para a sala da chefe.

     ─ Faça isso sim, depois a gente conversa.

     Fomos direto para o quarto andar e iniciamos a varredura, enquanto varríamos eu de um lado e o Severino do outro, ele me contava sobre as curiosidades do andar. Este andar possui alguns quartos passando por reparos e há material de construção guardado no quarto 401, sacos de cimento, azulejos, areia e etc... este quarto fica sempre aberto.

     Havia nesse andar apenas quatro quartos com moradores permanentes, sendo todos eles de pessoas com mais de quarenta anos, ou seja, o cearense me disse que eles eram muito chatos e reclamavam de tudo, cada um com suas manias e esquisitices particulares, inclusive dois destes moradores o Severino disse morrer de medo, a do quarto 403 que é uma bruxa e a do quarto 404 que é macumbeira.

     ─ Bruxa? Bruxa de verdade?! ─ perguntei eufórico, enquanto íamos colocando os dois carrinhos no elevador, fiquei bem curioso.

     ─ Bom dia Severino. ─ a senhora do 403, sai com dois sacos de lixo nas mãos.

     ─ Está vendo o porque eu tenho medo, foi só falar do diabo que apareceu o rabo! ─ cochichou comigo enquanto foi buscar os sacos dela. ─ Bom dia dona Sonia. ─ pegou os sacos e foi colocar no carrinho.

     ─ Hei rapaz, você é o novo funcionário não é? ─ perguntou para mim.

     ─ Sim, meu nome é Marcos, prazer em conhecê-la. ─ fui até ela e apertei a sua mão.

     ─ Hó meu Deus! ─ de repente enquanto apertávamos as mãos ela parece que entrou em uma espécie de transe, começou a suar frio, isso durou uns vinte segundos e foi muito estranho, ficava olhando fixamente para mim, mas era como se olha-se através do meu corpo, com aqueles olhos bem arregalados como se estivesse sonhando acordada, virando a cabeça de um lado para o outro lentamente, com caretas horríveis e não soltava a minha mão, ao contrário, a segurava bem firme.

     ─ O que houve dona Sonia?! Você não parece bem! ─ o Severino veio e me ajudou a leva-la para dentro de casa, sentamos ela na cama.

     ─ Obrigado meus filhos, mas não foi nada é que meu remédio para a pressão acabou, meu marido saiu cedo para comprar. Ele já deve estar chegando inclusive. ─ ela já estava recuperada, apenas permaneceu com a mão direita massageando o peito.

     ─ A senhora tem certeza de que está bem? ─ perguntei preocupado.

     ─Sim, estou bem. ─ ela me puxou pelo braço e cochichou no meu ouvido. ─ Você tem um coração muito grande, a vida aqui na Terra não lhe sorriu em momento algum, mas lembre-se disso meu filho, grandes guerreiros aqui na Terra precisam ser testados, só as grandes dificuldades despertam a sua força interior, fazendo deles maiores do que todos os outros e você está prestes a ter a maior de todas as provações de sua vida... prepare-se! ─ enquanto eu me afastava, ela ficou me olhando fixamente dentro dos meus olhos. 

Terror nas Montanhas do Itatiaia - COMPLETOOnde histórias criam vida. Descubra agora