Emma

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Emma acredita no amor.

Ela passou a acreditar nele aos quatro anos de idade, quando se apaixonou pela primeira vez.

Seus pais não a deixavam sair de casa à noite devido ao sereno e aos mosquitos — é o que acontece quando se tem um jardim que mais parece uma floresta. E, por mais inacreditável ou ridículo que possa parecer, foi naquela noite que ela a viu pela primeira vez. Até onde consegue lembrar, é claro.

Seus pais, Lisa Alihür e Tom Mendoza, estavam viajando e aquela era a primeira noite de ausência deles. Sua avó, Julieta Mendoza, estava tomando conta dela e de seu irmão mais velho, o pequeno Dillan.

Julieta não sabia que os mosquitos moravam tão perto de Emma. Ela não sabia que as janelas tinham de ser fechadas às cinco da tarde para que sua netinha ficasse sã e salva. Então, como estava calor, ela deixou todas as janelas bem abertas para que sentisse sobre sua pele enrugada o frescor do lado de fora.

E foi aí que, a já tão curiosa Emma, sentiu seu peito palpitar de curiosidade.

"Como era o anoitecer?"

"Como o céu fica depois que o Sol vai embora?"

Eram oito horas e ela queria ver o céu.

A janela era alta demais pra ela.

Ela podia ser só uma garota de quatro anos, mas, quando se tem quatro anos você não sabe que é tão pequeno assim. Quando se tem quatro anos o mundo cabe na palma da mão e, ainda assim, parece infinito.

Não seria uma janela alta que iria atrapalhá-la.

Seus braços, já com resquícios de que os mosquitos estavam famintos, arrastaram o baú de brinquedos até a parede rosada.

A parede rosada tinha o portal para o mundo de fora (a janela) mas, de acordo com Emma, era um portal meio errado, pois as pessoas não costumam passar por ele. Às vezes ela não entendia a utilidade daquele buraco na parede... Diferente da porta, não dava para atravessá-lo.

Hoje em dia, ela adora janelas e não gosta tanto assim de portas. Portas simbolizam entradas, mas também despedidas. E Emma não gosta de dar tchau.

Ela, sem jeito e ainda palpitante, colocou os joelhos na tampa do baú colorido. Apoiou suas pequenas mãos no vão, que se formou entre o baú e a parede, e subiu como se aquele baú fosse a montanha mais alta do planeta Terra. Por um milésimo de segundo, enquanto ficava de pé, ela pensou que talvez fosse pequenina demais para alcançar o portal, mas, como era com tudo naquela época, ela teve uma surpresa eufórica ao ver o lado de fora. Ela era grande o suficiente para isso.

Quem via do lado de fora só via seus olhos pretos da cor do escuro, suas sobrancelhas finas da cor de seu cabelo, também tão escuro como a noite, e seus dedos, que lhe davam a estabilidade que precisava. Não era possível enxergar seu sorriso, mas ele estava ali, de orelha a orelha.

Foi a primeira vez que Emma viu o céu em azul marinho, algumas estrelas e, o mais importante, foi a primeira vez que ela viu a lua!

"O que é aquilo no céu?"

"Se eu fosse um pouquinho mais alta, eu acho que poderia tocar!"

"Eu sinto que está sorrindo pra mim..."

Mas quem sorria, ainda, era ela.

Um olhar intenso, dúvidas e um sorriso espontâneo... É, Emma acabava de apaixonar-se pela lua.

Depois da Lua, a vida de Emma foi coberta de outras grandes paixões.

Ao completar cinco anos foi ao parque de diversões e se apaixonou pela roda gigante.

Uma História Sobre RecomeçosOnde histórias criam vida. Descubra agora